A gruta é mais extensa do que a gruta

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    sexta-feira, dezembro 16, 2005

    Filmes vistos entre 15/11 e 30/11

    A vontade de atualizar isto aqui como de costume não acabou (o texto que deveria entrar era sobre "Oliver Twist" e o novo Harry Potter, com um P. S. sobre o "Flores Partidas"), mas o tempo e a tranquilidade, sim. Para não ficar muito mais de um mês sem atualizar, segue uma picaretagem: a reprodução (sem as estrelinhas, já que a eliminação das notas foi votada em eleição há um bom tempo) dos microtextos publicados no meu site no Multiply, com os filmes (sempre com os títulos originais) vistos no período supracitado. A qualquer momento, voltamos (ou não) com a programação normal. Feliz Natal e Ano Novo (chinês e judaico inclusos)!

    "Dazed and Confused": Já tinha visto na Globo, não me lembrava que era do Linklater. Remete a "American Graffitti", "Fast Times at Ridgemont High" (inclusive no fato de que alguns dos jovens atores seguiram carreiras de sucesso _quem mais se deu bem aqui foi Ben Affleck) e, de certa forma, até a "Clube dos Cinco", mas este é de época, puramente saudosista. O grande destaque é mesmo a trilha sonora. "Escola de Rock" é bem melhor.

    "Cassi Jones, o Magnífico Sedutor": Há anos queria ver este filme, já que sou meio fanático por "São Paulo S/A", e "O Caso dos Irmãos Naves" é também um filme importante e impressionante. Este aqui é a encarnação do tal do "desbunde" que rolava na época de ditadura braba (1972), além do tal do gênero "exploitation" que rolava mundialmente. O que mais me agrada, além de toda a irreverência e o experimentalismo despido da vontade de ser "chique, "de bom gosto" (um dos cânceres da arte, por ser raso e desonesto, inclusive), é o colorido do filme (o apartamento de Cassi e os figurinos são fantásticos). Paulo José é cool como sempre, Sandra Bréa, novinha, está linda, e Glauce Rocha, discreta, é grande mesmo quando pequena. Mas creio que funcionaria melhor se fosse mais enxuto...

    "Merry Christmas Mr. Lawrence": Tinha visto na Bandeirantes, quando criança, nem sabia quem era Nagisa Oshima (na verdade, mal sabia quem era David Bowie). O roteiro acaba sendo meio esquemático (talvez por se prender demais ao livro?), mas o filme vale e muito a pena não só pelo tom humanista e pela propensão a compreender as diferenças culturais, mas principalmente pela atuação maravilhosa do Ryuichi Sakamoto (que também assina a trilha, fantástica _difícil algo concebido nos anos 80 se tornar clássico, pouco datado, apesar de os sintetizadores estarem ali, evidentes...).

    "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy": Meu irmão tem os livros da série e, pelo entusiasmo dele, talvez a versão cinematográfica não fosse tão ruim (já que o autor, falecido precocemente, chega a assinar o roteiro). Mas o filme é de uma chatice atroz, o túmulo do humor britânico. Até piada com animais exóticos eles fazem, mas não aprenderam nada com o Monty Python...

    "Witness": Peter Weir até que é um cara bacana, apesar de ter seus altos e baixos (muito estranho saber que "Green Card", aquele com o Depardieu, é dele) _inclusive um dos piores lixos de todos os tempos (tenho nojo de falar o nome, mas começa com "Sociedade" e termina com "Poetas Mortos"). Este aqui não é dos piores _na verdade, está repleto de cenas interessantes, como o sensível topless da Kelly McGillis e o início, que nos leva a crer que se trata de um filme de época (aprendeu, né, Shyamalan?). O ponto de partida é interessantíssimo (assim como o desenvolvimento, que deixa a historinha policial em segundo plano), e o garotinho Lukas Haas, que depois filmou com Woody Allen e Gus Van Sant (este "Last Days" que não veio pra Mostra de São Paulo), arrebenta. Este eu também vi na Globo (o recém-criado Telecine Cult, dito "alternativo", está se especializando em reprisar _com a janela errada!_, "clássicos" da TV aberta). E o preço, ó...

