A gruta é mais extensa do que a gruta

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    terça-feira, outubro 09, 2007

    Conteúdo: "Comédia é, em essência, uma arte raivosa e anti-social." A frase do Robert McKee (interpretado pelo Brian Cox em "Adaptação") me parece um tanto generalizante e radical, mas não incorreta. Parece se encaixar especialmente a "A Volta do Regresso", um filme quase que totalmente calcado na ironia _talvez a ponto de soar terrivelmente desagradável a alguns (estou louco de curiosidade para ver as reações de mais gente, especialmente as negativas; até o momento, parece que quem desgosta mais do filme sou eu, mas sei que isto vai mudar).

    Forma: "PERGUNTA - Você rodou o filme com câmera digital, em lugar de película. Até que ponto isso foi libertador para você?

    LYNCH - A palavra 'livre', se você a escrevesse com L maiúsculo, a fizesse tão alta quanto o Empire State Building e a sublinhasse muito _foi tão libertador assim. É tão belo, e de tantas maneiras diferentes. Depois dessa experiência, eu nunca mais poderei voltar a filmar em película."

    Talvez a película ainda seja, no momento (mas não por muito tempo), o melhor suporte para a exibição de filmes; mas para captação de imagens, não creio _ou seja, fecho com o David Lynch (não me lembro de onde peguei a entrevista, normalmente dou o link, sorry), apesar de ainda não ter visto seu "Inland Empire", que vai passar na Mostra e estrear logo depois. Ter feito "A Volta do Regresso" em 16mm deixou o projeto muito engessado e caro: deixei de fazer mais takes, negando pedidos do elenco, por falta de grana para comprar mais latas, e, também por contingências financeiras, não pude fazer uma truca sequer _os créditos tiveram que ser em cartela, e não sobre imagem, como eu queria (e este é apenas um dos exemplos). Não penso mais em filmar em película, e mesmo o transfer eu espero que esteja com seus dias contados.

    ***

    Estava esperando ver "Tropa de Elite" para atualizar este site. Vi o filme ontem, na promoção de aniversário de 14 anos do Espaço Unibanco (lembro de quando o lugar era Espaço Banco Nacional de Cinema, antes de o mesmo quebrar), justamente em projeção digital; durante o filme em si, não dá para perceber muita diferença na qualidade de imagem _a parte mais estressante foi durante as propagandas.

    Mas vamos ao filme, que deu o que falar por motivos exteriores ao mesmo: ele só virou esta sensação por causa da pirataria (nunca saberemos do impacto da mesma sobre a bilheteria, mas parece que o resultado não será dos piores _provavelmente porque os públicos são mesmo diferentes: talvez a pirataria só alcance a quem não tem acesso ao cinema por questões de localidade e alto preço) e por causa do debate em torno da segurança pública (que o próprio diretor encampa) e da violência _bobagens, bobagens (leiam o grande texto de Carlos Reichenbach chamado "Apontamentos para uma Polêmica Anunciada" aqui). Não é prerrogativa de um diretor de cinema debater o assunto, mas sim a de fazer bons filmes; também é ridículo alguém reclamar do filme porque ele simula atos de tortura e violência com resultados fatais: cinema também é Eros e Thanatos, kiss-kiss-bang-bang, seria desonesto e covarde um filme deste gênero não mostrar alguns litros de tinta vermelha (por sinal, o filme é pudico, nada de putaria saudável nos bailes funk nem na boate de strip).

    O bafafá todo (que inclui piadas com o Capitão Nascimento, como bonequinho que fala "senta o dedo nessa porra!" e frases atribuídas anteriormente ao Chuck Norris _coisa parecida aconteceu com o Zé Pequeno do infinitamente superior "Cidade de Deus") me deixou na expectativa de ver um filmaço, talvez outro marco histórico em nosso cinema recente; infelizmente, "Tropa de Elite" sequer se classifica como um bom filme policial (gênero no qual temos uma bela tradição, os filmes precisam apenas ser recuperados _alguém dizer que este é "o melhor filme nacional que já vi" é atestado do descaso com nossa cinematografia). É prejudicado especialmente pela debilidade das situações dramáticas e pela falta de complexidade de conflitos das personagens; o final, péssimo e pífio, sublinha que nenhuma delas chegou aos limites que poderia ter chegado; o roteiro não tem fôlego, foi pouco ambicioso _prejudicam também as "cabecices" como citação de psicólogo e aulinha sobre Foucault, além de um excesso de didatismo "para inglês ver".

