A gruta é mais extensa do que a gruta

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    terça-feira, abril 22, 2003

    O Pianista / Roma, Cidade Aberta

    Que o amor é um palito de fósforo riscado, abandonado numa enorme poça de mijo velho, isso todo mundo já sabe. Mas você sabia que o Danoninho de chocolate não é lá essas coisas?

    Pelo menos o segundo volume de “Monstro do Pântano”, de autoria do sr. Alan Moore, já está nas livrarias da plantação de inhame. Sim, mais um livro lindo, que compila oito histórias clássicas do fantástico personagem de Len Wein e Berni Wrightson. E, como se não bastasse, saiu também “Pecados Originais”, que traz as primeiras oito histórias solo de John Constantine, o Hellblazer (escritas pelo Jamie Delano _entrem no site do cara e leiam sua biografia, é de rolar de rir_, o melhor autor de toda a série até agora, na minha humilíssima opinião, e ilustradas pelo John Ridgway). O legal é que as histórias, no fundo, são sobre política. Preciso dizer que é muito bom?

    Falando nisso, há pelo menos uns vinte anos o sr. Polanski não fazia um filme tão bom quanto “O Pianista”. Claro que, se compararmos com maravilhas como “Repulsa ao Sexo” (o melhor e mais assustador), “O Bebê de Rosemary”, “Macbeth” e “O Inquilino” (alguém ainda vai querer falar de “A Dança dos Vampiros”), o vencedor da Palma de Ouro de 2002 e de alguns Oscars fica para trás, mas se lembrarmos de “O Último Portal”... argh!!!

    Mostrar (tentar, pelo menos), no cinema, os horrores da guerra sempre será pertinente. O holocausto judeu da Segunda Guerra ainda vai dar muito pano pra manga _quanto mais escarafunchadas forem as histórias de pessoas como Wladyslaw Szpilman, Anne Frank, Oskar Schindler etc., mais argumentos para filmes interessantes surgirão. É importante que continuem surgindo. Assim como é importante o papel social de figuras públicas como Susan Sarandon, Sean Penn, Martin Sheen e outros artistas de respeito, que ultrapassam a limitada idéia de nacionalismo para abraçar algo muito maior.

    Dito isto, o filme, uma produção com recursos de quatro países diferentes, traz cenografia, figurino, trilha sonora (ah, a trilha sonora...), blablablá, de qualidade. Adrien Brody, o homem das narinas gigantescas, está excelente como o pianista polonês que, mais por ação dos outros do que dele mesmo (é impressionante a passividade do personagem, ele passa o filme todo sem fazer absolutamente nada, só é salvo porque outros se empenham para fazê-lo), consegue sobreviver ao infame Gueto de Varsóvia. O Oscar foi merecido.

    Claro que o tema da Segunda Guerra me faz traçar um paralelo com “Roma, Cidade Aberta” (outro ganhador da Palma de Ouro), o filme de Rosselini que inaugurou o neo-realismo italiano. Lançado em 1945, ano em que a guerra acabou (a obra traz, no início, o aviso de que “qualquer semelhança é mera coincidência”, mas, neste caso, não era bem verdade), é um trabalho que mantém sua atualidade _não é à toa que é considerado um clássico.

    Uma cena, longe de ser a mais famosa da produção, me chama a atenção: um oficial alemão, que não participa tanto das orgias de tortura promovidas pelos colegas, prevê a derrocada dos nazistas, fala em genocídio e em ódio _o que me lembra também uma cena do filme de Polanski, quando são mostrados os alemães derrotados, e os poloneses vão à forra (outra cena registrada por Rosselini que muito me lembra “O Pianista” é a seqüência de abertura de “Alemanha, Ano Zero”, de 1948: um exemplo de onde Polanski se inspirou para recriar a Varsóvia arruinada com a qual Szpilman se depara). Outros destaques são, obviamente, Anna Magnani (que brilharia mais vezes, em filmes de Rosselini e de Jean Renoir, entre outros) e a frase dita por Don Pietro, que, para mim, resume bem a mensagem da obra: “Não é difícil morrer bem; viver bem é que é difícil”.

