A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quinta-feira, agosto 28, 2003

    Estranhos no Paraíso / Ghost Dog / Dirigindo no Escuro

    Save your poison for a lover who is on your side.

    Há pouco tempo, rolou aqui em Sampa (no Cinesesc, a míseros R$ 2 por sessão _assim, sim) uma pequena mostra dedicada ao cineasta independente norte-americano Jim Jarmusch (que tem uma interessantíssima participação como ator no fraco "Sem Fôlego", de Wayne Wang e Paul Auster). Além dos dois filmes que batizam este texto, passou também "Daunbailó" (aquele com o Tom Waits e o Benigni), que eu não pude conferir _dizem que a sessão se esgotou, o que causou a volta do filme ao circuito comercial, só que num cinema longe demais das capitais.

    Jarmusch foi uma espécie de queridinho da crítica durante os anos 80 _uma época que se via como o ápice do "cool", mas que já chegou a ser chamada de "a década perdida". Claro que não foi nem uma coisa nem outra _mas que rolava muita babaquice na época, isso rolava. Aliás, parece que ser babaca era chique, nos 80. Eu era criança, não entendia nada _sigo não entendendo, como o meu amigo Tremendão.

    Mas, contraditoriamente, meus inexplicáveis intintos me diziam que a obra do J. J. devia ser interessante, apesar de tanta gente metida a besta babar ovo cozido para o cara. E não deu outra: 1) a mostra foi freqüentada, basicamente, por "jornalistas culturais" (urrrk!), "povinho do cinema" (bluéargh!) e "povinho MTV" (bléco!), ou seja, a mesma situação de quando eu peguei uma ponte aérea com o Enéas: só não desejei que uma bomba explodisse porque eu também estava ali; 2) os filmes eram mesmo bons, hallelujah.

    Interessante, vi duas obras de épocas bem distintas: a primeira, de 1983; a segunda, de 1999. Há um abismo não somente temporal entre as duas, embora ambas compartilhem de uma grande e fundamental característica: senso de humor.

    "Stranger than Paradise" (a tradução brasileira está errada, perceberam?), segundo longa de Jarmusch, é um filme de baixíssimo orçamento _chegaria a lembrar um trabalho de faculdade, se os trabalhos de estudantes de cinema não costumassem ser tão péssimos. Feito em p&b, com som mono, poucos cenários, poucos e desconhecidos atores. E é um filmaço.

    John Lurie (saxofonista e líder do grupo de jazz Lounge Lizards, que também assina a trilha sonora) interpreta Willie, imigrante húngaro que vive de pequenos golpes em Nova York. Um dia, sua prima Eva (a estreante Eszter Balint, que também mexe com música), uma fanática por Screamin' Jay Hawkins (do clááássico "I Put a Spell on You", que toca no filme), chega da Hungria, para passar uns tempos com ele, antes de se dirigir à gelada Cleveland, onde morará com uma tia. Completa o trio de protagonistas Eddie (Richard Edson, que foi o primeiro baterista do Sonic Youth, mas acabou mesmo seguindo a carreira de ator, aparecendo em filmes como "Faça a Coisa Certa" e "Platoon"), parceiro de Willie em seus trambiques, que parece arrastar uma asinha pra Eva.

    A ação é mínima: boa parte da platéia ria justamente da vida besta dos protagonistas, que, basicamente, ficam em casa o dia inteiro, sem fazer nada de interessante. Mas o que soa como uma cabecice insuportável dá realmente num filme divertido, delicioso de assistir. Um interessante retrato dos jovens perdedores da América, sem perspectivas ou objetivos claros.

    Já "Ghost Dog: The Way of the Samurai" parece uma superprodução perto de "Estranhos no Paraíso". Traz um ator famoso (Forest Whitaker) no papel principal, uma equipe técnica muito mais experiente e profissional (em "Strangers..." foi tudo mesmo na base da brodagem, com várias pessoas acumulando funções) e uma grande estrela da música cuidando da trilha (o milionário rapper RZA, líder do Wu-Tang Clan, que não está à toa na função). Por isso mesmo, é um filme muito mais "fácil" de ver.

    Ghost Dog é um cara que, como diz o título, trilha "o caminho do samurai". O filme mostra como suas ações são guiadas pelo código do samurai, cujos trechos aparecem na tela, explicando a história. Um samurai moderno, "afro-americano", que escuta rap e é vassalo de um capanga da máfia ítalo-americana, que salvou sua vida. Ou seja, nosso herói é um matador de aluguel, mas não um matador comum.

    Uma idéia que a obra martela é a crítica à modernidade e a seus valores. Ghost Dog vive à moda antiga, se comunica por pombos-correio etc. Seu único amigo é Raymond, um sorveteiro francês que acha que sorvete é bom pra saúde porque contém cálcio, e tem como uma espécie de discípula a garotinha Pearline, com quem fala de livros como "Frankenstein" e "Rashomon".

    Com muito mais ação e uma narrativa interessantíssima, que usa de desenhos animados como "Pica-Pau", "Gato Félix" e "Comichão e Coçadinha", o filme te faz pensar e te faz rir ao usar de certa atmosfera à David Lynch. É pouco?