    Mas o famoso e fenomenal Capitão Nascimento é um caso à parte: chamado a torto e a direito de "herói" (até o Luciano Huck clamou por ele quando teve seu Rolex levado por uma dupla de assaltantes numa moto), me pareceu mais um fracote, louco para deixar de subir o morro e ficar trocando fralda de nenê, que só vira "macho" mesmo na hora de rodar a bainana e gritar "quem manda aqui sou eu" com a espoca recém-mamãe em seu apê de classe média. Sei que a comparação é covardia, mas na hora lembrei das personagens de James Cagney em "White Heat", de Charles Bronson em "Machine Gun Kelly" e de Warren Oates em "Bring Me the Head of Alfredo García", que eram "bad motherfuckers", mas tinham seus tocantes momentos de fragilidade; em "Tropa de Elite", o máximo que o Capitão Nascimento de Wagner Moura (que não está mal, a culpa é do roteiro) faz é dar uma travadinha durante uma escalada com a esposa, todo playboyzudo. Em suma: dada a qualidade do material de origem e dos nomes envolvidos no projeto, eu estava esperando bem mais. Mas, para não dizer que só falei dos espinhos, o filme passa rápido e tem senso de humor.

    ***

    Vamos continuar falando de filmes policiais? Na minha quase terminada "peregrinação" (como diz religiosamente o Ailton) pelos anos 40, o gênero aparece bastante, com variações. Um deles, "The Naked City", deu origem a uma série televisiva muito famosa; o diferencial é que a estrela é a cidade de Nova York: a narração da introdução já avisa que, diferentemente do padrão, o filme foi todo feito em locações _e funciona muito bem como documento da vida na metrópole (por outro lado, nenhuma personagem é explorada mais profundamente, embora o típico irlandês Barry Fitzgerald se destaque). Há muitas cenas sem som direto e com narração, o que causa certa estranheza. A seqüência final, o epílogo do filme, é excelente, mostrando o que unia aquele punhado de pessoas que acompanhamos durante 95 minutos, numa cidade de 8 milhões de habitantes. Do mesmo diretor, Jules Dassin (americano, apesar do nome e de ter ficado mais famoso após ir para a Europa, onde trabalhou principalmente na França e na Grécia), com roteiro de Richard Brooks, "Brute Force" é um filme de cadeia (de certa forma precursor do muito superior "Le Trou", do grande Jacques Becker) estrelado por Burt Lancaster e um marcante Hume Cronyn como o policial sádico, com uma estrutura bem interessante, mas hoje bastante envelhecido. A música de Miklós Rózsa é excelente, mas não muito bem usada. Também meio envelhecido (lembrando que um filme não é necessariamente velho porque foi feito há 60 anos) é "Kiss of Death", escrito por Ben Hecht e Charles Lederer e dirigido por Henry Hathaway, cujo destaque é a estréia de Richard Widmark num papel inesquecível, o do psicopata Tommy Udo, que comete um dos assassinatos mais horrorosos e revoltantes que já vi no cinema (retratado com uma sutileza arrebatadora _aqui, substantivo e adjetivo combinam). Uma pena que uma cena de estupro e outra de suicído foram cortadas pela censura.

    No capítulo dedicado a "amores em meio a rajadas de balas", que inspirariam filmes como "Bonnie and Clyde" e "Boxcar Bertha", temos "The Big Steal", de Don Siegel, marcando o reencontro de Robert Mitchum e Jane Greer. O roteiro é um fiapo (justamente o que impede que o filme alcance o nível de um "Out of the Past"); o destaque mesmo está na ação, brilhante e empolgantemente conduzida pelo diretor e encenada pelo elenco. De resto, o título engana _não se trata de um "filme de assalto", mas de perseguição. "Deadly Is the Female", também conhecido como "Gun Crazy", é dirigido por um diretor de quem gosto especialmente, Joseph H. Lewis, mas deixou um pouco a desejar; já tinha visto alguns trechos muito famosos (como o assalto ao banco sem que a câmera saia do carro _o início também é sensacional), o que colaborou com a pequena decepção. E ainda temos "They Live By Night", a estréia de Nicholas Ray como diretor, com um romance bem mais doce do que o do filme do Lewis; não é nenhum "In a Lonely Place", mas também é muito bonito; Cathy O'Donnell está excelente (curioso: a dupla de assassinos de "Festim Diabólico" estrela estes dois filmes: Farley Granger neste e John Dall no de Lewis).