    O Pianista: 8,5/10
    Roma, Cidade Aberta: 9/10

    P. S. Para falar um pouco mais deste gigante cinematográfico que foi Rosselini (procurem por “Viagem à Itália”, outro clássico), leiam as seguintes palavras do Federico, um rapazola que deu uma ajudinha no roteiro de “Roma, Cidade Aberta” (os seguintes trechos foram retirados do livro “Fazer um Filme”, lançado pela coleção Oficina Interior, da editora Civilização Brasileira, o qual eu também recomendo):

    “Seguindo Rosselini enquanto filmava ‘Paisà’, tudo me pareceu claro de repente, uma feliz revelação, a de que se podia fazer cinema com a mesma liberdade, a mesma leveza com a qual se desenha e se escreve, era possível realizar um filme se divertindo e sofrendo dia após dia, hora após hora, sem muita angústia com relação ao resultado final (...). Rosselini procurava, seguia o filme no meio da estrada, com os tanques dos aliados que passavam a um metro de nós (...), com toda espécie de problemas, autorizações revogadas no último momento, programas não cumpridos, misteriosos desaparecimentos de dinheiro, na ciranda rumorosa de produtores improvisados sempre mais ávidos, infantis, mentirosos, aventureiros.
    ...É isso, parece-me que com Rosselini aprendi (...) a possibilidade de caminhar em equilíbrio no meio das condições mais adversas, mais contrastantes e, ao mesmo tempo, a capacidade natural de usar em benefício próprio essas adversidade e esses contrastes, transformá-los num sentimento, em valores emocionais, num ponto de vista. Rosselini fazia isso, vivia a vida de um filme como uma aventura maravilhosa que deve ser vivida e contada. Seu abandono nos confrontos com a realidade, sempre atento, límpido, fervoroso, aquela sua forma de se situar com naturalidade num único ponto impalpável e inconfundível entre a indiferença do distanciamento e a falta de habilidade da adesão, permitia-lhe capturar, fixar a realidade em todos os espaços, olhar o interior e o exterior das coisas, desvendar o que a vida tem de inalcançável, de misterioso, de mágico. Por acaso o neo-realismo não é isso? Daí, quando se fala de neo-realismo, só se pode falar de Rosselini. Os outros fizeram realismo, verismo ou tentaram traduzir um talento, uma vocação, numa fórmula, numa receita.”

    quinta-feira, abril 17, 2003

    Arca Russa / De Volta das Cinzas

    Your lovin' gives me a thrill... but your lovin' don't pay my bills.

    O negó é o segui: algumas vezes já falei de dois (e até mais) filmes em um texto só. Comparar é legal (eu havia escrito uma explicação enorme aqui, mas preferi deixar de frescura e simplificar). Então, como este site acabou de entrar em seu segundo ano, clamando por reformas, companheiros, daqui pra frente vou (tentar) mandar bala em dois filmes (que sempre estarão ligados de uma maneira, embora nem sempre isso seja óbvio) de uma vez só. Vamos ver se funciona.

    Ah, “Arca Russa”. Ouvi falar do filme de Aleksandr Sokúrov (diretor de “Moloch”, entre outros, que veio lançar o filme no Brasil, ano passado, na Mostra de São Paulo) lendo um artigo do Alcino, que, se bem me lembro, o viu em Paris, há cerca de um ano. Um longo plano-seqüência (mais de uma hora e meia de duração) dentro de um museu que aborda os últimos séculos da história da Rússia. Soa insuportavelmente chato? Mas que nada!

    É, eu adoro a Rússia. Morro de vontade de visitar Moscou e São Petersburgo. Lógico que o meu amor pelo país veio da literatura, em especial a oitocentista. Sim, eu sou um homem do século XIX. “Crime e Castigo” mudou a minha vida. Quem nunca leu “Guerra e Paz”, “Anna Karenina”, “Os Irmãos Karamázov”, “O Idiota” e outros, não sabe o que é bom. Dá até vontade de aprender russo só para ler essas belezas no original.

