A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quinta-feira, dezembro 22, 2005

    Filmes vistos entre 01/12 e 15/12

    Temporada (curta, mas essencial) de férias me traz novamente à cidade das brisas suaves (e, ultimamente, de um ou outro furacãozinho _não mandei desmatar e poluir...), cuja placidez permite atualizações mais freqüentes. Por hora, insisto neste novo formato, já que a recepção do gentil e seleto público leitor foi assaz favorável. Por falar nisso, está rolando uma discussão sobre se as próximas atualizações deverão ser quinzenais ou a cada dez dias (semanais seria pedir demais). Quem quiser se manifestar... Hasta la vista, baby!

    Something's Gotta Give: Este filme ("Alguém Tem Que Ceder", no Brasil) recebeu um monte de críticas do público em geral quando saiu por aqui (do tipo "vocês acham que alguma mulher ia largar do Keanu Reeves para ficar com aquele velhote nojento?"). Como se verossimilhança em comédias românticas (ou em quase qualquer tipo de comédia) tivesse alguma graça. O velhote em questão é Jack Nicholson no piloto automático (ele e o De Niro, ó...), então quem rouba mesmo o filme é Diane Keaton, corajosa a ponto de aparecer nua após após os 55, e ainda bonita (quando o enquadramento ajuda, é claro). Mas eu prefiro bem mais o "Todos Dizem Eu Te Amo"...

    Harry Potter and the Goblet of Fire: Eu sabia que dificilmente ia gostar, mas fui mesmo assim _não só por falta de opção (afinal, 3 das 6 salas do cinema do meu bairro estavam passando esta meleca), mas para ficar por dentro do que todos estão falando. E, ao que consta, ninguém desgostou tanto quanto eu. Que chatice tremenda! Melhora só um pouquinho depois que o Ralph Fiennes (bem menos assustador do que o esperado) aparece, mas mesmo assim não decola. Roteiro primário, direção indigente, atores fazendo papel de bobos... Pff!

    Snake Eyes: Tem toda a cara do De Palma (fica claro quais os filmes mais "autorais" dele, nos quais todo tipo de assinatura possível e imaginável que possa estar presente aparece), mas gostei bem menos do que esperava _mesmo "Femme Fatale", do qual muita gente reclama, é melhor. Mas é claro que não se trata de obra desprezível (apesar de o Nicolas Cage fazer aquela cara de coitado que é sua máxima característica).

    The Deer Hunter: Este é um daqueles filmes que costumavam passar direto nas madrugadas da Globo _e eu, quando criança, acabava vendo um trecho ou outro, que, por algum motivo, permaneceram bem frescos na memória. É claro que as cenas de roleta russa (onde De Niro brilha, em especial), inesquecíveis, são o ponto alto do filme, que acaba deixando a desejar no conjunto, por se valer de metáforas um tanto rasas. E Cimino tem pouquíssimo poder de concisão, o que prejudica bastante o filme, principalmente em sua primeira hora (aquela seqüência do casamento precisava ser tão longa?)...

    Broken Flowers: Apesar de não ter achado maravilhoso (não sou dos que se empolgam muito com o Jarmusch, embora seus filmes nunca sejam totalmente desinteressantes), este até que dá pano pra manga. O destaque é a Tilda Swinton, em aparição relâmpago (além da Lolita, é claro). My sin, my soul!

    The Roaring Twenties: Mais um filme de gângsters de Raoul Walsh, estrelado pelo fenomenal James Cagney _com o bônus de termos Humphrey Bogart, há um ano de explodir em "High Sierra", também de Walsh. Este se diferencia não só pelo tom documental, mas por a personagem de Cagney não ser um criminoso "de nascença", caindo na vida por falta de oportunidades. Martin Scorsese claramente se inspirou aqui para seu "Taxi Driver".

    The Petrified Forest: Adaptação de espetáculo da Broadway, lançado no cinema em 1936. Apesar de estrelado por ninguém menos do que Bette Davis e Leslie Howard (péssimo, por sinal), este filme é lembrado por Humphrey Bogart, em seu primeiro papel de mais expressão (embora ainda como coadjuvante). Bogie tinha 37 anos e estava prestes a desistir do cinema, mas sua interpretação minimamente interessante (mas ainda aquém das que veríamos no futuro) garantiu a ele mais uns cinco anos de batalha até se tornar uma estrela. Pena que o filme é tão fraquinho...

    Small Time Crooks: O público médio dos EUA odeia o Woody Allen; não é de estranhar que este filme tenha sido praticamente seu maior sucesso financeiro. É uma espécie de retorno às raízes, mas com um convencionalismo (e, talvez, até uma preguiça) muito estranho e decepcionante para os fãs do diretor. E olha que o elenco (em especial, Elaine May e Tracey Ullman) só tem gente boa...

