A gruta é mais extensa do que a gruta

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    domingo, dezembro 29, 2002

    Edifício Master

    Votuporanga tem um céu... inacreditável. Os paulistanos não sabem o que estão perdendo.

    Mas... então. Fim de ano é sempre a mesma coisa (a não ser que você esteja trabalhando em jornal diário): desligamento quase total. Nada de jornal, internet, telefone, TV etc. Só comida abundante, família, viagens. E etc.

    Daí que, ao voltar das festividades natalinas (neste ano, mais uma vez em Ribeirão Preto, casa dos meus primos Baw e “Superférias” Kbça _encontrei o Kiko Zambianchi no shopping, mas que coisa), fico chocado ao ler, na Discoteca Básica, que Joe Strummer morreu.

    Simplesmente não há palavras para descrever a importância desse cara na minha formação. Logo agora que ele estava voltando com tudo, com uma banda batizada com o exato nome do meu antigo bloco de Carnaval (Mescaleros), ele morre de ataque cardíaco aos 50 anos...

    R. I. P. Joe.

    Mas o legado do cara está em sua obra, e a vida continua. Falando em vida e obra, Eduardo Coutinho está entrando para a história como o maior documentarista do país. Veterano (entre muitas outras coisas, trabalhou anos no “Globo Repórter”, na época em que o programa ainda era feito em película), ficou muito tempo sem filmar, mesmo tendo emplacado uma obra-prima, “Cabra Marcado para Morrer”, considerado, em pesquisa recente, o melhor filme-documentário feito no Brasil.

    Coutinho (tive o prazer de ouvi-lo pessoalmente em mais de uma ocasião, nas quais pude testemunhar seu senso de humor e de ética) criou um método próprio de documentário: em vez daquele formato clássico de narração em off ilustrada por imagens e pontuada por entrevistas, ele ouve e retrata personagens, que são dispostos no filme um de cada vez, sem divisão temática. É, grosso modo, “cinema de gente”.

    E gente é a matéria-prima também de “Edifício Master”, seu filme mais recente, que assisti no dia 20 de novembro passado, com a presença do diretor. Mas também dizem que Coutinho pratica um “cinema de ouvido”, já que as vozes de seus personagens é que dão o tom de suas obras. O próprio documentarista classificou seu filme como “polifônico”... Uma obra que ouve as razões de seus personagens, mesmo quando não lhes dá razão. E que não traz outra trilha sonora que não a providenciada pelos seus protagonistas. E a música é justamente responsável por alguns dos momentos mais pungentes do filme...

    O Master é um edifício que fica em Copacabana, bairro do Rio em que morei por curtos 11 dias, durante a cobertura do Rock in Rio para a Ilustrada e o Folhateen, em janeiro de 2001. A minha amiga Viva já disse que é o bairro mais democrático do Rio de Janeiro... Mas, no filme, não vemos cenas externas (nem mesmo a fachada do prédio), apenas algumas janelas...

    São centenas de pequenos “apertamentos”, que foram visitados (e filmados) pela equipe de pesquisa de Coutinho, que só entra em contato com os personagens quando vai filmar para valer. Em cada um deles, um pequenino pedaço da vida de cada um, seja da menina sociofóbica que pinta e faz poesia; do senhor que conheceu o velho Francis Albert e canta, do jeito dele, “My Way”; o que chora ao lembrar que o chefe deixou ele faltar ao serviço para ir ao enterro da mãe; da jovem prostituta que gastou seu primeiro michê no McDonalds e que diz precisar acreditar em mentiras; da velhinha alegre e namoradeira que lembra de um asssalto; das irmãs “titias”, sendo que uma delas pinta “coisas impossíveis”; de um casal que briga, mas permanece junto, e de outro que se conheceu por um anúncio; e de tantos outros.

    “Edifício Master” mudou a vida das pessoas que retrata? Coutinho afirma que não. E a nossa? Pague (o ingresso) pra ver. Até 2003.

    Nota: 8,5/10

    sábado, dezembro 21, 2002

    Paraíso

    Aaaahhh... Nada como mudar de ares, né não?

    Pois, então. Eis que eis-me aqui de volta ao rincão votuporanguense, num calor de matar, com direito a Papai Noel invadindo minha casa e a velha árvore de Natal de plástico branco e bolas laranjas. Certas coisas continuam as mesmas desde os anos 70. Paraíso, não?

    A propósito: tem alguém aí? Jura? De qualquer jeito, ficam aqui meus votos de feliz Natal etc.