    E, no entanto, conheço tão pouco o cinema da Mãe Rússia. Basicamente, se bem me lembro, assisti apenas a alguns Eisenstein, como “O Encouraçado Potenkim” e “Outubro”, há muuuito tempo. Mas isso vai mudar, em breve.

    Então, “Arca Russa” é lindo. O título faz muito sentido: o filme é um rio. A câmera navega pelo magnífico museu/teatro/palácio Hermitage, em São Petersburgo, e desemboca no mar (um final sublime, ui). Durante o trajeto, somos guiados por um estrangeiro, que, inadvertidamente, nos mostra a história recente do maior país da Europa, através de seus salões (com quadros de Reubens e Van Dyck, entre outros) e das personagens de diversas épocas.

    Adicione belos diálogos (é uma maravilha ouvir a língua russa e saber que dá para entender algumas palavras), uma trilha sonora lindíssima (o som do filme é excelente, assim como sua fotografia, figurinos e direção de arte) e o justo deslumbre com o feito técnico (o plano foi ensaiado durante quase um ano, antes de a filmagem começar) e pronto: taí um grande passeio.

    Agora passe uma borracha nos neurônios, pois aí vai um filme quase igual, mas completamente diferente: “De Volta das Cinzas” (“Return from the Ashes”), lançado em 1965 pelo britânico J. Lee Thompson (morto há menos de um ano), diretor de clássicos como “Os Canhões de Navarone” e a versão original de “Cabo do Medo”, que o nosso amigo desoscarizado Scorsese refilmou. Curto e grosso: o filme é foda.

    Ambientado em Paris, conta a história de Michele Wolf, uma linda e viúva médica judia (a sueca Ingrid Thulin _uma das atrizes preferidas de Bergman_, excelente) que, após se casar com um interesseiro campeão de xadrez (o austríaco Maximilian Schell, canastríssimo), em 1940, é mandada para o campo de concentração de Dachau. Todos, seu marido, sua enteada (a inglesa Samantha Eggar, lindíssima _é ela a raptada de “O Colecionador”, de William Wyler, lançado no mesmo ano) e seu melhor amigo (o tcheco Herbert Lom _Herbert Charles Angelo Kuchacevich Schluderpacheru para os íntimos_, mais conhecido por interpretar o hilário nêmesis do Inspetor Clouseau na série “A Pantera Cor-de-Rosa”) pensam que ela está morta, mas, anos depois, ela retorna.

    A princípio, a dra. Wolf não deseja que seu marido a veja no estado debilitado em que se encontra; por isso adota uma falsa identidade (lembra “Vertigo”, a princípio), mas acaba sendo vista pela enteada, Fabienne, que avisa o enxadrista Stanislaus Pilgrin _a propósito, agora eles são amantes e estão de olho na fortuna que Wolf herdou com o extermínio de todos os seus outros parentes.

    Mas, neste filme, nada é como parece e nada sai como a gente pensa. Quando achamos que já delineamos o rumo que a história irá tomar, ela nos surpreende por completo. Eu mesmo só fui descobrir quem, afinal de contas, era o vilão, nos últimos minutos da obra. E olha que não se trata de um “whodunit”: todas as ações dos ardilosos personagens são mostradas com clareza... Sem dúvida, um dos melhores thrillers que já vi (estranhamente, o filme nunca foi um sucesso de crítica). Alugue correndo e divirta-se com esta maravilha em preto-e-branco, politicamente incorreta e ousadíssima para sua época. Hasta.

