Rocha Que Voa
Eu havia visto Eryk Rocha falar na série de debates “Estética x Cosmética da Fome”, mas não me impressionei muito. Basicamente, ele veio com o discurso da necessidade de experimentalismo na arte, disse que o cinema nacional não deve ficar apenas no eixo RJ-SP e outras idéias não necessariamente novas.
Mesmo assim, estava curioso para ver seu filme “Rocha Que Voa”, que enfoca a passagem de seu pai, o eternamente polêmico cineasta Glauber Rocha, por Cuba, país visto à época como exemplo de liberdade e de democracia (!) a ser seguido por toda a América Latina, de acordo com os ideais da intelectualidade de esquerda, dita, nunca entendi exatamente por quê, “progressista”.
E o filme é guiado, em grande parte, por entrevistas que Glauber deu para rádios da ilha de Fidel Castro, nas quais ele fala um portunhol muito do vagabundo. O discurso que Glauber esparramava era repetitivo e lotado dos clichês do marxismo. Palavras como “burguês”, “dialética” e “revolução” são marteladas incontáveis vezes. O cineasta-personagem glorifica Che e, segundo depoimentos, considerava os cubanos o único “povo latino-americano forte e feliz”.
Política (tema capital na vida e no trabalho de Glauber) à parte, o filme pode interessar não apenas aos aficionados pelo artista, mas também àqueles que se seduzem com a ilha próxima a Miami. Paisagens (algumas muito belas) e anônimos desfilam pela tela, misturando-se a cenas dos filmes do retratado e de seus pares cubanos, enquanto a voz de Glauber ou os depoimentos, seja de representantes do povo cubano ou de cineastas do local, sendo o mais célebre deles o veteraníssimo Tomás Gutierrez Alea ("Morango e Chocolate", lembra?), invadem nossos ouvidos.
A forma (plástica, pelo menos) mais tradicional de documentário é quebrada aí, já que as imagens são tratadas de maneira extremamente heterogênea, os enquadramentos não necessariamente revelam o rosto do depoente, que, na maior parte do tempo, fala em off, como Glauber.
O problema é que o filme acaba por ser um tanto dispersivo justamente porque exibe informação em excesso, dando a impressão de que poderia ser um pouco mais curto. Talvez por isso um dos destaques da obra seja justamente a parte onde Tereza (“Teca”, para Glauber), namorada cubana do diretor de “Der Leone Have Sept Cabeças”, dá o seu depoimento e mostra poemas que Glauber fez para ela, dando ao documentário um pouco de leveza.
Falando em leveza, como me sinto bem naquele anexo do Espaço Unibanco! Imagino que muita gente não goste das salas (a de número quatro, onde eu vi o filme em 2 de outubro com a engambelante Vanessa, era a única que eu ainda não conhecia) por causa do tamanho reduzido das telas, mas aquela casinha, aquele quintalzinho bonito destoa tanto da São Paulo imunda e violenta que aturamos... e o ingresso saiu apenas por R$ 3!!!
Nota 7/10