    Bom, prometi comentar aqui um inesperado evento: este site recebeu uma espécie de prêmio vindo de outro site, o Prato do Dia. Basicamente, o link para este recanto fica exposto lá por algumas semanas... Pelo menos não rola aquele golpe de o premiado ser obrigado a colocar um selinho com o link para o site “premiador”... pois o único selinho que eu colaria aqui de bom grado seria o sensacional Prêmio Blog Award Mamãe Achou o Máximo. E olha que nem esse eu coloco, para não bagunçar com o leiaute “clean” do CCE.

    Vamos deixar bem claro que não estou ironizando coisa nenhuma. Acho muito legal alguém se dar ao trabalho de indicar este site para outrem, assim como acho legal quando alguém põe um link para cá em seu site. “Linkar” é legal. “Linke” você também.

    Mas o engraçado da história é que o Prato do Dia não apenas indica os sites (que supostamente seriam blogs, mas, como eu já expliquei no FAQ, isto aqui não é um blog, apesar de ser hospedado pelo Blogger), mas comenta e dá notas para os mesmos _exatamente o que faço aqui com filmes. Crítica de sites é algo um tanto estranho, mas já que existem críticos de cinema, de literatura, de artes plásticas... por que não? Não me incomoda nem um pouquinho.

    Só que alguns critérios de avaliação me pareceram bem errôneos, para não dizer absurdos. Vá lá, opiniões diferem, graças a Lúcifer (falando nele, vocês estão comprando todos os meses a revista “Sandman Apresenta: Lúcifer”, não?). Mas vamos ver o que eles escreveram sobre os pontos negativos deste site: “Posts longos, chegam a ser cansativos. Pra piorar, não possui ilustrações e não dá respiro na leitura. Imagens e maior espaçamento entre os posts seria uma boa.”

    Bem, para começar, os textos não são longos. Não são, simplesmente. Até poderiam ser (e este talvez seja, por causa deste comentário “off topic”), mas eu realmente me preocupo com o tempo alheio, além de não pretender fechar questões nos meus textos, já que os mesmos servem, justamente, de estímulo para discussões mais aprofundadas, que ocorrem no espaço mais nobre deste logradouro, o sistema de comentários... Agora, dizer que os textos “chegam a ser cansativos”... bem, quem escreveu isto ou está fora de forma ou estava com preguiça ou anda precisando de óculos ou tinha acabado de disputar um triatlo.

    Também não entendi a história do “não dá respiro na leitura”. ????? E o pedido por “maior espaçamento” também é estranho. Ora, o site é atualizado semanalmente... Não está espaçado o suficiente?

    Mas absurdo mesmo é criticar o site por não possuir ilustrações (embora ele possua uma, feita pela pipocante Vanessa, que, por sinal, também foi premiada pelo Prato do Dia). Se fosse um site sobre fotografia ou artes gráficas, vá lá, mas trata-se de um site sobre cinema, que são fotos em movimento. E colocar trechos de vídeo pesaria muito.

    Em oito meses de CCE, foi a primeira vez que alguém levantou estas questões, por isso não as abordei no FAQ, mas vamos deixar bem claro: este site orgulha-se de ser baseado na linguagem escrita. Letrinhas, queremos letrinhas. Fotos? Ilustrações? Não, obrigado. Nossas imagens estão nas nossas cabeças, e isso basta. Até porque eu sou contra a padronização das idéias. Merci beaucoup, bon appetit.

    Agora vamos ao que interessa: “Paraíso” chamou a atenção, sobretudo, por ter roteiro do falecido cineasta polonês Krzysztof Kieslowski, responsável pela série “O Decálogo” e da tal “Trilogia das Cores”, entre outros belos filmes. A direção ficou por conta do alemão Tom Tykwer, o mesmo de “Corra, Lola, Corra” que, por sinal, ainda não vi (parece que os “indies” gostam, então temo que seja tão falsamente bom quanto “Clube da Luta”). E quem estrela é a eficiente Cate Blanchett e o “irmão-da-Phoebe-que-adora-derreter-coisas” Giovanni Ribisi _ambos já tinham atuado juntos no mediano “O Dom da Premonição”, de Sam “Spider-Man” Raimi.

    A história é simples (e bem narrada): professora inglesa residente na Itália deseja vingar o marido, assassinado por um traficante. Acaba presa, e um jovem policial se apaixona por ela. Daí...

