O "lixo" de Tarantino
De uns tempos para cá, infelizmente dá para contar nos dedos as vezes em que vou a uma sala comercial de cinema por ano. Para investir meu parco tempo livre e meu rico dinheirinho (podem inverter os adjetivos, dá na mesma) e correr o risco de encarar uma projeção digital porca e uma plateia cada vez mais intolerante e mal educada, o filme tem de ser muito atraente (felizmente resisti ao instinto de conferir o "Alice no País das Maravilhas", um fracasso do Tim Burton). E o circuito normalmente não ajuda. Mas isso tudo é uma lenga-lenga conhecida de quem ainda lê este blog em tempos de Twitter.A novidade é que um filme de um diretor cultuado como Quentin Tarantino entrou na turma pela qual já passou Woody Allen e estreou comercialmente com três anos de atraso. Era um filme que eu queria ver no cinema e que, por algumas particularidades, deve(ria) ser visto no cinema. Só que, por não ter mais essa esperança, terminei por vê-lo no final do ano passado, em arquivo da internet (não por iniciativa minha; em geral só baixo filmes antigos e raros, indisponíveis de outra forma). E isso dá uma raiva danada, porque é falta de respeito com o público, além de incompetência e pouca sensibilidade para os negócios.
O que não me deu raiva, mas atiçou minha vontade pelo debate, é um texto de um homem que, desde bem jovem, trabalhou em várias obras-primas do cinema brasileiro. Mas esse texto demonstra uma aparente limitação ao classificar o filme em questão de "lixo" e ao acusar o diretor de meramente querer "explorar os baixos instintos da plateia" e de deixar a desejar em termos de "valor intelectual".
Então deixo algumas questões (e questionar constantemente é sempre bom para combater o preconceito, a forma mais insidiosa da ignorância) ao sabor do vento: supondo que o Eduardo Escorel tenha razão, qual o problema em não ignorar os "baixos instintos" (mas são mesmo "baixos"? A ascese é necessariamente algo bom para a arte?) do Homo sapiens? Em que isso influi no "valor intelectual" (e o que seria, exatamente, isso? ) e na qualidade de uma obra?
3 comentários:
"projeção digital porca e uma plateia cada vez mais intolerante e mal educada"
BINGO. Esses motivos me afastam dos cinemas também. Ainda vou, mas bem menos que antes.
Agora estou tentado a voltar, porque estou tendo uma folga durante a semana quando dou plantão, uma vez por mês (já aproveitei a primeira para voltar à Sessão do Comodoro). Mas o circuito vai ter de ajudar.
O circuito tem cada vez ajudado menos: de um lado, as filas lotadas nos cinemas de shopping, que exibem um monte de cópias dubladas. De outro, no circuito alternativo, a porcaria da projeção da Rain. É como se eles estivessem afastando o cinema dos cinéfilos cada vez mais.
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