A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quarta-feira, maio 10, 2006

    Filmes vistos entre 01/05 e 10/05

    "Shakespeare?"

    Nesses últimos quatro anos de atividade deste espaço, recebi várias queixas sobre o fato de eu não publicar fotos junto com os textos. As razões: este sempre foi (e continua sendo) um espaço que privilegia a leitura; se algum dia eu fosse publicar fotos aqui, seriam de filmes realizados por mim, não por outros. Pois esta atualização traz a primeira foto publicada neste site (com exceção da claquetinha sangrenta do cabeçalho), tirada no último dia de filmagem de "A Volta do Regresso". A foto é de autoria de Ana Paul, reproduzindo aproximadamente a minha decupagem. Mais virão.

    The Dark Corner: Noir razoavelmente convencional e desinteressante (tirando uma ou outra sacada, como o chaveiro do assassino e a garotinha do apito), dirigido pelo prolífico Henry Hathaway e lançado em 1946. A grande curiosidade é ver Lucille Ball num estágio intermediário de fama, antes de estourar na TV, glamourosa, bonita.

    I Soliti Ignoti: Engraçadíssima comédia do Monicelli, lançada em 1958 (aqui como "Os Eternos Desconhecidos") e estrelada por um Vittorio Gassman muito bem acompanhado de Mastroianni, Cardinale, Totó e outros. Diversão pura, riso solto, uma delícia.

    Crash: Não é implicância por causa do Oscar (não dou muita bola para o prêmio nem sou viúva do Ang Lee), mas o filme do Paul Haggis é realmente muito ruim. Apesar do bom elenco, os diálogos são primários, a construção da narrativa é tosquíssima, a trilha sonora é um horror, os posicionamentos de câmera parecem meio sem sentido... Mas o que realmente me chamou a atenção é que o filme é todo muito... feio.

    Dolls: O filme de Kitano é desses que demoram para decolar: é na sua meia hora final que o mosaico criado por ele ganha sentido e beleza. Mesmo assim, é o filme do diretor que menos me empolgou.


    Lost - Primeira temporada completa:
    A expectativa era alta, porque não conheço ninguém que não tenha gostado ou não tenha se declarado viciado. Bem, eu gostei, mas não fiquei viciado e estou longe de estar ansioso para continuar a ver a série (meu irmão caçula, por sinal, baixa todos os episódios assim que eles passam nos EUA, mas provavelmente só irei vê-los em DVD). Em comparação com "24 Horas", "Lost" é muito menos eletrizante e emocionante, mas ganha por apresentar um universo muito mais rico (me agradam bastante as referências mais sobrenaturais, como os números ou a personagem paraplégica que volta a andar como por milagre); mas o final desta primeira temporada é muito mais chocho do que o de "Alias", por exemplo. Agora, o que mais me chamou a atenção diante destes 25 primeiros episódios foi a questão central da violência inerente à vivência em grupo; mesmo um médico não pensa duas vezes ao partir para cima de um desafeto aos socos... Infelizmente, neste quesito a série se mostra bastante naturalista...

    Cradle 2 the Grave: Filme de ação que começa muito bem (graças ao ritmo, à trilha sonora e à apresentação das personagens), mas que não demora muito a degringolar, justamente porque o roteiro se mostra pífio, as personagens, menos interessantes do que a princípio pareciam ser e, pecado capital, as cenas de ação não são emocionantes (embora visivelmente tenham dado trabalho para realizar). Nem o carisma de Jet Li segura.

    800 Balas: Divertido e despretensioso filme espanhol que presta uma homenagem carinhosa aos spaghetti filmados em Almería. Bobagem deliciosa e politicamente incorreta, para ver com um grupo de amigos, tomando cerveja e dando risada. Filmes como este são necessários, de vez em quando...

    Mission: Imposible III: Uma cena noturna de tirar o fôlego em Xangai, outra não tão emocionante numa ponte, uma seqüência que se beneficia bastante das belezas de Roma e do Vaticano, aquele gordinho loiro de voz grave e nome comprido bancando o malvado e a Keri Russell toda escangalhada são os destaques da estréia do J. J. Abrams no cinema. Talvez a maior qualidade do filme seja o fato de ele passar bem rápido; o problema é que ele tem tudo para ser rapidamente esquecido também... Espero que não façam um quarto episódio da série, já deu o que tinha que dar (criativamente falando, não em termos de $$$).

    Heaven Can Wait: Um dos últimos filmes do Lubitsch, tem sua força e fraqueza no fato de se tratar de adaptação teatral: enquanto a maior fonte de diversão da obra sem dúvida é o texto (especialmente no início, quando o sentimentalismo ainda não domina a retrospectiva da vida da personagem de Don Ameche), a linguagem cinematográfica propriamente dita parece ficar em segundo plano (os cortes são estranhíssimos, ligando planos bastante parecidos).

    Easy Rider: Depois de um início bem promissor (grande Lazslo Kováscs), o filme de Hopper e Fonda torna-se bastante irregular, tendo como pontos altos a participação de Jack Nicholson e a cena da "bad trip" no cemitério com Karen Black e Toni Basil (estes três últimos reapareceriam no superior "Five Easy Pieces"). É interessante como o filme alterna momentos muito bem-humorados com outros terrivelmente violentos, compondo um forte retrato do final da década de 1960. Em suma, um filme muito estranho, que provavelmente crescerá numa revisão.

    Caligola: Finalmente vi o controverso filme que tentou unir uma séria pesquisa histórica de Gore Vidal ao erotismo bastante particular de Tinto Brass, mas que ficou mesmo na mão do produtor, Bob "Penthouse" Guccione (que filmou algumas partes e editou), fazendo com que os outros dois renegassem o produto. Realmente, o resultado é muito decepcionante: o filme é absurdamente longo (156 minutos), e a cenografia e a direção de arte, evidentemente caras, naufragaram. De positivo mesmo, a trilha sonora e o elenco; mas, embora o esforço de Malcolm McDowell seja claro, quem rouba mesmo o filme é Peter O'Toole, brilhante como Tibério.

    Caché: Eu adoro planos estáticos, de longa duração (obviamente a platéia não está tão acostumada)... Tão estranho e extasiante ver a casa da família que protagoniza o filme, repleta de livros... Que triste viver num país que possui mais agências bancárias e casas lotéricas do que livrarias e salas de cinema...

    P. S. O melhor: "I Soliti Ignoti"; o pior: "Crash".

    P. P. S. Além das qualidades intrínsecas do texto, ler "O Jogo da Amarelinha", do meu amigo Cortázar, causa uma desorientação libertadora.

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