    Arca Russa: 8,5/10

    De Volta das Cinzas: 9,5/10

    P. S. OK, segundo ano de site, temos a obrigação de mostrar coisas novas (tá, não temos, mas mostramos assim mesmo). Então está lançada a série "Women in Porn". A regra é clara: se você possui ovários, assistiu a um filme pornô, escreveu uma resenha e faria de tudo para vê-la publicada aqui (inclusive um teste do sofá básico _garanto que é legal), é só mandar um e-mail para o sempre alerta heybabyxxx@hotmail.com. Quem inaugura a putaria é a primeira e única Dani Bee:

    "Fantasias Colegiais 2 (Freshman Fantasies 2): O elenco masculino é representado por Alex Sanders, Peter North, Valentino e Sean Michaels (um desses é famoso, porque meu namorado fez um comentário tipo 'ah, é com esse cara'). As mulheres são Randi Lee, Kim, Toni James e uma bizarra chamada Nicci Neels. São várias situações de sexo explícito, porém nenhuma delas se passa na sala de aula. A primeira historinha é uma loira ninfeta com um negão de 2m de altura com o membro proporcional, e é a mais normalzinha, curti. Eles se encontram num apartamento e fazem coisas básicas. Só é meio foda [grifo do editor] uma parte em que a loirinha fica numa posição incômoda, com aquele negão gigante em cima dela, mas, enfim, ela deve estar acostumada com esse tipo de coisa. A segunda é um casal meio sujinho, o cara é artista plástico, cabelo comprido, e a mulher, uma loira tipo Marilyn Monroe, mas parece que eles não tomam banho há meses, quase dá pra sentir a nhaca. É bobinho, eles transam, e depois a mulher desenha um pau (pênis é coisa pro Pasquale) na tela que o cara tava pintando antes de rolar o clima. O terceiro casal é bem esquisito, o cara se mexe tipo o Fagner cantando, dá umas tremidas, deus me livre. Ele não tem a manha, é muito afobado e dá até pena da mulher (que é uma morena bonita de sainha colegial, a única coisa que se aproxima do tema do filme). Sem falar que, além de afobado, o cara é o demo chupando manga, mó exu. Ele é tão descontrol que nem percebe que a mulher tava doida pra acabar logo, nem tava curtindo. O quarto casal é o cara famoso e uma mulher um pouco mais velha do que as outras, deve ter uns 30. Essa dá muito nervoso, porque, além de ela fazer umas coisas que eu preferia não ter visto, é daquelas americanas que têm unhas gigantes e nojentas, faz umas caras bem enjoadas e enfia a unha na boca toda hora, tá mais pra fantasia sexual do Zé do Caixão (que eu tenho nojo também). O último casal é com a bizarra. A tal da Nicci Neels é uma sujinha toda tatuada, e o cara, um loiro que lembra o irmão do Supla. Ele deve ser tipo o galã dos filmes eróticos, é o menos feio de todos. Eles começam transando num banco de madeira, atrás de uma casa. Eis que, no meio do negócio, a polícia aparece (de verdade) e dá até pra ouvir um 'what's going on here?'. A bizarra olha pra trás, e o filme é cortado. Eles então aparecem num apartamento transando no sofá, e o cara, enquanto come a bizarra, vai explicando o que rolou. Parece que os vizinhos ouviram uns berros (além de sujinha, ela é histérica) e chamaram a polícia. A produção teve que arrumar um lugar pra terminar a cena, e eles acabaram na casa do clone do irmão do Supla, por falta de opção. Trash metal.
    Nota: 7/10.(unhas gigantes: -1 ponto; bizarra sujinha: -1 ponto; cena que eu preferia não ter visto: -1 ponto; o exu que não sabe transar: -1 ponto; a polícia chegando: +1 ponto).
    Obs: sexo não combina com Fagner, Zé do Caixão, unhas enormes (meninos, cortem as unhas do pé);
    Obs 2: sexo combina com João Suplicy e Supla.
    Obs 3: eu não lembro se tem música no filme.
    Obs 4: Meu namorado comprou a revista DVD por R$14,90, e veio o filme de brinde. Fazer o que, néam?

    segunda-feira, abril 14, 2003

    Retrospectiva: um ano na tela

    Hoje, este espaço completa um ano de existência. Para comemorar, atendo a um pedido antigo dos freqüentadores deste espaço: uma lista com tudo que foi comentado aqui, neste primeiro ano de atividade (que é dedicado com todo amor e carinho à Vanessa, autora deste template, que me acompanhou em muitas sessões de cinema).