    E já que falamos no Hitch, dois de seus filmes traíram minhas expectativas: por causa do tema (os relativos à moral e à fé me são caros, pela magnitude do conflito), eu achava que "I Confess" seria um grande filme, ainda mais por ser estrelado por Montgomery Clift; não é desprovido de interesse, e talvez o diretor tenha exagerado quando disse que "não deveria ter sido feito" a Truffaut, mas é um filme pouco marcante. De "Stage Fright" eu gostei muito, contrariando o diretor (que via como um de seus problemas a fraqueza dos vilões); a recém-falecida Jane Wyman está ótima (embora o diretor tenha reclamado bastante dela _mas Hitch vivia reclamando de seus elencos), mas é claro que Dietrich (a quem também vi em "The Devil Is a Woman", do Sternberg _mas eu prefiro "Desonrada", que também traz cenas em bailes de Carnaval) rouba todas as cenas em que aparece. E vi um filme de Robert Siodmak que poderia ter sido dirigido por Hitchcock: "Phantom Lady", um filme "Z", baratíssimo, sem atores conhecidos (só reconheci Aurora Miranda e Elisha Cook Jr., excelente como um baterista de jazz mulherengo), deu numa obra-prima, com uma premissa apaixonante. Valeu também por me apresentar a Ella Raines, linda e excelente; infelizmente, sua carreira não decolou. De quebra, revi "Monsieur Verdoux", que pode parecer atípico por vários motivos, mas que me soa bastante coerente com a obra sonora de Chaplin _Welles reclamava que só ganhou o crédito pela idéia (não fica claro se ele escreveu um tratamento do roteiro ou não) após o filme ter sido um fracasso de bilheteria e crítica.

    ***

    Ainda nos anos 40, passei por outra grande comédia de Lubitsch, "To Be or Not To Be": feito no ápice da Segunda Guerra, o diretor (berlinense, que já havia encarado as conseqüências da Primeira Guerra no melodrama "Broken Lullaby", de 1932) ridiculariza Hitler e o nazismo (dois anos depois de Chaplin), numa história que se desenrola em Varsóvia; é impressionante como ele consegue arrancar risadas de uma situação tão tensa _mas, à primeira vista, me pareceu um de seus filmes com menor carga erótica, apesar de Carole Lombard (morta num acidente de avião antes de o filme ser lançado _ou seja, foi o seu último) estar muito bonita (Jack Benny é o responsável por grande parte da comicidade). Do outro lado, ouvi o título do filme ser dito por Olivier em "Hamlet", seu segundo filme como diretor (o primeiro não-americano a ganhar o Oscar de melhor filme). Compreensivelmente, fica refém do texto (embora seja uma versão reduzida, de "apenas" 2h30, e com mudanças sutis para deixá-lo mais moderninho), embora a mise-en-scène (com a câmera em constante movimento e cortes disfarçados, criando uma bela fluidez temporal _bastante condizente com o texto de Shakespeare, aliás; não é à toa que, em "A Volta do Regresso", um dos poucos planos com movimento de câmera ocorre justamente quando Carlo Mossy encarna um híbrido de Rei Lear, Rei Momo e Scarlett O'Hara) contenha muita coisa interessante. Gosto muito da música e da Jean Simmons, adolescente, como Ofélia.

    Outra comédia interessante é "Adam's Rib", de George Cukor: mezzo comédia romântica mezzo drama de tribunal, baseia-se na idéia da igualdade entre os sexos (chamá-lo de feminista me parece inexato), tema que não envelheceu nem um pouco, embora a sociedade tenha mudado bastante nestas últimas décadas. O casal protagonista, Spencer Tracy e Katherine Hepburn, é fabuloso (especialmente nos improvisos cômicos do filme caseiro dentro do filme); o texto é esperto e há uma canção de Cole Porter como cereja do bolo. E há um plano impressionante, longuíssimo, com câmera fixa, totalmente segurado pelo diálogo e por Hepburn e Judy Holliday (que veio do teatro, fez pouco cinema e morreu jovem, de câncer de mama). Cole Porter, em companhia do diretor Vincente Minnelli e do co-coreógrafo e "leading man" Gene Kelly, não está em seus melhores dias em "The Pirate", romance musical ambientado no Caribe. As atenções vão todas para Judy Garland _mesmo ótima, não impediu que o filme tenha sido um fracasso de bilheteria. A montagem é bem estranha, e os cenários têm aquela cara de estúdio... E em "Diário de uma Camareira" de 1964, Burgess Meredith (o Pingüim da série do Batman e o treinador Mickey dos três primeiros "Rocky" _Cesar Romero, o Coringa, está no filme de Sternberg com Dietrich que comentei acima) produz, assina o roteiro e atua sob a direção de Jean Renoir, que adapta uma peça francesa que deu num dos meus filmes preferidos de Luís Buñuel, quase 20 a nos depois. Estrelada por uma Paulette Godard loira (bem diferente do que nos filmes de Chaplin), o filme do francês trabalhando nos EUA é muito mais leve e convencional do que o do espanhol na França.