    Ainda no ramo da comédia e ainda em Nova York, o nome que vem à cabeça é Woody Allen. Seu filme mais recente a estrear no Brasil (já tem um novo, chamado "Anything Else", estrando em Veneza _que sorte a do Allen, poder filmar tanto, hein?), "Hollywood Ending", vem endorsado pela Dreamworks, do nosso amigo Spielby, e traz todo o egocentrismo do artista, além de Téa Leoni, Debra Messing (a Grace de "Will & Grace") no notório papel da vulgarzinha aspirante a atriz, e aquela gostosa (Tiffani Thiessen, uh) que era a malvada em "Barrados no Baile" (será que a Globo pagou royalties ao Eduardo Dusek?), no papel de atriz gostosa _que ela sabe interpretar muito bem.

    "Dirigindo no Escuro" (título imbecil, me faz pensar numa auto-escola que só funciona à noite) pode e vai ser visto por um monte de gente como uma comedinha besta, mas é um dos melhores Allen dos últimos anos, não tão sério e artístico como "Memórias", mas é igualmente autobiográfico. A seguir, reproduzo um trecho de um e-mail onde eu discutia o filme com uns amigos:

    "Neste mesmo filme, Allen se assume como egocêntrico, portanto, não é de espantar que ele repita uma série de 'clichês', vistos em várias de suas obras _isto se chama estilo. É impossível negar a personalidade do autor _é uma questão de se identificar ou não com ela.
    O que mais me chamou a atenção em 'Hollywood Ending' foi a frase 'Graças a Deus existem os franceses!'. O que parece uma crítica aos europeus (certamente, esta será a interpretação dos conterrâneos de Allen, que amam odiar os franceses) é, na verdade, uma crítica aos norte-americanos, que, em geral, não absorvem bem o humor do diretor (caso semelhante é o de Jerry Lewis, subestimado nos EUA e endeusado na França _é, os franceses amam discordar dos americanos...). O próprio Allen já disse em entrevistas não entender o porquê desta realidade, já que ele se considera um americano típico, 'amante de baseball, de jazz e de loiras peitudas'.
    Quem não conhece bem a obra de Allen e deseja se aprofundar, recomendo em especial 'Memórias' (sua obra-prima), 'Manhattan', 'Annie Hall' (traduzido no Brasil como 'Noivo Neurótico, Noiva Nervosa') e 'Maridos e Esposas'. Todos bastante autobiográficos." É isso aê.

    P. S. Finalmente vi "Catch Me if You Can". Que bom que o Spielby e o Tom Hanks deixaram de lado (pelo menos um pouco) o politicamente correto _é uma delícia ouvir o ex-comediante gritando "fuck you!". E o filme me fez pensar em como os malandros brasileiros são mais interessantes do que os americanos... Ah, mas quem rouba o filme é mesmo Christopher Walken: ele está brilhante e, quando aparece, domina _não sobra pra ninguém. Ele é o cara!

    P. P. S. Uma coisinha que o David Mamet falou sobre o ofício da direção cinematográfica já havia sido dita pelo grande Orson Welles (de quem falaremos bastante em breve), em entrevista ao também cineasta Peter Bogdanovich. Aí vai um trecho:

    "OW: (...) E agora, você tem o quê, aí? Mais uma citação explanatória?
    PB (lendo): 'Os escritores deveriam ter a primeira e última palavra num filme. E a única alternativa melhor é o escritor-diretor, com ênfase na primeira palavra.'
    OW: E mantenho. Dirigir, pura e simplesmente, é a tarefa mais fácil do mundo.
    PB: Essa vai precisar de uma explicação!
    OW: Peter, não existe outro ofício no mundo em que um homem consiga atravessar tranqüilamente trinta anos de carreira sem que ninguém descubra que ele é incompetente. Dê-lhe um bom roteiro, um bom elenco e um bom montador _ou só um desses elementos todos_, e tudo o que ele tem para fazer é dizer 'Ação' e 'Corta', e o filme se faz sozinho. Falo sério, Peter... Dirigir um filme é o refúgio perfeito do medíocre. Mas, quando um bom diretor faz um mau filme, o universo inteiro sabe quem é o responsável."

    P. P. P. S. Esta mensagem vale para sexta-feira, 29 de agosto: feliz aniversário para Luana Piovani, Michael Jackson, Edu Lobo e outros virginianos. Para este desempregado/endividado/desesperado que vos fala, não vai ser grande coisa. Abraços!

    quinta-feira, agosto 21, 2003

    Crepúsculo dos Deuses / A Malvada / Os Desajustados

    It's not the last time that I'll break instead of bend, but, for the moment, love has lost again.

