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    sábado, setembro 11, 2004

    Barry Lyndon / Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba

    We'll meet again, don't know where, don't know when.

    O tempo urge, ruge etc. Pois "Barry Lyndon" (1975), filme que o nosso velho amigo Citizen Kuby dirigiu entre este e este aqui, ultrapassa três horas de duração, mas passa bem mais rápido do que muito curta-metragem de estudante de cinema metido a artista que já tive o excruciante desprazer de assistir (qualquer diretor que eu realmente prezo define-se, antes de tudo, como "contador de histórias". Se você conhece algum mané que insiste em fazer discurso contrário só porque "estudou" cinema, desconfie).

    Sem dúvida (e com duplo sentido), trata-se de um grande filme, mas não chega perto de ser o melhor Kubrick, apesar de existirem afirmações discordantes a este respeito (sabe como é, o filme não é tão popular, então é chique ficar dizendo que é o melhor só porque menos gente viu). Mas o que me agrada tremendamente neste filme, além do óbvio (sua fotografia absolutamente extasiante _é famosa a história das lentes especialmente desenvolvidas para esta obra, capazes de captar ambientes exclusivamente iluminados a luz de vela, saudável característica do velho nerd com cara de gnomo, essa a de contribuir com inovações técnicas, como um George Lucas menos nocivo), é o fato de ele possuir um tremendo, imenso senso de humor. É, talvez, o filme menos frio do Kuby.

    Claro que o melodrama (de características viscontianas, talvez?) também tem o seu peso na história do interessantíssimo personagem interpretado por Ryan O'Neill (então uma estrela hollywoodiana no auge da popularidade). Partes do enredo (inspirado no livro de William Makepeace Thackeray _autor recentemente adaptado pela indiana Mira Nair, cujo "Vanity Fair" foi exibido na Veneza que premiou Mike Leigh e seu "Vera Drake"), inclusive, chegam a lembrar o novelão-mor "...E o Vento Levou"...

    Já "Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb" (um filme que, de certa forma, encerra uma fase na carreira de seu diretor), de 1963, é uma comédia assumida (é quase histérica _o que dizer diante de uma frase como "Vocês não podem brigar aqui, esta é a Sala de Guerra!"?), mas versa sobre um assunto tão pesado (ainda hoje, apesar de aquela loucura de Guerra Fria e sua corrida armamentista ter, aparentemente, terminado) que não me surpreenderia se fosse encarada por alguns (ou muitos, especialmente aqueles preocupados com seus fluidos corporais, Coca-Cola inclusive) como filme de terror.

    O que também impressiona é saber que Kuby, notório pelo seu perfeccionismo quase insuportável, deixou que Peter Sellers (que, inicialmente, interpretaria quatro papéis, mas um acidente o impediu de encarnar também o major Kong _inesquecivelmente interpretado por Slim Pickens, ex-palhaço de rodeio que acabou fazendo um monte de papéis de caubóis e militares, aqui juntando ambos num só. Por sinal, Kuby queria que Pickens tivesse atuado também em "O Iluminado", no papel que ficou com Scatman Crothers, mas o ator recusou por não querer ficar repetindo tomadas até chegar perto da loucura) improvisasse praticamente durante quase toda a filmagem. George C. Scott também dá o seu showzinho, além de Sterling Hayden (curiosidade: é o filme de estréia de James Earl Jones). Infelizmente, problemas técnicos impediram que a última cena prevista para o filme, que mostrava uma guerra de tortas em plena Sala de Guerra (que, dizem, Reagan pensava realmente existir, quando assumiu a presidência dos EUA), pastelão puro. Mein führer, I can walk!

    P. S. Pra não dizer que não falei de "Olga"... Sinceramente, é menos pior do que eu pensava (não chega a ser um "Cazuza...", ufa), mas ainda é ruim. A experiência de vê-lo foi muito parecida com a de ver "A Paixão de Cristo": trata-se de um filme extremamente apelativo, sem um pingo de sutileza, o que acaba tranformando-o num espetáculo de uma chatice atroz. Eu quase dormi. Cadê a "interessância"?

    Cena da semana (ou da quinzena ou do mês, sei lá): Ao som de "O Messias", de Händel, um mendigo sujo e desdentado dança embriagadamente, vestido de noiva ("Viridiana", de Luís Buñuel, 1961).

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