    No período, também dei atenção a três trabalhos dos fabulosos arqueiros Michael Powell e Emeric Pressburger: "The Red Shoes"cai na revisão, mas ainda emociona ao final e impressiona com a seqüência do balé (quase 20 minutos que demoraram 6 semanas para serem produzidos); a paixão pela arte é sempre um tema que fala comigo. "I Know Where I'm Going!" é o primeiro filme delwa totalmente em preto-e-branco que vejo _curiosamente, dizem que o diretor de fotografia fez o filme inteiro (em estúdio, onde o protagonista de Roger Livesey, substituindo James Mason, filmou o tempo todo, mesmo com grande parte do filme se passando em locações na Escócia) sem usar um fotômetro. A história é tremendamente previsível; o diferencial mesmo é o senso de humor e de liberdade que são característicos de alguns filmes da dupla ("The Red Shoes" parece exceção); há inventividade e criatividade de sobra, como distribuição de vários elementos teoricamente inconciliáveis num mesmo plano, derrubando o naturalismo. E em "The Life and Death of Colonel Blimp", a escocesa Deborah Kerr, em começo de carreira, interpreta três personagens diferentes num épico em cores com quase três horas de duração; mas a estrela é, novamente, Roger Livesey (grande ator, mas que aparentemente só pegava os papéis porque a primeira opção _neste caso, Laurence Olivier_ não podia ou não queria fazê-los), em impressionantes caracterizações (acompanhamos seu personagem por mais de 40 anos). É um filme de esforço de guerra _mas que irritou Churchill, porque a personagem de Anton Wallbrook é um militar alemão simpático; o político teria impedido Olivier de estrelá-lo e tentado banir o filme_, mas ele transcende este aspecto (como fazem outros clássicos do período, como "Os 47 Ronin"). E assim como em "I Know Where I'm Going!", a dupla de cockers spaniels de Powell faz uma ponta... E já que o assunto é guerra, vale encaixar "Sands of Iwo Jima", que eu estava enrolando para ver desde o início do ano, quando os filmes de Clint Eastwood foram lançados; feito no calor dos acontecimentos pelo veterano Allan Dwan (diretor de quase 400 filmes) e estrelado por John Wayne, com a participação do sobrevivente trio de soldados que hasteou a famosa bandeira (que também aparece no filme, emprestada pelo exército _lembra Ford usando as locomotivas reais e histórias em "The Iron Horse"), é obviamente uma patriotada bastante romantizada _inclusive com direito a parzinho romântico (não na guerra, é claro); perde muito por justamente não investir em cenas de combate.

    E, como já é praxe, não poderia deixar de lado os dramas familiares de meu amigo Yasujiro Ozu: fui resgatar "Conto das Folhas Flutuantes", de 1934 (mudo, portanto), que aborda a paternidade, o orgulho e a premente necessidade de ganhar a vida numa sociedade com papéis sociais extremamente definidos _por exemplo, ser ator não é considerado uma atividade "digna". Os enquadramentos são magistrais, mas achei um filme meio frio, comparado a outros do diretor. Já num filme de 1948 que não tem título em português (a tradução seria algo como "Uma Fêmea de Ave ao Vento"), o diferencial (negativo, creio) é a menor sutileza no clímax (que contém a cena mais violenta que vi em seus filmes); curiosamente, o conflito, ditado pela moral, pela política e pela economia (mais uma vez, o diretor fala do universal por meio do particular, praticamente sem ação em externas), é exposto de maneira imensamente sutil. Bom, mas aquém do seu melhor.

    ***

    Misturando a linha do tempo: de 1921, vi "A Carroça Fantasma", de Sjöstrom, um conto moral e sobrenatural (bem à moda da época) que lembra bastante o clássico de Dickens sobre o velho Scrooge, que inspirou o Tio Patinhas. Engraçado que uma das mais famosas cenas da carreira do Kubrick, Nicholson arrebentando uma porta a machadadas para chegar à mulher e ao filho, foi praticamente copiada deste filme, como uma óbvia homenagem. Pulando para os anos 60, outra adaptação literária (que Kubrick filmaria 6 anos depois), mas quase irreconhecível: em "Vinyl", Andy Warhol adapta "Laranja Mecânica" quase que em um plano só, em enquadramentos bem esdrúxulos; o enredo é resumido a quase nada; a trilha sonora é ótima, mas o filme dá um sono...

