Lilo e Stitch
Vejam só como são as coisas: “Lilo e Stitch”, o novo longa de animação dos estúdios Disney, estréia em dezenas de salas em São Paulo, a cidade-monstro. Mas se você quiser assisti-lo com o som original, há apenas UM horário em UMA sala... Ê, lelê.É por isso que ainda não assisti a “A Era do Gelo”, que só passou aqui na plantação de cana em versão dublada... Pô, estão nos subestimando? Adulto também gosta de animação... Já imaginaram ver “Shrek” sem o Eddie Murphy? Que graça teria?
Então a... dexover... adorável Vanessa e eu (que já tínhamos tentado ver este filme no Belas Bostas, mas, ao constatarmos que o mesmo era dublado, recuamos ante a tétrica possibilidade de termos de ouvir Paulo Ricardo na trilha sonora _na verdade, como a Vanessa avisa aí nos comentários, o velho Paul "toquem o meu" Richard se esgüela no "Spirit, o Corcel Indomável", mas fica aí o aviso: prefira Elton John) nos dirigimos ao shopping Metrô Santa Cruz (parêntese: já não basta os shoppings desestimularem o ato de caminhar a pé pela cidade _vocês sabem que evito carros ao máximo_, agora eles são ligados a estações de metrô, ou seja, estamos cada vez mais isolados da verdadeira São Paulo, o abismo do apartheid social só aumenta) para a empreitada. Preciso dizer que tinha uma filaça? Pois então...
Ah, e olha só que divertido: o filme estava passando justamente no tal do Cinemágico, a sala da Disney. Que medo. As poltronas são todas coloridinhas, silhuetas de Mickey Mouse permeiam o lugar, repletos de luzinhas e refletores que me lembraram o jogo reba da NBA que assisti em Oakland, lá em 1998...
E no Cinemágico não passam trailers, mas biografias de “Branca de Neve e os Sete Anões” (o produto pioneiro que ganhou das mãos de Shirley Temple um Oscar e sete Oscarzinhos na festa correspondente a 1937) e do próprio Uáu Disney bem no momento em que a Vanessa me explica de que trata-se de uma animação em Flash (bem podre, por sinal), a bagaça é interrompida por um pau no sistema. Obrigado, Bill Gates...
Então a economia mundial está em crise, e a Disney não quer repetir o fiasco de “Atlantis”, mas também não quer outro projeto dispendioso como “Monstros S/A”... A solução é fazer um filme bem mais barato e de apelo popular, com animação mais simples, utilizando inclusive a velha aquarela, que não aparecia em um longa da Disney há décadas... E dá-lhe monstrinho azul de novo!
Um dos cartazes do filme já dá o mote: o alienígena Stitch é chamado de “ovelha negra”, e repele todos os outros heróis meigos do estúdio. É, Stitch, o ser superinteligente criado em laboratório com o propósito de destruir tudo o que encontra, uma ameaça a ser eliminada, foge para a Terra (onde será perseguido por uma porção de outros aliens) e é adotado pela menininha havaiana de nariz batatudo Lilo, cujos pais foram mortos em um acidente automobilístico e que periga ser separada, por um agente social com cara de león-de-tchácara de puteiro e que é um típico “homem de preto”, da irmã mais velha, é, ufa, um personagem politicamente incorreto. E engraçado: a cena em que ele constrói uma San Francisco em miniatura somente para arrasá-la, como um King Kong do novo milênio, é de rachar.
Claro que o filme tem lá sua liçãozinha de moral Disney _“Hosana means family”, ou algo do tipo, bléargh_, mas nada que caia para a pieguice absurdamente deslavada, embora, como era de se esperar, a fera Stitch acaba domada. Felizmente os responsáveis pelo filme investiram um pouquinho mais no senso de humor...
E, puxa vida, tem Elvis. Poderia ter mais Elvis...
Nota: 7/10