    Abril

    Snatch - Porcos e Diamantes
    Pollock
    Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar para Ela
    O Exorcista (versão do diretor)
    Gimme Shelter
    Quase Famosos
    O Lixo e a Fúria
    Shrek
    Profissão de Risco
    Evolução
    A Comilança
    Copacabana
    Planeta dos Macacos (versão de Tim Burton)
    Final Fantasy - The Spirits Within
    Memórias Póstumas
    Bufo & Spallanzani
    Amnésia
    Concorrência Desleal
    Inteligência Artificial
    Moulin Rouge
    O Dom da Premonição
    Velozes e Furiosos
    Festival Troma on Parade (O Acampamento do Macho, Espreme-espreme no Beisebol e Garçonetes em Ação)
    A Espinha do Diabo
    Os Queridinhos da América
    Liam
    Fama para Todos
    Hedwig - Rock, Amor e Traição
    Refém do Silêncio
    A Conspiração
    O Xangô de Baker Street
    A Cartada Final
    Os Outros
    A Sombra do Vampiro
    LavourArcaica
    E Tua Mãe Também
    Harry Potter e a Pedra Filosofal
    A Bruxa de Blair

    Maio

    Vida Bandida
    História Real
    Latitude Zero
    O Quarto do Filho
    A Bruxa de Blair 2
    Onze Homens e um Segredo
    Homem-Aranha
    O Homem Que Não Estava Lá
    O Poder Vai Dançar
    Assassinato em Gosford Park
    Os Excêntricos Tennenbaums
    E. T. - O Extraterrestre
    O Invasor
    Apocalypse Now Redux
    Memórias
    A Última Ceia
    Dia de Treinamento
    Abril Despedaçado

    Junho

    Cidade dos Sonhos
    Especial Dee Dee Ramone
    Promessas de um Novo Mundo
    Italiano para Principiantes
    Cecil Bem Demente
    Quanto Mais Quente Melhor

    Julho

    Quarto do Pânico
    ABC África
    O Ataque Dos Clones
    Janela da Alma
    Lilo e Stitch

    Agosto

    A Soma de Todos os Medos
    8 Mulheres
    Cidade de Deus
    Um Corpo Que Cai
    Minority Report – A Nova Lei
    O Escorpião de Jade
    Um Dia Muito Especial

    Setembro

    Uma Vida em Segredo
    O Terror das Mulheres
    O Assalto
    Terra em Transe
    Insônia
    Um Grande Garoto

    Outubro

    Houve uma Vez Dois Verões
    Lucía e o Sexo
    Sinais
    Eraserhead
    O Articulador
    Rocha Que Voa

    Novembro

    Fora de Controle
    Rio Vermelho
    A Teia de Chocolate
    Madame Satã
    48 Horas

    Dezembro

    O Casamento Grego
    Doze Homens e uma Sentença
    Dívida de Sangue
    Paraíso
    Edifício Master

    Janeiro

    Full Frontal
    A Missão
    O Filho da Noiva
    Ônibus 174
    A Noite Americana
    Sangue de Pantera

    Fevereiro

    O Pai do Povo
    Let It Be
    Os Palhaços / A Estrada da Vida
    Os Cafajestes / Navalha na Carne
    O Grande Ditador

    Março

    O Chamado
    Femme Fatale / Um Tiro na Noite
    Rocky – Um Lutador / Rocky II – A Revanche
    Adaptação
    Gangues de Nova York

    sábado, abril 05, 2003

    Deus É Brasileiro

    É, Deus é brasileiro. Pela lógica, deve ser palmeirense também.

    Mas Cacá Diegues é um cara que merece respeito mais pela constância do que pela qualidade da obra. Que bom que ele tem conseguido filmar longas com certa regularidade, desde os anos 60, tendo atravessado épocas brabas, como a do fim da Embrafilme (governo Collor, lembram?). O Brasil precisa de cineastas com obras extensas _qualidade é ótimo, mas quantidade também não seria nada mal.