    Olha, direto ao ponto: o melhor de tudo são as locações, deslumbrantes. Belíssimas tomadas panorâmicas feitas na Itália e na Alemanha _uma das interpretações possíveis é de que estas paisagens exuberantes façam referência ao paraíso, mas, blablablá. E quase não há trilha sonora, mas ela nem faz falta... E, coisa feia, o microfonão “boom” aparece em cena vááárias vezes... Erro primário, nos faz até pensar que poderia ter sido proposital, mas creio que não.

    Bom, agora nos aguardam o “Purgatório” e o “Inferno”. Falando em inferno, vocês estão lendo mesmo o “Lúcifer”? Olha lá, hein? Deus castiga.

    Nota: 7,5/10

    segunda-feira, dezembro 16, 2002

    Dívida de Sangue

    Época de férias (ou não, para quem trabalha em jornal diário, por exemplo), dá aquela preguiça, todo mundo desencanando... Mas vamos em frente, tentando não deixar a peteca cair, como diziam nos antigos programas infantis.

    Só que as férias trazem, geralmente, um pequeno problema para quem gosta de cinema: é a época de lançamentos dos chamados “filmes de verão”, os “blockbusters” (antigamente chamados de “arrasa-quarteirão”, mas o português é uma língua que evolui num mundo bobalizado, sacumé) _em especial, filmes para o público infantil (sem falar nos famigerados filmes natalinos), que abarrotam quase todas as salas, em versões dubladas... Bom para a molecada, mas ainda bem que passa rápido.

    A consciência de que a temporada de filmes-tranqueira estava prestes a começar veio a mim quando fui, ansioso, assistir ao filme mais recente do gigantesco Clint Eastwood, um dos maiores nomes do cinema norte-americano. Antes, porém, a titubeante Vanessa e eu tivemos de encarar, num domingo, 17 de novembro, no shopping Tatuapé (com uma decoração natalina muito legal, by Mauricio de Sousa), alguns dos trailers mais imbecis da história, como o do novo lançamento do Jackie Chan (nunca vi um filme com ele... parece simpático, longe do estereótipo “durão” dos filmes de ação), “The Tuxedo” _uma inacreditável história na qual qualquer um pode virar um agente secreto, desde que vista um “supersmoking... Mas o pior nem foi isso, e sim um outro filme debilóide de ação, nos moldes de “Triplo X” (alguém viu? É uma merda mesmo?), no qual o heroizinho marombeiro de araque DESVIA UM PROJÉTIL DE BAZUCA COM UMA BANDEJA DE INOX. Então, tá... Pelo menos faz mais sentido do que traduzirmos um termo corrente no inglês, "tuxedo", por uma palavra do mesmo idioma, "smoking".

    Mas é por isso e muito mais que, em termos de filme de ação, vale a pena banhar os olhos com Clint Eastwood, que, setentão, continua em forma, dando um banho nesses galãzinhos metidos a valentões. Preciso discorrer aqui sobre a importância desse cara, sobre as obras-primas que ele estrelou e as que dirigiu? Não, não preciso.

    Vamos falar de “Bloodwork”, então.

    Como o título evidencia (a tradução literal seria “Exame de Sangue”, mas a versão brasileira nem ficou tão ruim), o sangue é o símbolo central da obra. Clint interpreta um agente do FBI que tem um ataque cardíaco ao perseguir um misterioso “serial killer”, apelidado pela imprensa (que dá grande destaque ao protagonista, que, por sinal, detesta essa frescura de celebridade e, pensem a respeito, vive em um barco) de “assassino dos códigos”, por causa de suas mensagens cifradas deixadas nas cenas dos crimes.

    Aposentado por motivos médicos (quem cuida de Clint é Anjelica Huston), o velho policial sente-se na obrigação de voltar à ação após descobrir que o coração que recebeu em um transplante veio de uma vítima de assassinato: uma mulher mexicana.

    Não me agradam muito análises de filmes que ficam desdobrando todas as metáforas das obras, mas “Dívida de Sangue” é extremamente rico em significados. Claro que pode ser assistido numa boa como um mero policial, mas se você parar para pensar em todas as camadas de sentidos da película... tudo fica bem melhor.

    Então temos aí não só uma questão política (a conturbada relação entre EUA e México, também evidenciada pelo personagem Arrango, um detetive que inveja a fama de Clint e que, a certo ponto, diz: “você pode ter o coração de uma mexicana, mas nunca será um de nós”), mas também a questão dos holofotes da fama, além da esperta trama policial (que contém outros aspectos muito interessantes, mas que não vou abordar aqui, para evitar estragar as surpresas do enredo).