    Quem visita este site há um certo tempo deve ter percebido que ando falando cada vez menos de filmes que estão em circuito comercial (justamente a proposta inicial da bagaça). Os motivos são vários: estou semi-desempregado (ou seja, vivendo de frilas _raríssimos, infelizmente), então falta grana; estou desgraçadamente solteiro, então falta companhia (algo fundamental, concordam?); estou atolado em estudos e trabalhos (que não geram dinheiro, apenas experiência e falta de dinheiro), então falta tempo; iludido pela falsa promessa de um emprego duradouro (que durou dois meses), cometi a extravagância de comprar um aparelho de DVD (que só vai terminar de ser pago em novembro, oh, penúria), então tenho acesso a muitos filmes que preciso ver/rever e que não estão no cinema (tenho acesso porque me emprestam; dinheiro para alugar, não tenho. Aliás, nunca aluguei um DVD até hoje, três meses após ter comprado o aparelho, e não pretendo alugar tão cedo _só se a bonança chegar). Então, vamos falar de mais clássicos, mesmo. Vocês se incomodam?

    Não sei se foi uma reação emocional ou não, mas, quando o Billy Wilder morreu, Carlos Heitor Cony escreveu que "Crepúsculo dos Deuses" (título interessante, embora não tenha nada a ver com o original, "Sunset Blvd.") era o melhor filme de todos os tempos. Eu, que sei muito menos do que o Cony, discordo (ah, discordar é legal, vá). Mas que o filme é incrível, uma obra-prima, isso eu acho quase indiscutível.

    Lançado em 1950, trata-se de uma obra ousadíssima porque desnudava, de maneira revolucionária para a época, o mundo mítico de Hollywood, justamente no momento em que a televisão ficava cada vez mais popular nos EUA, o que causou um duro golpe na indústria cinematográfica (e que levou às superproduções em cinemascope e technicolor, uma tentativa de oferecer um espetáculo que a TV de então não podia _sim, a tecnologia só avança quando é preciso fazer dinheiro, sabiam?). Bem no começo do fim da Era de Ouro do cinema hollywoodiano, um pouco da sordidez contida naquela indústria foi exposta nas telas. Não foram poucos os que receberam a obra com escândalo.

    A história é exemplar: assim como em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o narrador do filme é um cadáver (aliás, a cena em que vários cadáveres batiam papo num necrotério, que originalmente abria o longa, foi cortada, porque as pessoas se esgüelaram de tanto rir nas projeções-teste). E um cadáver de um roteirista, com sérios problemas financeiros (engraçado, conheço alguém assim...), chamado Joe Gillis (William Holden, no papel que, originalmente, seria de Montgomery Clift).

    Por obra do acaso (um pneu furado enquanto fugia de credores), Gillis acaba chegando a uma mansão da Sunset Boulevard, onde moram Norma Desmond (Gloria Swanson), uma antiga estrela hollywoodiana, da época dos filmes mudos, e seu sisudo mordomo (Erich von Ströheim), ambos em ostracismo.

    Ora, Gloria Swanson realmente era uma ex-estrela de cinema, e Ströheim realmente era um ex-diretor (responsável por "Greed", um dos filmes mais ambiciosos e megalomaníacos da história, cujo fracasso causou sua descida ao inferno em Hollywood _para maior realismo, "Greed" foi todo rodado em locações, com objetos de cena genuínos, ou seja, uma superprodução caríssima, cuja versão original tinha nada mais, nada menos do que OITO horas de duração...). Some-se a isso a presença de outros atores que um dia haviam sido famosos, numa cena de carteado (um deles, H. B. Warner, havia interpretado Jesus Cristo em "King of Kings", de Cecil B. de Mille; o outro é simplesmente Buster Keaton, talvez o maior comediante da história da sétima arte).

    Vale a pena também destacar a participação mais do que especial do próprio Cecil B. de Mille, que aparece no set de filmagens de "Sansão e Dalila" (uma dessas superproduções espetaculares das quais falamos). E preciso confessar uma coisa: eu sou um baita de um cara casca grossa, mas, sempre que vejo o final deste filme, sinto um nó na garganta e excesso de lágrimas nos olhos. É, literalmente, de arrepiar.

    Também lançado em 1950, "A Malvada" (um título estranho e confuso; o original é "All About Eve") foi o bicho-papão de Oscars daquele ano (foi indicado a 14 e ganhou 6, incluindo os de filme, direção e roteiro original), embora não seja tão imenso quanto "Crepúsculo dos Deuses" (que só ganhou os de argumento, direção de arte para p&b e trilha sonora). Mas traz uma atuação imensa: a de Bette Davis como Margo Channing _na minha opinião, é uma das maiores personagens femininas da história do cinema, ao lado da Scarlett O'Hara, da Mrs. Robinson e da já citada Norma Desmond (quem mais você indicaria?). E, sim, Davis perdeu o Oscar de melhor atriz, vai entender...

    Channing também é uma estrela, só que dos palcos. Mas a diva está em plena crise dos quarenta e precisa decidir se continua dando mais ênfase à carreira ou se casa (lembrem-se, estamos no fim da década de 40). E é bem aí que surge Eve Harrington (Anne Baxter, neta do célebre arquiteto Frank Lloyd Wright), fã de Margo... Mas não quero comentar o enredo da belíssima e complexa obra de Joseph L. Mankiewicz, e sim me limitar a dizer que trata-se de um filme para quem ama as mulheres. Para quem realmente ama as mulheres, eu falo sério _podem perguntar pro Almodóvar, que não teria feito "Tudo Sobre Minha Mãe" se "All About Eve" não existisse.

