A gruta é mais extensa do que a gruta

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    domingo, maio 21, 2006

    Filmes vistos entre 11/05 e 20/05

    "Nunca mais me faltará linha novamente!"

    No primeiro encontro entre Carlo Mossy (na foto, no set de "A Volta do Regresso", tirada na manhã de 20 de abril de 2006) e Ênio Gonçalves após mais de 30 anos, realizado no mês passado em minha humilde choupana, ambos os veteranos artistas me questionaram, sob as vistas do ator Gustavo Engracia: onde eu havia buscado sofrimento suficiente para escrever tal filme, já que eu seria jovem demais para conhecer a vida a tal ponto e obrigatoriamente teria de ter me inspirado na vida de pessoas mais experientes? A pergunta muito me surpreendeu, soando quase absurda, embora não tenha me irritado. "Talvez eu tenha sofrido por antecipação", respondi, querendo desconversar (concordo com o David Lynch quando ele diz que o artista que se auto-analisa demais corre o risco de se bloquear). Apesar de Mossy ter se reconhecido na personagem que interpretou neste projeto ("Este papel foi escrito para mim!", exclamou ele, quando nos encontramos pessoalmente pela primeira vez, em fevereiro), e do Ênio e de muitas outras pessoas que trabalharam na Boca do Lixo e que leram meu roteiro terem dito que conheceram várias pessoas parecidas com as personagens que criei, a trama não foi inspirada em ninguém, tampouco em nenhum episódio da vida real e muito menos na minha própria vida. Trata-se apenas de observações racionais e emocionais que estão prestes a formar um todo no mínimo... estranho. Mas não poderia ser diferente, poderia?

    Aviso aos navegantes: Chanchada do Watson Macedo famosa por aquela cena em que Adelaide Chiozzo canta "tomara que chova três dias sem parar" e pelos números de Oscarito, como bebê e rumbeira. Completam a trupe uma série de figuras tarimbadas da época, como José Lewgoy bancando o vilão, Grande Otelo (discreto e preciso), Ivon Cury, Eliana (cujo carisma compensa a falta de talento) e Anselmo Duarte, como o galã. Precário, mas tem seus bons momentos. O DVD, feito a partir de cópia teoricamente restaurada pela Petrobras, é lastimável.

    La Venganza de la Momia: Trash entre os filmes trash (e olha que é o único dentre as dezenas de filmes estreladas pelo lutador mexicano Roberto Guzman Huerta, mais conhecido pela alcunha "Santo, El Enmascarado de Plata"), este filme precaríssimo, sem o menor senso de ritmo, é um típico caso de passatempo em que a gente sofre e se diverte ao mesmo tempo, pelo mesmo motivo: é tão ruim que chega às raias do patético. O que salva esta coisa de ser um desastre completo é a personagem de Carlos Ancira, um cientista totalmente destrambelhado e realmente engraçado (que morre estupídamente no meio do filme!).

    MirrorMask: Decepcionante parceria de Neil Gaiman (com um roteiro muito pobre, previsível) e Dave McKean, soa a um pastiche de "Labirinto" (também com o envolvimento da produtora de Jim "Muppets" Henson), sem nem uma trilha sonora decente. Chatíssimo.

    Six Feet Under - primeira temporada completa: O piloto é desanimador (mas minha perspectiva era de uma série cômica, e não um novelão), mas aos poucos a história, que gira ao redor de uma família cujo negócio é uma casa funerária (em Votuporanga, usa-se o eufemismo "assistência familiar"), vai se tornando interessante, apesar dos inúmeros clichês, não apenas por causa do tema, que obviamente gera material bastante rico, mas principalmente porque o elenco é fabuloso (em especial, Frances Conroy e Michael C. Hall). Dois episódios foram dirigidos pela Kathy Bates (um deles, impagável, sobre a morte de uma atriz pornô, interpretada pela Veronica Hart, ela mesma uma veterana "porn star").