    Siiimmm, os “clichês-Clint” estão lá, e é isso que, ao mesmo tempo, enfraquece e dá certa graça ao filme _aquela sensação de que Eastwood continua o mesmo, o que pode decepcionar alguns e alegrar outros... Mas o roteiro, baseado em livro de Michael Connely, é muitíssimo bem-feito, e a direção de Clint é competentíssima, sem aqueles malabarismos de câmera imbecis nem aquela cenografia e fotografia desprezíveis desses diretores metidos a bestas que andam infestando o cinema e deslumbrando os bem-aventurados pobres de espírito.

    Ah: destaque para Jeff Daniels, um ator muito legal que poderia ser melhor aproveitado nos EUA. O personagem dele é uma figura, assim como o protagonista. Falando nele... Go ahead, Clint!

    Nota: 8/10

    P. S. Alguém colocou na internet uma reportagem que fiz há quase três anos, quando era repórter de ciência da Folha e colaborava com o caderno “Mais!”. O engraçado é que eu consegui enfiar cinema no meio de uma matéria sobre... grilos.

    terça-feira, dezembro 10, 2002

    Doze Homens e uma Sentença

    Não sei se é o fim do ano, mas está dando uma preguiiiça de escrever... Pelo menos eu afastei (temporariamente) a idéia de matar este site, o que esteve muito perto de acontecer.

    Mas já que o mau e novo CCE foi, até segunda ordem, absolvido, vamos falar de um outro julgamento, ops, de um filme, dirigido pelo importantíssimo Sidney Lumet, que já assinou mais de quarenta obras, entre elas clássicos como “Um Dia de Cão” (dá para esquecer Pacino gritando “Attica! Attica!”?) e “Rede de Intrigas”.

    “Twelve Angry Men”, lançado em 1957, é justamente a estréia de Lumet na direção. O filme, um projeto de seu protagonista, o fantástico Henry Fonda (aqui ele exerce, pela única vez em sua vida, o papel de produtor), foi baseado em um especial para a TV exibido três anos antes _e que foi refeito em 1997 por William Friedkin, eterno diretor de “O Exorcista”, estrelado por Jack Lemmon e George C. Scott.

    Como a TV, naquela época, era praticamente ao vivo, uma espécie de rádio com imagens, fica bastante óbvio o porquê de o filme ser tão teatral: quase toda a história se passa em um cenário, em tempo real. Há apenas uma externa, a cena final, na qual ficamos ficamos sabendo o nome do protagonista.

    O enredo pode ser resumido em poucas palavras: um jovem porto-riquenho é acusado de matar o pai a facadas. Na primeira cena do filme, vemos o garoto, com cara de assustado, no tribunal. O juiz pede para o júri se reunir em uma sala e definir o veredicto. A decisão, seja qual for, precisa ser unânime, e o júri deve permanecer isolado na sala até que esta unanimidade seja atingida.

    Os doze jurados se reúnem e, ao votarem pela primeira vez, o placar dá 11 a 1: apenas a personagem de Henry Fonda, com cara de santinho fumante e vestindo terno branco, tem dúvidas sobre a culpa do rapaz. Os outros membros do júri (composto de homens das mais variadas procedências: há o velhinho, o relojoeiro imigrante, o publicitário, o corretor da bolsa, o xenófobo, o-fã-de-esportes-que-está-desesperado-porque-vai-perder-o-jogo-de-beisebol, o humilde, o durão que brigou com o filho _bela interpretação de Lee J. Cobb_, o de óculos, o “chefe”, o quietinho...) estão com pressa, morrendo de calor, querem ir embora, mas precisam fazer o Fondão (que, pasmem, formou-se em jornalismo, além de ser pai do Peter e da Jane) mudar de idéia. Só que...

    O roteiro, de Reginald Rose (um dos mais importantes roteiristas de TV dos EUA, que fez de “Além da Imaginação” a “Fuga de Sobibor”), é muito bem encadeado. Toda a força do filme está nos diálogos, as imagens de destaque são poucas. Trata-se de uma grande discussão de temas morais, na qual as idiossincrasias de cada personagem são muitíssimo bem exploradas.