    E já que Thelma Ritter (grande figura, famosa por ser a "babá" de James Stewart em "Janela Indiscreta") e Marilyn Monroe aparecem em "A Malvada" (a primeira, como o braço direito de Margo; a segunda, no papel de uma sexy e burra aspirante a atriz _foi aí que a 20th Century Fox contratou Marilyn), vamos falar de outro filme no qual ambas contracenam: "The Misfits", uma das obras-primas do sr. John Huston, de quem falamos um tiquinho aí no texto abaixo.

    "Os Desajustados" (1961) é um desses dramas com "D". Um filme especial, que juntou o talento de Huston ao do dramaturgo Arthur Miller (autor do clássico teatral "A Morte do Caixeiro-Viajante"), trazendo Clark Gable em seu último papel no cinema (o Rhett Butler de "...E o Vento Levou" morreu antes de o filme ser lançado) e o também já citado Montgomery Clift, além do ótimo Eli Wallach, grande e subestimado ator, como Guido, o piloto.

    Gable simplesmente arrebenta como o velho cowboy que vive à deriva, mas quem brilha é mesmo Marilyn (também em seu último filme). Sua atuação não é brilhante, mas ela é. O papel de Roslyn, ex-dançarina de boate que se sente deslocada no mundo (o logotipo de "The Misfits" é justamente o de peças de quebra-cabeça que não se encaixam) após se divorciar, foi especialmente escrito para ela por Miller, seu ex-marido. Ou seja, Roslyn é um alter ego de Marilyn.

    Sou suspeitíssimo para falar de Marilyn, pois sou muito fã, mas é emocionante vê-la em ação pela última vez em um papel tão tocante _mesmo que seja dançando bêbada ao redor de uma árvore, gritando no meio do deserto, entrando e saindo de uma casa aos pulos, brincando com uma raquete de pingue-pongue. Prestem atenção no que Guido diz a respeito da moça: "Você tem o dom da vida, Roslyn. O resto de nós está apenas procurando por um esconderijo para vê-la passar", antes de brindar à vida dela, desejando que ela dure para sempre. Mais tarde, o mesmo Guido dirá que Roslyn "está ligada a tudo. É uma bênção".

    Vejam ainda este pequeno diálogo de Miller, travado entre Gable e Marilyn. Ele diz: "Você é realmente uma mulher bonita. Ficar ao seu lado é quase uma espécie de honra. Você reluz nos meus olhos. É o que eu realmente sinto, Roslyn". Ela apenas olha, sem responder. Ele continua: "O que te faz tão triste? Acho que você é a garota mais triste que já conheci". Ela esboça um sorriso, mas segue triste e diz: "Você é o primeiro homem que me diz isso. Geralmente me dizem que eu sou muito feliz". Ele responde: "É porque você faz os homens felizes". E em outro trecho de seu último filme, Marilyn pergunta: "Estamos todos morrendo, não?". Parece que ela estava.

    P. S. Notícia boa: saíram as revistas Sandman Apresenta 5 e Hellblazer 6, ambas iniciando novas histórias. Podem comprar. Notícia péssima: a Conrad cancelou a Crocodilo, que era a melhor revista do país. Dizem que as vendas ficaram abaixo do esperado _mas, também, ninguém conseguia encontrá-la nas bancas... Que sacanagem!

    sábado, agosto 16, 2003

    The Westerner / Roy Bean, o Homem da Lei / Bola de Fogo

    Oh, where are you now, pussy willow that smiled on this leaf? When I was alone, you promised the stone from your heart. My head kissed the ground, I was half the way down, treading the sand. Please, please, lift a hand (...). Won't you miss me? Wouldn't you miss me at all?

    A cada dia, mais coisas a fazer. E menos dinheiro. Não é mole, não. Onde isso vai parar? Ainda bem que não sei.

    Então vamos logo: coloquei o título original de "The Westerner" aí em cima porque encontrei duas versões brasileiras para esta grande película, produzida por Samuel Goldwyn, dirigida por William Wyler, estrelada por Gary Cooper e lançada em 1940: "A Última Fronteira" e "O Galante Aventureiro" (eca). Em uma palavra: filmaço.

    Um faroeste maduro, no qual Cooper (um ator que, segundo Orson Welles, foi feito para o cinema) interpreta um anti-herói (ou seja, um cara razoavelmente filho da puta, que faz o papel de "herói" simplesmente por ser o "menos pior" na história) que chega a uma cidadezinha chamada Vinegaroon, na qual vive uma figura bastante peculiar, inspirado em uma pessoa real: Roy Bean (grande interpretação de Walter Brennan), que se intitula juiz, além de ser dono do saloon local.