    "Bakushû": Em português, "Também Fomos Felizes"; em inglês, "Early Summer". É o terceiro filme de Yasujiro Ozu que vejo, e é evidente a coerência deste diretor que, além de enfocar os dramas familiares mais singelos, parece representar como poucos a cultura japonesa. Este faz pontes claras tanto com "O Gosto do Arroz no Chá Verde", feito um ano depois, quanto com "Meninos de Tóquio", de vinte anos antes (ainda na fase silenciosa). Dá vontade de escrever bem mais a respeito...

    "War of the Worlds": É produção da Paramount (com direito a toda aquela equipe técnica de primeira deles _menos atores e diretores) e dizem que levou dois anos pra ser realizada. Mas o filme é tosco, tosco, tosco. E não por ser uma produção "B" típica dos anos 50 (imaginem Ed Wood colorido e com efeitos visuais e sonoros um pouquinho mais caprichados _embora maquetes em chamas também pululem por aqui), mas por ter roteiro xexelento, atores péssimos, direção indigente... Não sou nenhum fã da versão do Spielberg, que coloca na roda um drama familiar, mas pelo menos este sabe como fazer um thriller, quando quer...

    "A History of Violence": O título brasileiro, "Marcas da Violência", é equivocado, já que a palavra mais importante aqui é justamente "história", e não "violência". Cronenberg deve saber que a verdadeira violência, sem coreografias ou encenação para as câmeras, não tem nada de glamourosa; ele faz questão de exibir algumas das tais "marcas" da violência, talvez porque horrorizar um pouco o espectador letárgico seja necessário (e seria aí, principalmente, que vemos a marca do diretor?). Mas este filme dá muito pano pra manga...

    "Amazon Women on the Moon": Produção do John Landis, dirigida por ele, mais Joe Dante e outros três diretores e estrelada por "lots of actors" (é assim que aparece nos créditos), entre eles Michelle Pfeiffer, B. B. King, Rosana Arquette, Arsenio Hall, Griffin Dunne, Carrie Fisher etc. É como se uma má edição de "Saturday Night Live" fosse feita em película e lançada nos cinemas. Esquetes que simulam uma programação de TV na madrugada formam o filme. Pelos nomes envolvidos, achei que seria algo minimamente interessante...

    "Pickup on South Street": Samuel Fuller foi um dos grandes, e neste filme de 1955, com apenas 80 minutos de duração e feito em 20 dias, vemos um trabalho digno de mestre. A fluidez dos movimentos de câmera é próxima da perfeição, e os pequenos detalhes que povoam, em especial, os coadjuvantes (além da sempre genial Thelma Ritter, que entoa um monólogo absolutamente comovente, há uma cena inesquecível num restaurante chinês) impressionam tanto quanto à entrega dos atores nas cenas de violência. Uma pequena obra-prima, menos célebre do que merece ser.

    "Love and Death": A última das comédias mais farsescas de Woody Allen (pelo menos até ele resolver fazer "Trapaceiros" ou "O Escorpião de Jade") melhora ao ser revista. As referências à clássica literatura russa (mas também já tem um Bergmanzinho por ali) funcionam para quem conhece minimamente as obras, mas não sei se o resto consegue se divertir. Quem rouba o filme é Diane Keaton, maravilhosa. As tiradas de Allen sobre sexo (presentes em quase todos os seus filmes) também são um atrativo.

    "Oliver Twist": Acho esse papinho de que "Roman Polanski não é mais ousado" uma babaquice de marca maior. Seu "Oliver Twist" está muito longe de ser um filme infantil _estupidez pensar em algo do tipo, só porque o protagonista tem 10 anos de idade. Eu adoro o Gustave Doré, reconheci seu trabalho na hora.

    "Eternal Sunshine of the Spotless Mind": Outro filme que cresce bastante na revisão _nem acho mais a pior interpretação do Jim Carrey (esta deve ficar por conta de "Cine Majestic", daquele pulha do Darabont). Gostei mais do roteiro, da direção, dos atores (praticamente de todos). Continua um filme bastante romântico, mas que praticamente não tem cena de beijo... Agora, está bem longe de ser uma obra-prima.