    Falando em qualidade, o seu Carlos Diegues às vezes dá uma dentro... mas nem sempre. Seu grande acerto continua sendo “Bye Bye Brasil” _a melhor coisa que o Fábio Jr. fez na vida. “Deus É Brasileiro”, infelizmente, é bem xexelento. E olha que eu até gostei de “Orfeu”, apesar de ter a bunda do escroto do Toni Garrido (entrevistei o Cidade Negra uma vez, e o dublê de Angélica ameaçou um colega meu de surra, vai vendo o caráter da boneca _epa, agora ele e a turminha vão querer me pegar de porrada também...).

    Então, “God Is Brazilian” é uma produção de primeira, cinemão mesmo, Hollywood in Brazil. Locações lindas, fotografia extasiante de Afonso Beato (aquele que trabalhou até com Almodóvar), figurinos caprichados... tudo em excesso. É como o Xico Sá disse há alguns dias, no programa do João Gordo: o cinema nacional anda mostrando um sertão bonito demais... não existe esse glamour todo na vida real, não.

    Tá, mas cinema é fantasia, e eu realmente não sou de ficar cobrando verossimilhança de artista nenhum _isso seria, no mínimo, ridículo. Então o fato de existir uma sertaneja tão bonitinha quanto a Paloma Duarte não me incomoda (e olha que tem até Deus, metido a mágico, no filme...).

    Se a produção excessiva nem é o grande problema do filme, então qual é? Bem, todo o resto. “Deus É Brasileiro” não traz grandes interpretações (Wagner Moura, que aparece também em “Abril Despedaçado”, está OK, mas só), não traz grande roteiro (apesar de ter sido baseado em uma obra interessante de João Ubaldo Ribeiro, um cara bastante adaptável para o audiovisual), não traz praticamente nada _só público para o cinema, o que é ótimo, diga-se (é importante frisar que eu nunca torço contra, eu quero mais é que os filmes brasileiros batam recordes de bilheteria, é praticamente uma obrigação moral).

    É claro que dizer que o filme não tem conteúdo seria um exagero. Mas, para mim, o desequilíbrio entre forma e conteúdo neste filme é gritante, ainda mais quando Diegues deixa para trás a capacidade de emocionar que a obra de João Ubaldo possui para se limitar a uma comédia fraquinha, apoiada nos chiliques da personagem de Moura. A versão para a TV (uma produção pobre, apesar de ser da Globo), que trazia Lima Duarte no papel de Deus e Tony Ramos como Quincas das Mulas (ambos brilhantes) e que possui uma belíssima cena de milagre em um prostíbulo (ausente no filme), dá de trezentos milhões a zero. E que Quincas das Mulas vagabundo o filme de Diegues recriou, hein? Mesmo o geralmente ótimo Antônio Fagundes decepciona no papel do Criador... Pelo menos a trilha sonora é interessante, trazendo até uma participação especial do Cordel do Fogo Encantando... argh, mas tem Djavan!!! Bye, bye.

    Nota: 5/10

    P. S. Reitero aqui a recomendação que fiz nos comentários: não deixem de assistir a “Durval Discos” e a “2 Perdidos numa Noite Suja”, muito melhores do que o filme do Diegues. Voltaremos a falar de ambos no futuro próximo.

    P. P. S. Mais uma dica, esta, fundamental: está nas bancas um livro chamado “A Balada de Halo Jones”, de autoria de Alan Moore (roteiro) e Ian Gibson (ilustrações). É absolutamente MA-RA-VI-LHO-SO, imperdível, emocionante. Vão correndo comprar! O preço é salgadíssimo, mas, acredite, vale cada centavo. É a melhor coisa que o bruxo de Northampton já escreveu _e uma das melhores HQs que já li. Tá esperando o quê? Vai, VAI!

    Na platéia