    Bean, um dos vilões (na verdade, outro anti-herói) mais estranhos da história (o cara é uma figura), sai enforcando gente a torto e direito, sempre aditivado por altas doses de álcool (quem não bebe periga ser preso), e nutre uma admiração inigualável pela atriz (mais uma vez, uma pessoa real) Lily Langtry, cujas fotos de divulgação decoram o saloon de Bean.

    O mais legal é que, em plena Era de Ouro do cinema, fizeram um faroeste que cospe na idéia do esquema mocinho/mocinha/bandido. Os personagens são seres humanos, polidimensionais, complexos e, acima de tudo, politicamente incorretos. Há senso de humor, aventura, romance, crítica social, mas apresentados sempre de uma maneira desconcertante. Podem ir atrás, é diversão garantida ou sua frustração de volta.

    E o tal de Roy Bean é um personagem tão legal, mas tão legal mesmo, que até o sr. John Huston (cuja obra, ou melhor, parte dela, está em retrospectiva no CCSP, aproveitem que é de graça) resolveu fazer outro filme para ele (antes disso, o personagem já havia ganho uma série para a TV que, em 1959, rendeu 39 episódios de meia hora, e um "western spaghetti" lançado em 1970). "The Life and Times of Judge Roy Bean" foi lançado em 1972, com roteiro de John Milius (mais conhecido por ser o diretor de "Conan, o Bárbaro", mas o cara também produziu filmes do então jovem Spielberg e participou da escrita de grande obras como "Apocalypse Now" e "Tubarão", além de ter criado a famosa frase de Dirty Harry: "Go ahead, punk. Make my day" _ou seja, não é pouca bosta, não), figurinos da famosa Edith Head e música de Maurice Jarre, traz o grande Paul Newman no papel principal, além de uma galeria de estrelas em participações especiais (incluindo o próprio Huston).

    Não se trata de um "remake" de "The Westerner", e sim uma versão quase que totalmente diferente da história. Bean continua exercendo a lei ilegalmente, continua sendo um juiz/barman que adora enforcar qualquer um que saia da linha. Mas, desta vez, ele é o "herói", embora não seja glamouroso, invencível ou um edificante exemplo para as nossas crianças. Huston aproveita o caráter (ou melhor, a falta dele) do personagem para fazer uma comédia de ação bem mais amalucada e com o roteiro mais frouxo (na verdade, trata-se de uma colagem de episódios) do que o filme original.

    Não chega nem perto do filme do Wyler, mas ainda assim é muito divertido e traz uma brilhante (e, infelizmente, curta) participação de Anthony Perkins como um reverendo, além de Ava Gardner como Lily Langtry. Completam a parte estelar do elenco Ned Beatty, Stacy Keach, Roddy McDowall, a bela Jacqueline Bisset e o urso Bruno. Assista logo após "The Westerner", depois venha me contar o que achou.

    Para completar o nosso papo de hoje, vamos voltar a outro filme produzido por Samuel Goldwyn e estrelado por Gary Cooper, mas, desta vez, dirigido por Howard Hawks: "Ball of Fire", de 1941. E é aqui que surge uma pequena decepção: além de ter um grande diretor, traz como roteiristas a brilhante dupla Billy Wilder e Charles Brackett _ou seja, era de se esperar uma obra-prima, certo?

    Infelizmente, "Bola de Fogo" não é um filme tão memorável. Trata-se de uma espécie de "Branca de Neve e os Sete Anões" transportado para o mundo dos gângteres (ou seja, comédia). Cooper interpreta um professor que, em conjunto com alguns colegas de alto QI, prepara a mais ambiciosa enciclopédia do mundo. Mas, ao perceber que sua pesquisa lingüística deixou de considerar as gírias correntes, ele precisa deixar seu mundinho acadêmico e partir para a pesquisa nas ruas. E é aí que ele conhece Sugarpuss O'Shea (Barbara Stanwyck), uma cantora (que, olha o luxo, é acompanhada por Gene Krupa e sua Orquestra _o cara esmerilha até ao solar em uma caixa de fósforos, com dois palitos) envolvida até o pescoço com a Máfia. Preciso contar o resto da história? Veja por si mesmo...

    P. S. Ia deixar para falar destes filmes em um post separado, mas, como não são grandes coisas, seguem comentários curtos, mesmo.

    "Cidade Ameaçada", de Roberto Farias (diretor de "Assalto ao Trem Pagador" e dos filmes com Roberto Carlos, além de ser irmão de Reginaldo Faria _sim, o sobrenome é diferente por causa de um erro do cartório), um filme policial melodramático feito no início dos anos 60, estrelado pelo "irmão do diretô" e pela linda Eva Wilma. Completam o elenco figuras como Milton Golçalves, Jardel Filho e Dionísio Azevedo.

    "Por um Fio", de Joel Schumacher, é um filme pequeno em mais de um sentido (ainda mais se comparado a outro filme pós-11/09, o ótimo "A Última Noite"). Colin Farrel está razoável, Kiefer Sutherland empresta a voz para o vilão, um psicopata moralista (what?). Tem também Forest Whitaker, como um policial sensível e compreensivo (ãhn?). E tem a Katie Holmes, a Joey do finado "Dawson?s Creek" (nunca fui fã do seriado, mas vi o episódio final e achei ridículo)... O que vocês acharam?