    "Orfeu Negro": Não sei por que, mas eu tinha um enorme preconceito contra este filme de Marcel Camus e nunca havia tido interesse de vê-lo. Mas como estou fazendo um filme que tem a ver com o Carnaval... E não é que é uma graciosa fantasia, que se torna tragédia soturna? E vale também pelo caráter documental, aquele Rio (e mesmo aquele samba) não existe mais...

    "Foxy Brown": Referência óbvia para o "Jackie Brown" de Tarantino, traz Pam Grier e seus peitaços no auge da forma, antecipando a fórmula d"As Panteras", puro blaxpoitation anos 70. Sangue, nudez, gírias, armas, roupas espalhafatosas e aquele funkão com wah-wah rolando. Roteiro tosco, atores toscos, clichês a granel em apenas 90 minutos (o diretor Jack Hill deve ter visto o "Thriller" do Vibenius _que Tarantino também chupou). De vez em quanto é gostoso ver algo tão despretensioso e safado.

    "Out of Time": Revisão desta beleza de thriller do Carl Franklin, um diretor muito bacana, cuja obra preciso conhecer melhor. É óbvio que muito da emoção se esvai na revisão (visto pela primeira vez, é absolutamente eletrizante), mas a extrema competência da construção da trama continua saltando aos olhos. Tensão, humor, romance, drama, erotismo, está tudo ali, sem frescura nenhuma.

    "Mean Girls": Produção do criador de "Saturday Night Live", acaba caindo na vala de filmes para adolescentes americanos, desses que mostram o colegial como uma fogueira de vaidades. Uma besteira que seria melhor se não fosse tão politicamente correta. Mas a tal da Lindsay Lohan é uma coisinha linda do papai...

    "Paycheck": Mais impressionante do que o fato de todo mundo neste filme atirar muito mal, só mesmo o sorriso da Uma Thurman. John Woo é o rei da inverossimilhança, e isto não é mal. Visões do futuro e mentes sendo apagadas (num processo meio parecido com o de "Brilho Eterno...") fazem parte de um roteiro redondinho. O filme só fica chato mesmo na cena de perseguição de moto, com aquelas explosões de sempre.

    "White Heat": Célebre filme policial da Warner, protagonizado por James Cagney (ótimo, como de costume) e dirigido por Raoul Walsh. O mais interessante na história de Cody Jarrett é o seu relacionamento com a mãe; as engenhocas que a polícia usa para caçar o bandido (uma espécie de avô do GPS) também são fantásticas. A princípio não me entusiasmei muito, mas agora gosto bem mais do filme.

    "Garden State": No Brasil, "Hora de Voltar". É aquele filme do Zach Braff, protagonista da ótima série "Scrubs" (quando sai em DVD por aqui?). Começa bem esquisitinho, metido à besta, melhora e chega até a ficar bom quando a Natalie Portman (seu melhor papel?) entra, mas lá para o final desanda e termina meio broxante. Mas o rapaz não é mau, tomara que ele faça melhor no futuro.

    "Angels with Dirty Faces": Mais um da série de clássicos filmes de gângsters da Warner, que saíram por aqui em caprichadas edições de DVD. Este é mais um com a dupla James Cagney e Pat O'Brien, e ainda temos Humphrey Bogart (antes da fama, ainda como coadjuvante, mas já excelente) de bônus. Moralista e bem-intencionado, mas nem por isso deixa de ser muito divertido.

    "Rosemary's Baby": O DVD-R deu problema e acabei perdendo uns cinco minutos do filme, mas revê-lo é sempre uma ótima experiência. Mia Farrow está adorável, Cassavetes está detestável e Ruth Gordon está insuportável _ou seja, todos estão ótimos. Genial fazer o horror sem o horror, e ainda dar à cena final um tom de humor negro absolutamente absurdo (o que é aquele bercinho preto com a cruz invertida e aqueles velhotes gritando "Hail Satan!" enquanto um japonês tira fotos?). A trilha sonora de Komeda é inesquecível. Este é um dos raros filmes feitos com câmera na mão que não me incomodam. Aprende, Lars von Trier!

    P. S. O melhor: "Pickup on South Street"; o pior: "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy".

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