    True Crime: Talvez a coisa que eu mais deteste em relação à (pretensa) "crítica" cinematográfica é a maldita mania de querer enxergar em uma obra mais do que ela realmente mostra (comportamento típico de gente que quer que os outros pensem que ela é "inteligente"). Meu amigo Clint, cineasta sofisticado e inteligente de verdade, mas sem frescura, freqüentemente é vítima deste tipo de estupidez. "True Crime" impressiona não somente pelo cuidado com os detalhes e por seu imenso senso de humor, mesmo ao tratar de assuntos delicadíssimos (há uma cena entre Clint e James Woods na qual eu tive de pausar o DVD várias vezes para gargalhar), mas acima de tudo por sua simplicidade e fluência. Mais de duas horas que passam voando.

    The Dirty Dozen: Diversão pura é este filme do Aldrich, com Lee Marvin à frente de um grande elenco: Charles Bronson, Telly Savalas, Ernest Borgnine, Donald Sutherland, Robert Ryan e John Cassavetes _este, de longe o destaque. O enredo é básico e importa pouco, e, apesar da grandeza da produção (ou por causa dela), filmada nos arredores de Londres, dá a impressão de que o diretor sacrificou o perfeccionismo e deixou o rigor de lado, o que impede este projeto de ser mais memorável.

    Tron: De "Tron" eu só conhecia mesmo seu mais famoso subproduto, o videogame datado também de 1982 (da época dos cartuchos); o filme, é a primeira vez, e, surpreendentemente, não me decepcionei: se por um lado ele se inspira em "THX...", "2001" e outros, também antecipa "The Matrix". E, apesar das personagens e diálogos bobos, a interação entre programas de computadores e seus programadores (imbuído de uma mistificação religiosa) é interessantíssima; o visual (criado, entre outros, pelo ilustrador francês Moebius), brilhantemente datado, é impressionante até hoje. Só faltou mesmo Kraftwerk (por sinal, este texto está sendo publicado ao som de "Autobahn") na trilha sonora...

    Topaz: "Topázio" tem a fama de ser o pior filme de Hitchcock, o que nem deve ser verdade. Apesar de não configurar entre suas obras-primas, não só é muito bom (e eu nem gosto muito desses filmes de Guerra Fria, acho espionagem assunto dos mais desagradáveis _embora o mesmo Hitch tenha realizado obras-primas envolvendo o tema, como "Foreign Correspondent", "Notorius" e "Torn Courtain") como há momentos sublimes (a morte de uma personagem é filmada de modo absolutamente genial). Pena que o final original (mostrado nos extras do DVD) foi cortado devido à má recepção nas sessões-teste, não só era mais um grande momento de suspense, como gerava uma dubiedade interessantíssima e muito mais condizente com o caráter das personagens.

    La Notte di San Lorenzo: Em geral celebrado como obra-prima, este filme dos irmãos Taviani me deixou um tanto decepcionado. Está repleto de momentos fortes, mas no geral é enfraquecido pelo excesso de personagens (muitos deles com grande potencial, mas sem um desenvolvimento satisfatório). A garotinha Micol Guidelli (que hoje deve ter mais ou menos a minha idade) é a coisinha mais linda deste mundo, pena que nunca mais fez outro filme...

    The Naked Gun 2 1/2: The Smell of Fear: Dei umas duas risadas durante todo o filme. Estranho, pois me lembro de ter gostado da primeira aventura cinematográfica do Frank Drebin. Mas estas comédias paródicas, além de ficarem datadas muito rápido (curiosamente, o tema do filme era a questão energética, alternativas ao petróleo, tudo muito atual _o presidente é George Bush, o outro) costumam mesmo ter material suficiente para um trailer engraçado, não muito mais do que isso... Há exceções, claro; esta aqui, nem um trailer decente foi capaz de gerar. "Engraçado" mesmo é ver um filme chamado "Corra Que a Polícia Vem Aí" em plena semana pós-ataques do PCC...

    P. S. O melhor: "Six Feet Under - primeira temporada completa" (talvez seja injusto, é muito material); o pior: "MirrorMask".

    P. P. S. Estou "uploadeando" algumas canções nesta página aqui, atualizada esporadicamente. Convido-os a escutarem algumas bizarrices, pérolas e quetais.

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