    Ah, e, finalmente, eu vi "O Tigre e o Dragão", do Ang Lee. Achei bem meia-boca, com exceção das impressionantes coreografias de luta, que superam em muito as da série "Matrix" (por sinal, o coreógrafo é o mesmo). Será que ele merecia tantos Oscars assim?

    segunda-feira, agosto 11, 2003

    O Homem Que Copiava / Longe do Paraíso / Cada Um Vive Como Quer

    The best thing I've done was to make you the one who I'd walk with down to the altar. And you'd stand by me and together we'd be that great, steady Rock of Gibraltar.

    E aí, todo mundo foi ver "O Homem Que Copiava"? Lembro que eu estava com uma tremenda expectativa, desde quando li sobre o projeto nos jornais... Ora, o Jorge Furtado é um curta-metragista consagrado (meu preferido continua sendo "O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda"), faz um ótimo trabalho na Globo (eu adorava as "Comédias da Vida Privada"), então não tinha como não ser bom.

    E é bom. Mas não tanto quanto eu esperava. É, eu me decepcionei (gostei mil vezes mais de "Houve Uma Vez Dois Verões", o filme anterior de Furtado, bem mais simples e tocante _sim, sentimental eu sou). Provavelmente, é mais um problema meu do que do filme. Que é bem-feito, rico, narrado de uma maneira interessante, sem ser raso, mas também sem ser desagradavelmente pretensioso (Shakespeare é pop, certo?). Tem suas doses de romance, de comédia, de aventura, de sensualidade, de crítica social, de animação (by Allan Sieber), de videoclipe (com "Travelling Band", do Creedence Clearwater Revival, música bem chupada da rainha do rock Little Richard) etc. E a sacada mais legal, na minha paupérrima opinião, é a cultura fragmentada (referências mil) do protagonista (Lázaro Ramos, que está OK, mas não tão impressionante quanto em "Madame Satã"), que, de certa forma, podemos relacionar com o próprio cinema (que também é uma arte "copiável" e composta de fragmentos que são montados após serem captados). Só que o filme me deixou a impressão de que se trata de uma obra muito mais intelectual do que emotiva, muito mais pensada do que sentida, e isso vai de encontro às minhas idiossincrasias, ui.

    Mas eu preciso dizer que a Luana Piovani mata a pau (ou melhor...). Leandra Leal é uma coisinha linda, está ótima em seu papel; Pedro Cardoso está interpretando o mesmo personagem de sempre (ou seja, enjoou e perdeu a graça _tá na hora de ele se reciclar, não?), mas a Luana está fantástica. E quando ela fala, com a cara mais lambida do mundo, que não usa calcinha? E quando ela fala que é virgem, mas já fez "de tudo"? Canalha. Filha da puta. Hmgrsftrpl. Taí um filme que eu preciso ver mais vezes.

    Falando em decepção, "Far from Heaven" me deixou na mão (ou melhor...). Novamente, a culpa é minha. Eu estava esperando uma obra-prima, nem sei por quê. Talvez pela Julianne Moore (que, na vida real, dá umas gargalhadas igualzinho à Fafá de Belém, já viram?), talvez pelo Todd Haynes, talvez pelo Douglas Sirk (rei dos melodramas fílmicos dos anos 50, que inspirou toda a atmosfera da obra), talvez porque o cartaz é bonito, sei lá. Só sei que o filme é bem menos do que eu esperava.

    Novamente (sim, novamente), não se trata de um filme ruim. Boas atuações, boa fotografia, boa direção de arte (excelente reconstituição de época) etc. Tudo "certinho", até os letreiros captam o espírito romântico dos anos 50, numa edulcorada e burguesa e suburbana América (como eles gostam de dizer por lá). Gosto do modo como o filme se segura e não apela para uma lacrimosidade excessiva. E não deixa de ser interessante o fato de Haynes, homossexual militante, desta vez ter desviado a questão do preconceito (que serve de mola para o melodrama durante todo o filme) para o dito "racial" (que eu saiba, a raça é humana, pô) e não ter produzido um panfleto (justamente o grande defeito de "Velvet Goldmine", seu longa anterior). Mas não possui brilho, não transcende, não tem o "tchan" da mulata tipo exportação. Vale ver, mas trata-se de um filme esquecível, bem pouco marcante.

    Agora, se você quer ver um drama com "D", se você quer ver uma obra-prima verdadeiramente antológica, pode ir correndo atrás de "Cada Um Vive Como Quer" ("Five Easy Pieces"), do diretor Bob Rafelson (sobrinho do roteirista de "O Cantor de Jazz", o primeiro filme falado da história, e criador da série de TV "The Monkees" _e, conseqüentemente, da banda), lançado em 1970.