    Anos 70: curioso que uma sessão do Videobrasil, festival de "arte eletrônica", seja composta justamente de três filmes feitos e projetados (muito mal, com som e foco sofríveis, no superestimado Cinesesc) em 16mm... O primeiro, "Water Wrackets" (1975), é uma picaretagem da grossa: imagens de rios e lagos sob uma narração sobre eventos num futuro distante. O segundo, "Dear Phone" (1977), é o melhor, por ter, pelo menos, senso de humor. O terceiro, "A Walk Through H: The Reincarnation of an Ornithologist (1978)", segue caminho parecido, mas mostra 92 pinturas de Greenaway ("mapas") e imagens de pássaros. Completando a sessão, antes vi, no Sesc Paulista, uma exposição com 92 malas de seu personagem Tulse Luper _esta fixação de Greenaway com o 92 é por ele se tratar do número atômico do urânio, compreensível que o diretor tenha tal preocupação devido à sua geração. Acho que não dou muita sorte com Greenaway, não vi seus filmes mais elogiados...

    Menos chato foi conferir "Macumba Sexual", um dos 13 (!!!) filmes que Jesus Franco (assinando como Jess Franco) fez em 1983. É um interessante exercício de mistura de sonho e realidade, com apenas um fiapo de história: Franco prefere criar climas com a trilha sonora, as paisagens do deserto (e algumas construções arquitetônicas bem interessantes e exóticas) e com os corpos nus do elenco _com Lina Romay (também assistente de direção, sob pseudônimo, e mulher do diretor) à frente (e de costas e de tudo quanto é lado). Há um plano fabuloso: vemos na areia dois objetos que parecem lápides; de repente, uma mão gigantesca invade a tela e as pega (na verdade, eram pequenas estatuetas!).

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    De volta a este estranho ano de 2007: "Cartola: Música para os Olhos" é um bom documentário (de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda _este último esteve na sessão para debate e foi muito simpático) não apenas sobre o querido sambista, mas sobre o século XX. Vasto e rico material de arquivo garante sim informações mais do que suficientes para a biografia _a forma não briga com o conteúdo, diferentemente do que muita gente disse. E a primeira metade de "The Simpsons Movie", de David Silverman, é excelente; a segunda cai bastante, mas não deixa de ser boa. Os Simpsons ainda não envelheceram totalmente, mas não causam o frisson de antes justamente porque eles mudaram muita coisa e abriram espaço para as séries animadas politicamente incorretas, como "Beavis and Butt-Head", "South Park" e "Family Guy", entre outras. Mas não deixa de ser admirável a série estar no ar há quase 20 anos.

    Deste ano também é a série "The Tudors", que acabou de estrear aqui na TV a cabo: o que impressiona mais não é a razoável riqueza da reconstituição de época (historicamente, com certeza há muitos furos, mas estão lá Henrique VIII, Thomas Morus, Catarina de Aragão, Ana Bolena e outras figuras manjadas), mas o alto nível de erotismo (muito, mas muito sexo mesmo, para os padrões televisivos _e "Roma", que estou vendo no momento, é ainda mais ousada). Um episódio em especial, o da peste, me deu mais sustos do que todos os filmes de terror que vi nos últimos dez anos; era impressionante, um atrás do outro, mal dava para recuperar o fôlego e acalmar os batimentos cardíacos. Já a outra série vista neste ínterim, "Taken" (aparentemente produzida por Steven Spielberg como aquecimento para "Guerra dos Mundos" _Dakota Fanning está lá), sobre três gerações de três famílias (é meio confuso, mesmo) envolvidas com extraterrestres. É bem a cara do Spielba _bem, do pior dele: musiquinha vagabunda criando um climinha, câmeras rodando à toa em torno das personagens, textos boboquinhas na voz de uma criança, um chororô da mulherada... Fica mais divertido a partir do segundo episódio, mas a conclusão é meio broxante.

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    É claro que estou esquecendo muita coisa, mas pelo menos quero registrar aqui os meus parabéns pelo primeiro aniversário da Zingu!, que traz uma entrevista com o inigualável Sady Baby (também recomendo o belíssimo texto de Andrea Ormond, embora a edição toda mereça ser lida), e de recomendar o disco "Carnival Nights", do Black Barn Music, projeto do talentoso André ZP. Outra coisa: fantástico o debate ocorrido na Cinética a respeito de um curta-metragem brasileiro e recente; seria maravilhoso se iniciativas como esta (um grupo de críticos debatendo com um cineasta) se repetissem com mais freqüência. Eu adoraria que "A Volta do Regresso" ou qualquer outro meu passasse pelo mesmo escrutínio.

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