Abril Despedaçado
Depois do êxito de “Central do Brasil”, que consagrou o Walter Salles (responsável por “Terra Estrangeira”, um dos piores lixos que vi na minha vida _vi, vírgula, porque não agüentei até o final da bomba), obviamente sua próxima obra seria cercada de certa expectativa.Então, se não estou enganado, lançaram “Abril Despedaçado” (inspirado em um romance do escritor albanês Ismail Kadaré) em um prestigiado festival europeu (o de Veneza), esperando nova consagração, mas o único prêmio foi dado por um júri composto de crianças, o Leãozinho (“góstio múintio di vosssêê”...) de Ouro...
Aí é feita toda uma orquestração para que “Abril” (mais uma produção da “puta velha” Arthur Conn, que tem alguns Academy Awards no bolso) seja indicado para o Oscar de melhor estrangeiro (ocorreram protestos por filmes bem melhores, como “LavourArcaica”, terem sido preteridos), fazem uma única exibição na Bahia, com uma versão ainda incompleta da obra (é como ouvir um disco antes da mixagem final, sabe?), e o resultado é: nada, apenas uma indicação para o Globo de Ouro (não, não é aquele programa onde o RPM e o Kiko Zambianchi, que, oh my god!, voltaram!, tocavam, nos anos 80).
Bem, vamos ignorar tudo isso, pois o Brasil é o país do futebol, e falar apenas do filme: é fato que “Central do Brasil” é superior, antológico como “Abril” não consegue ser.
“Abril” é todo certinho. Filmado em locação, com boa fotografia, cenografia, figurino etc. Bons atores, como o já consagrado José Dumont, e o jovem, porém premiado (por “Bicho de Sete Cabeças”), Rodrigo Santoro (que, apesar de tudo, ainda é lembrado como o ex da Luana Piovani), além dos estreantes Ravi Ramos Lacerda (o Menino, ou Pacu) e Flavia Marco Antonio (coisa linda, vem conhecer minha cama elástica).
Walter Salles evoluiu claramente e aprendeu as lições do novo “cinema nacional de qualidade”. Não busca ângulos de câmera “espertos”, mas não consegue impedir que Rodrigo Santoro, mesmo todo sujo, ainda tenha certa pinta de galã.
E é lógico que tinha que ter um menino _e Ravi está muito bem no papel de caçula dos Breves, que brigam com a família vizinha pela posse de terra, no final da primeira década do século XX. Escolhê-lo como narrador da história foi um acerto, e o filme poderia ter ganho tons mais fantasiosos por causa disso.
O enredo é muito simples: o irmão mais velho de Tonho (Santoro) é morto; a tradição pede que ele seja vingado; ao matar o assassino do irmão, Tonho, por sua vez, torna-se marcado para morrer. É quando ele conhece dois artistas de circo...
O ponto mais interessante de “Abril” é justamente a concisão, que dá um toque claustrofóbico ao filme (neste sentido, lembra um pouco o ainda mais radical “Latitude Zero”), bem diferente do road movie mais relaxado que é “Central”. Mas não foi desta vez que Salles, talvez o cineasta brasileiro mais respeitado atualmente no exterior, superou seu grande hit.
Nota: 7/10