    Jack Nicholson (talvez em sua maior atuação no cinema) é Robert "Bobby" Eroica Dupea. O cara é um desses anti-heróis trágicos, fadado a consternar, a desconcertar, a enojar, a chocar, a emocionar, a surpreender o espectador (e a fazer alguns deles se identificarem com o personagem). Bobby sente-se inadequado num mundo cheio de gente preconceituosa. Como ele mesmo diz, ele vive como um nômade, apenas para se "afastar das coisas que dão errado". Como dizem a respeito dele, é uma "pessoa estranha", que "não se ama, não se respeita, não ama os amigos, a família, o trabalho", enfim, nada. Uma pessoa "sem sentimento", "temperamental", entre outras coisas. Mas isso tudo é mesmo verdade? Por que Bobby faz o que faz? Ele é doente? É apenas um covarde? Um gênio incompreendido?

    Rafelson (que voltaria a dirigir seu amigo _e co-roteirista em "Head - Os Monkees Estão À Solta", de 1968_ Jack em "O Destino Bate À Sua Porta", de 1981, com a Jessica Lange) fez um filme muito, muito sério e complexo (cuja trilha sonora, fantástica, é radicalmente dividida entre as canções country-bregas de Tammy Wynette e peças de piano de Chopin, Mozart e Bach). Como já disse, Nicholson (indicado ao Oscar de melhor ator por esta película _também indicada ao prêmio de melhor filme e de roteiro original) está extraordinário. Mas quem rouba a cena é Karen Black (indicada ao Oscar, como atriz coadjuvante, mas levou mesmo o Globo de Ouro _Rafelson levou o de melhor diretor, e o filme ganhou o grande prêmio), que interpreta Rayette Dipesto, uma mulher ao mesmo tempo patética e irresistível, sexy e deprimente, repulsiva e adorável (a atriz, também escritora, compositora, produtora etc., filmaria com Altman e Hitchcock, entre outros). Também chama a atenção uma tal de Helena Kallianiotes, que interpreta Palm Apodaca (sua amiga, Terry Grouse, é interpretada pela coreógrafa Toni Basil, que, em 1982, quase aos 40 anos, estouraria na carreira musical com o hit new wave "Mickey", um clássico podreira, bem legal), uma doida que acha que tudo está sujo, muito sujo. Talvez esteja, mesmo.

    P. S. Falando em sujeira, quando eu escuto uma coisa tão tosca quanto "United States of Whatever", do Liam Lynch, eu me pergunto: por que eu não monto uma banda, mesmo sem saber tocar ou cantar ou ter vontade de montar uma banda?

    quarta-feira, agosto 06, 2003

    Réquiem a Lênin / Câmera Olho / Outubro

    It's no good trying to hold your love where I can't see, because I understand that you're different from me. Yes, I can tell that you can't be what you pretend.

    Você sabe muito bem que arte é sempre uma atividade engajada, não sabe? Se você vir um autor arrotando um suposto "não-engajamento" (como se isso fosse chique), desconfie. Se o cara não for um mentiroso, então é uma tremenda de uma besta poligonal.

    Mas nem todo engajamento significa, necessariamente, panfletarismo. E nem todo panfleto deixa, automaticamente, de ter valor artístico somente por ser um panfleto. É preciso saber separar o joio do trigo, entende (como diria aquele ex-atleta e ex-ministro que não é homem o bastante para assumir uma filha fora do casamento)?

    No século XX, o século do cinema por excelência, essa tal de sétima arte foi usada, reusada e treusada como instrumento ideológico. De nazistas a anarquistas e capitalistas, todo mundo tentou vender o seu "way of life" por meio de filmes. Só que ninguém o fez de modo tão inventivo, tão vanguardístico, quanto o cinema leninista soviético.

    Não estou discutindo posicionamento político. Para mim, isso é tão infrutífero quanto discutir se o Corinthians é melhor do que o Palmeiras. Mas que os cineastas que trabalharam sob a tutela do então jovem Estado soviético eram grandes artistas, isso eram. Sem dúvida. E não apenas grandes artistas, mas também grandes pensadores e teóricos, que revolucionaram a arte das imagens em movimento ao negarem a linguagem clássica do cinema narrativo estabelecido por D. W. Griffith e criarem uma forma de fazer filmes que é moderna até hoje.

    Basicamente, o cinema leninista soviético adotou o que foi chamado de "princípio da montagem" por Eisenstein, o nome mais famoso do grupo (que também continha gente como Pudovkin, Kuleshov, Dovshenko e outros). Ou seja, a forma ideal de se fazer cinema seria através de uma sucessão de imagens que, sozinhas, contêm um significado, mas, quando ordenadas (montadas) em uma determinada seqüência, dão origem a idéias novas (já toquei neste assunto em posts passados, quando reproduzi trechos de livros de Eisenstein e de seu seguidor David Mamet). Ou seja, o filme nasceria na sala de edição (em geral, esses diretores nem operavam a câmera, só faziam o roteiro e deixavam para dirigir o filme na moviola, mesmo).

