Gangues de Nova York
Cocococococoró, cocococococoró. O galo tem saudade da galinha carijó.Então “Gangues de Nova York” foi esnobado pela tal da academia, certo? Daniel Day-Lewis era o favorito para o Oscar de melhor ator e perdeu para a zebra Adrien Brody, de “O Pianista”. Dez indicações, nenhum prêmio. Martin Scorcese foi focalizado pelas câmeras do evento várias vezes, sempre com um certo ar de “o-que-é-que-eu-tô-fazendo-aqui?”.
Quer saber? Eu acho legal. Scorcese não precisa do reconhecimento da academia de Hollywood. Ele já entrou para a história faz tempo. Nem acredito que se incomode por não ter papado uma batelada de estatuetas. O culto que existe em torno dele (já fizeram até música sobre seus filmes) tem mais valia.
E só mesmo Scorcese (que faz uma figuração sem falas, como um aristocrata à mesa de jantar) poderia dirigir um filme (de três horas de duração, mas que passam rapidinho) intitulado “Gangs of New York”. É a cara dele. E o legal é que não se trata de mais um filme de máfia... opa, não mesmo?
Senta, que lá vem a história: em meados do século XIX (1846, para ser mais exato), um grupo (ou melhor, uma matilha de gangues) que se denomina “nativistas” (os “verdadeiros americanos”, que “deram o seu sangue por esta terra”, como diz Bill "The Butcher" Cutting, a personagem de Day-Lewis, líder desta facção) trava uma guerra contra os imigrantes irlandeses, liderados por Liam Neeson, um religioso. A tal guerra é no melhor estilo tribal (remete, de certa forma, a “Coração Valente”) e possui uma espécie de “código de honra”: a batalha é discutida com antecedência entre ambas as partes, as armas são escolhidas, horário e local são marcados, e a luta pára assim que o líder de um dos lados cair.
Bem, não vou estragar a história (até porque a maioria já deve ter visto o filme) se eu disser que o grupo do Pastor Vallon perde a batalha, porque é aí que se delineia a saga de Amsterdam Vallon, o personagem de Leonardo Di Caprio, que dedicará sua vida a vingar a morte de seu pai. Neste ínterim (durante o governo Lincoln, época da Guerra de Secessão, início da década de 60), ele acaba trabalhando para o próprio Bill The Butcher, caindo em suas graças _o que é bastante interessante parta a história, pois tira um pouco do caráter “heróico” da personagem. E, para apimentar um pouco mais o “plot”, Amsterdam se envolve com Jenny Everdeane (Cameron Diaz, não muito glamourosa), punguista, puta e ex-amante de do açougueiro.
Apesar de ser uma puta história (com os tradicionais mocinho/mocinha/bandido _sim, Scorcese não foge muito do padrão), o que interessa mesmo em “Gangues de Nova York” é o seu pano de fundo, que lhe dá o caráter de “épico de formação de um povo” (“A América nasceu nas ruas”, diz uma das frases de promoção do filme), uma tradição do cinema norte-americano, iniciado por D. W. Griffith e seu “Nascimento de uma Nação”, de 1915. E o mais legal do filme (à parte a esplendorosa atuação de Day-Lewis _outro destaque é Brendan Gleeson, ex-professor que se tornou ator há menos de 15 anos, tendo participado de “Braveheart” e de filmes de Jim Sheridan, John Boorman, Danny Boyle, John Woo e Steven Spielberg, entre outros, aqui no papel de Monk) é seu contexto político, mostrando o dilema da conscrição (alistamento militar obrigatório para quem não pudesse pagar a monstruosa, para a época, quantia de US$ 300) e, mais do que isso, como a guerra pelo domínio das Cinco Pontas é ridícula perto da guerra que está rachando o país. Ah, falando em guerra...
Nota: 8/10
P.S. Achei absolutamente do caráleo o Eminem ter levado o Oscar de melhor canção _e chutado os traseiros gordos do U2, que concorria com a chatinha “The Hands that Built America”, tema deste filme. E o cara ainda não foi à cerimônia, hahaha...