A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quinta-feira, junho 01, 2006

    Filmes vistos entre 21/05 e 31/05

    "Nós vamos fazer um Molière!" - Carlo Mossy e Gustavo Engracia

    Fellini diz que aprendeu com Rossellini que era possível fazer um filme de forma tão livre despreocupada (relativamente falando, é claro) quanto escrever um livro ou desenhar uma caricatura. Não é bem o que "8 1/2" mostra... Se mesmo a literatura apresenta seus limites, na escrita para a tela, eles estão mais evidentes. Quando começam as filmagens, então... Mas, olha, quero crer que Fellini e Rossellini tinham razão.

    The Bridges of Madison County: O mais interessante aqui é vermos Eastwood interpretando uma personagem bem diferente dos tipos durões que o consagraram: não me lembro de tê-lo visto tão sorridente e carismático em nenhum outro filme (e não é que ele se dá bem no papel de galã?). Streep também convence (o leve sotaque italiano é ótimo). A simplicidade, a qualidade do texto e o costumeiro cuidado de Clint com os detalhes são outros pontos fortes. Mas eu estava esperando por uma obra-prima, não apenas um bom (muito bom) melodrama.

    Gentleman's Agreement: Como cinema, esta adaptação do romance de Laura Z. Hobson dirigida por Elia Kazan (no Brasil, ganhou o título idiota "A Luz É para Todos", provavelmente por causa do Gregory Peck) é bem desinteressante: praticamente tudo é resolvido apenas pelo texto, as personagens soam idiotas, pensando em voz alta o tempo inteiro (mesmo assim, papou os Oscars de filme e direção). Mas como uma análise do quanto o preconceito pode ser insidioso (aqui, é encarado o anti-semitismo, pouco após o fim da Segunda Guerra; Kazan também abordou o racismo em outro filme), é obrigatório, não perdeu um pingo de atualidade. Engraçado é vermos Kazan, apontado como colaborador da "caça às bruxas" em Hollywood, dirigindo o grande John Garfield, que se insurgiu contra ela. Celeste Holm é ótima, pena que aqui tenha um papel de coadjuvante (que lhe rendeu um Oscar, por sinal).

    A Night in Casablanca: Este penúltimo filme de Archie Mayo ("A Floresta Petrificada") começa como uma animadora sátira de "Casablanca", mas infelizmente logo se confirma como um "mais-do-mesmo" dos Irmãos Marx. Claro que há momentos engraçados (não muitos), mas o que mais me impressiona mesmo é o rosto de Harpo (sempre o destaque entre os três) quando toca harpa: ele sai completamente de seu personagem amalucado e se torna tão sereno...

    Das Boot: Apesar de longo (mais de três horas, na versão do diretor), o filme do Wolfgang Petersen, concentrado na missão da tripulação de um submarino alemão durante o fim da Segunda Guerra, é envolvente. E é inteligente da parte do diretor nunca mostrar os inimigos de perto... A grande surpresa é a presença no elenco de ninguém menos que... Rita Cadillac.

    The Matrix: O filme dos übbernerds Irmãos Atchim e Espirro seria, segundo os próprios, "um filme de ação com idéias". Provavelmente eles não tinham nada melhor para falar a respeito da sua obra, que evidentemente deve muito a George Lucas e seu "Star Wars". Mas o primeiro filme da trilogia (que estou revendo porque meu irmão comprou a caixa com dez DVDs) bem bom até o momento em que os heróis retornam à Matriz. As cenas de ação (as com tiroteiros _as de kung fu até que são engraçadas) são chatíssimas, eles deviam aprender com o Scorsese como usar câmera lenta.

    The Matrix Reloaded: A segunda parte da série evidencia um pouco do que Hitchcock dizia: um filme é tão perfeito quanto seu vilão. O Agente Smith é de longe o que de melhor há na série, e este filme só não é uma chatice total por causa dele _ou melhor, deles. De resto, umas cenas de ação bem Michael Bay, diálogos tolos entabulados por personagens com nomes como Oráculo, Morfeu, Merovíngio, Perséfone, Níobe, Arquiteto, Chaveiro, ufa... E uma das cenas mais interessantes, a dos beijos entre Monica Bellucci e Jada Pinkett Smith, ficou mesmo para o videogame...

    The Matrix Revolutions: Terminando de rever a trilogia, fica evidente que se tratou de um projeto monumental, acima de tudo, em termos fotográficos (possível graças ao avanço tecnológico, que, cruel, fará destes filmes espetáculos datados em pouco tempo), de atuação puramente física (graças a dublês competentes, à mão de Yuen Wo Ping e à dedicação imensa do elenco) e de arte conceitual _ter Geof Darrow criando é um luxo, muito ou quase tudo que se vê de impressionante nestes filmes deve-se a ele, que concretizou o que os diretores imaginaram. Mas vamos ao que realmente importa: a série não ultrapassa o rame-rame melodramático de quinta categoria que essa coisa amorfa que ainda chamamos erroneamente de "Hollywood" vomita em cima de nós com sucesso. Começou bem, mas não demorou a cair nessa vala comum...

    The Animatrix: Aqui repete-se o problema básico do projeto: a forma enche os olhos, mas o conteúdo deixa a desejar _é impressionante como alguns dos curtas conseguem ser prolixos, gordurosos. Curiosamente, os episódios escritos por Atchim e Espirro são os mais fracos, todos muito ligados aos filmes e ao videogame. Os melhores são "Beyond" e "World Record", que exploram certos defeitos da Matriz. Peter "Aeon Flux" Cheung também consegue sair do marasmo, mas é menos feliz. Os outros três DVDs da caixa eu não devo assistir, chega...

    The Brothers Grimm: As histórias infantis não são passadas de geração a geração à toa: são obras-primas atemporais. O material tinha tudo para ser muito bem aproveitado por Terry Gilliam, mas em algum ponto ele perdeu a mão e ficou aquém do esperado. Fico imaginando se não teria ficado melhor se o projeto fosse do Spielberg, embora ele não pareça mais interessado neste tipo de história...

    X-Men: The Last Stand: Filme que divide opiniões sempre me deixa ansioso; no caso deste, quase todas as pessoas mais próximas falaram mal, mas muitas resenhas positivas emergiram por aí. Visto o filme, o veredito não foi nada difícil: o terceiro filme da série é melhor do que o primeiro e pior do que o segundo _sim, há diferenças claras entre Singer e Ratner, mas o papo de que este último só dá atenção aos efeitos especiais é a maior balela do universo. Em geral, filmes com muitas personagens (e que não conseguem se debruçar adequadamente sobre elas) me decepcionam; não foi o caso deste, onde um painel minimamente interessante (embora bem mais simplista do que o apresentado no filme anterior) conseguiu ser montado. É natural sentir falta de espaço para muitos personagens importantes, que aqui apenas fazem pontas (o caso mais gritante é o de Cíclope, mas eu fiquei com uma dor no coração mesmo diante do destino da Mística, minha preferida). Naturalmente, os maiores detratores do filme são os fãs do gibi; falta-lhes distanciamento.

    P. S. O melhor: "Das Boot"; o pior: "The Matrix Revolutions".

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