    Até hoje, essas idéias, de quase oitenta anos atrás, geram polêmica e são incompreendidas. Mas elas encamparam uma maneira brilhante de fazer cinema: um cinema exigente, mas também generoso. Exigente porque esses filmes pedem a participação do cérebro do espectador, que também precisa montar os significados de todas aquelas imagens. E generoso pelo mesmo motivo.

    O texto está ficando longo, e não vou entrar em detalhes para não encher o saco da maioria de vocês, apesar de o assunto ser riquíssimo e fascinante. Vamos logo falar, bem por cima, de alguns filmes da época (será que algum de vocês também viu?), que, obviamente, são centrados na figura de Lênin, o líder bolchevique da Revolução de 1917 (não preciso ficar falando sobre quem foi Lênin, né?), e realizados por dois dos maiores nomes do cinema sociético, um documentarista e um ficcionista.

    O primeiro é Denis Kaufman, mais conhecido pelo pseudônimo Dziga Vertov (1896-1954), um dos pioneiros do documentário em longa-metragem (talvez o maior nome do gênero na história). Nascido onde hoje é a Polônia, Vertov foi estudar música em São Petersburgo na adolescência e acabou trabalhando por anos com cinejornal. Daí nasce sua visão de um cinema sem atores, sem roteiro, feito fora de estúdios. E isso ele precisa explicar em letreiros antes do início de "Réquiem a Lênin", também conhecido como "Três Cânticos para Lênin" (que aqui eu iria contrapor a "Taurus", do russo Sokúrov, se eu o tivesse visto _alguém viu e quer comentar?).

    Feito em 1934, com uma hora de duração, mostra imagens do funeral de Lênin (Stálin já estava por ali) e também imagens de arquivo do líder político, chamado nos letreiros de "libertador do povo" e "mais do que um pai" _também podemos ler frases como "se ele pudesse ver nosso país agora" e a clássica "os capitalistas do mundo cairão". É dividido em três partes (três canções populares) e mostra as fazendas coletivas, a casa onde Lênin morreu, alguns de seus discursos, alguns depoimentos, tudo centrado nas idéias de progresso e de trabalho.

    "Kino-Glaz" ("Câmera Olho" ou "Cinema Olho", como queiram), de dez anos antes, é um documentário ainda mais interessante e experimental, que, além de glorificar Lênin e o ideal socialista, é dedicado a mostrar o funcionamento da sociedade soviética (também com a incansável ênfase no progresso), adotando uma espécie de didatismo que não tem nada a ver com chatice, o que faz do filme um documento histórico preciosíssimo, mesmo sendo feito sob tutela estatal. Por exemplo, para explicar como a carne e o pão chegam às mesas dos trabalhadores (se é que chegavam mesmo), Vertov passa o filme de trás para frente, ou seja, vemos um boi voltando à vida e o pão virando trigo (imaginem o impacto de tais imagens nos anos 20, devia parecer mágica). Mais interessante ainda é o estudo que o cineasta faz do corpo humano mergulhando em um rio _além de mostrar de trás para a frente, brinca com a câmera lenta, e o resultado fica longe do banal.

    E como eu não consegui ver "Taurus", acabei escolhendo "Outubro", recriação dos momentos decisivos da Revolução de 1917 encomendada pelo Estado soviético a Eisenstein para comemorar os dez anos do evento. A exemplo de suas principais obras, como "A Greve" (meu preferido) e "O Encouraçado Potemkin" (pronuncia-se "potiônkim"), "Outubro" abusa do corte rápido (quem fala cretinices como "estética de videoclipe" deveria ser estapeado em praça pública), de justaposições de imagens (entre outras trucagens aprendidas com Méliès), das quebras de eixo (contrariando o cinema clássico de Griffith) e é um grande atestado da excelência do princípio da montagem como gerador de ação dramática. Também é um documento histórico (mesmo sendo peça de propaganda, glorificando Lênin e exigindo "paz, pão e terra" para o povo), enfocando nomes como Trotsky e Kerensky. As cenas antológicas são muitas, como a da destruição da estátua do czar e a do discurso de Lênin. Vai encarar, tovarich?

    P. S. Quem quiser ler o texto que escrevi sobre a lista publicada dois posts atrás, põe o dedo aqui.

    P. P. S. Assisti a "Matrix" de novo, agora em DVD. Continua sendo um filminho legalzinho e superficial, cujos melhores momentos remetem a "Star Wars". E, apesar de todos os defeitos, "Reloaded" é mesmo melhor.

    P. P. P. S. Chamar o Crépax de "trepax" é sacanagem. Era um grande artista, sério, moderno, cheio de estilo e merecedor de sucesso. Não será esquecido.

    P. P. P. P. S. Last but not least: estou assim atrasado porque foi só na semana passada que a minha ex-ex-amiga-e-agora-mamãe me contou do nascimento (não tem link direto, vão lá embaixo e cliquem no título do texto) da Catarina (nome da minha avó materna, vejam só), em 15 de julho. Nas palavras dela, é "a coisa mais linda do mundo", e eu sei que ela não mente. Ficam aqui registrados meu amor e votos de felicidades.

    Na platéia