    Muito mais do que um mero filme de tribunal (vocês já viram “Anatomia de um Crime”, do Otto Preminger, com o James Stewart e o Ben Gazzara? Nãããooo???), “Doze Homens e uma Sentença” é uma obra-prima da tolerância. É de estranhar que o filme, apesar de aclamado pela crítica na época e hoje reconhecido como clássico, tenha sido um fracasso desastroso nas bilheterias norte-americanas? É Fonda...

    Nota: 9/10

    quarta-feira, dezembro 04, 2002

    O Casamento Grego

    A crise tá braba, não?

    Pois justo no momento em que estou tendo de arcar com despesas mensais de cerca de R$ 2.000, os frilas para a Folha e a Abril, que praticamente me sustentavam, minguaram. Agora me vejo em meio à pior crise financeira de toda a minha existência, obrigado a me dedicar menos aos estudos (minha prioridade no momento) e a voltar a trabalhar em tempo integral, para conseguir pagar as contas e ajudar a família.

    Então está, novamente, aberta a temporada de caça ao emprego. Se algum dos leitores deste humilde rincão internético souber de uma vaga, em São Paulo, para um jornalista/roteirista/tradutor/revisor/etc. com duas faculdades no currículo, mais pós-graduação nos EUA (University of California, Berkeley), oito anos de experiência em empresas de grande porte (as supracitadas e outras mais, como o “Diário de Pernambuco”), sério, responsável, competente, esforçado, honesto e completamente apaixonado pelo trabalho, é comigo mesmo, uh yeah.

    Agora que já preenchi a minha cota de humilhação pública, vamos falar de “My Big Fat Greek Wedding”, um “fenônimo”, como dizia um afoito torcedor do Ronaldinho que encheu o saco de tanto aparecer no “Globo Esporte” na época da Copa.

    O filme saiu da cabeça da atriz Nia Vardalos, que montou o texto como peça, antes de receber a proposta de transformá-la em filme... de Tom Hanks. É, como se não bastasse o Forrest Náugrafo ganhar uns US$ 20 milhões por filme, o “cara mais legal em Hollywood” ainda enche a burra de dinheiro ao produzir um dos filmes mais lucrativos da história _sim, “O Casamento Grego” custou cerca de US$ 5 milhões e já faturou mais de US$ 200 milhões, uma margem de lucro ainda maior do que a do brilhante “A Bruxa de Blair”... A própria Nia Vardalos diz ter ganho apenas US$ 70 mil para protagonizar o filme... Coidilôco.

    Entonces, “O Casamento Grego” é o que se chama de “comedinha simpática”. Dá pra dar muita risada, especialmente se você é felizardo o suficiente para se identificar com a imensa família da protagonista (que lembra demais a minha, embora os meus costumem beber um pouco mais e fazer ainda mais barulho, ao entoar músicas bem mais bregas).

    As gags surgem basicamente das idiossincrasias dos familiares da moça, especialmente do pai (Michael Constantine), uma figuraça que tem mania de usar windex (limpa-vidros) como bálsamo para todos os males e ficar dizendo que todas as palavras existentes têm raiz grega. Também se destacam a prima vagaba, o irmão “bronco, mas sensível” (se é que isso faz algum sentido), e a pequena família do noivo de Toula Portokalos, já que o choque cultural é outro importante ingrediente do grude todo.

    Talvez contribuam para a popularidade do filme (mas não para a sua qualidade) os momentos sentimentalóides-clichê, que fazem de “O Casamento Grego”, no final das contas, uma obra totalmente tradicional e nem um pouco revolucionária _a não ser pela sua lucratividade... Daí os homens de marketing se tocam de que, em tempos de tensão por causa de guerra e de crise econômica, o povo quer mais é ver comedinhas românticas no cinema, e não películas ácidas como “O Articulador”...

    Mais uma coisa: Nia Vardalos é bonita. Bem bonita mesmo (como dizem os irredutíveis gauleses no álbum “Asterix e Cleópatra” _o qual não vi em filme, recém-lançado_, “que nariz, que nariz!”). Isso pode não ser óbvio, já que ela é enfeiada durante boa parte do filme, representando o velho arquétipo do patinho feio que já vimos em milhões de obras, de belezas como “Sabrina” a bombas como “Love Potion Number 9”...

    Também é necessário dizer que só vi este filme por causa da convincente Vanessa, no Arteplex da Frei Caneca, em 10 de novembro, após um almoção gostoso e barato, mas não tao apetitoso quanto os carneiros assados na frente da casa da família Portokalos. Dracmas para todos. Opa!

    Nota: 6,5/10

    Na platéia