    Abril Despedaçado: Caiu bastante na revisão (embora da primeira vez eu não tivesse me animado tanto). O grande destaque é a fotografia de Walter Carvalho _mas essa mania de enquadramentos "inusitados" é um saco. Filme excessivamente calculado (menos no roteiro, ao que tudo indica), dá a impressão de não fazer justiça ao livro _embora o Kadaré pareça ter gostado. Salles parece não ser grande diretor de atores, aqui quem se destaca mesmo é o Ravi.

    Invitation au Voyage: Muito provavelmente eu nunca teria sequer ouvido falar deste filme se não fosse pelo Carlos Reichenbach e sua Sessão Dupla do Comodoro. Como não tinha mais referências, não sabia bem o que esperar e fui surpreendido com um filme muito interessante, não só pelo retrato de época (1982, o que me faz lembrar de Almodóvar e seu ótimo "Labirinto de Paixões), mas pelo uso inteligente de flashbacks, com uma depuração de enquadramento que não cheira a pretensão...

    One + One: É o tal do filme que o Godard fez com os Rolling Stones, da tal da "fase maoísta ou o que seja" do diretor. Picaretagem por um lado, obra-prima por outro? As cenas mais bonitas e menos interessantes são justamente as dos Stones no estúdio, gravando "Sympathy for the Devil", canto de cisne do Brian Jones. O resto (excetuando os trocadilhos infantis _fala sério, eu fazia a mesma coisa quando estava na 5ª série), alguns planos-seqüência que completam o retrato da época, com a palavra "revolução" sendo repetida a torto e a direito. Obviamente datadíssimo, um tanto ingênuo, mas divertiiido...

    No Direction Home: O documentário fresquinho que o Scorsese fez para a TV pública dos EUA sobre Bob Dylan já saiu em DVD do Brasil. Edição dupla, duas horas e meia de filme, mais uma série de apresentações raras do músico, retiradas de filmes de D. A. Pennebaker, Andy Warhol e outros. É óbvio que é básico para quem é fã, mas mesmo quem não é dylanmaníaco vai encontrar um retrato do país no início da tumultuada década de 60. Uma delícia para os olhos e os ouvidos.

    His Girl Friday: Adaptação da peça "The Front Page", do Ben Hecht, por Howard Hawks, seu parceiro em "Scarface". Diferentemente da versão de Billy Wilder, com Jack Lemmon, Walther Mattahu e Susan Sarandon (se não me engano, mais fiel à peça _pelo menos, o título é o mesmo), esta troca o papel do repórter feito por Lemmon por uma mulher (e que mulher: Rosalind Russell, fantástica!). Mas o grande destaque mesmo é Cary Grant, decididamente um gênio da comédia. Mas eu gosto ainda mais do "The Awful Truth", do McCarey.

    War of the Worlds: Revisão do remake do Spielby: o filme nem melhora nem piora. Continua legalzinho, não mais. Bastante inferior a "Catch Me If You Can" e "Minority Report" (este, quase uma obra-prima). Dakota Fanning é uma patricinha histérica.

    The Public Enemy: Filme estranho e fascinante, do qual provavelmente gosto mais a cada minuto que passa. Cagney é um gênio. Adoro fade-outs!

    Vampyr: Mais uma prova de que Dreyer era um mestre da mise-en-scène. Infelizmente visto numa daquelas edições picaretas da Continental, com qualidade abaixo do lamentável. Mas que sombras impressionantes... Pau a pau com o "Nosferatu" do Murnau como o maior filme de vampiro já feito?

    Offret: Por mais que muitas das obsessões que fazem de Tarkovski um artista estejam presentes, este é o menos impressionante dos seus filmes que tive o prazer de assistir. Mesmo assim, é muito bonito. Às vezes se é filho, às vezes se é pai. Tamanha inocência...

    Zelig: O pseudodocumentário de Woody Allen chega a ser genial em alguns momentos, mas, no todo, não alcança o status de obra-prima. Mesmo assim, é genuinamente engraçado e incrivelmente bem construído, com um rigor que o diretor não demonstra já há algum tempo (por preguiça ou desleixo?). Merece figurar entre seus melhores filmes.

    In Her Shoes: É um tanto estranho o caso de Curtis Hanson: seus filmes são tão diferentes entre si que fica um tanto difícil definir sua personalidade (Mike Figgis e Richard Linklater, de quem gosto menos, vão pela mesma onda?), mas também são suficientemente acima da média para cativar minha simpatia _sem falar no seu lado cinéfilo, evidente quando ele é entrevistado em documentários sobre clássicos. Este aqui é um pequeno drama familiar, eminentemente feminino, que não irrita mas também não é nenhuma maravilha. O trio de atrizes principais é ótimo.

    Sin City: Na revisão da transposição para o cinema, por Robert Rodriguez, das HQs de Frank Miller, o filme, que já não tinha me encantado muito, cai ainda mais. Mas ainda assim se firma como bom entretenimento, mais devido ao enredo e, especialmente, ao elenco. Ou seja, mais uma bobagem divertida, que não precisava existir, mas não chega a incomodar.

    Two Mules for Sister Sara: Um dos filmes de Don Siegel estrelados por Clint Eastwood (embora Shiley MacLaine, que interpreta a personagem título, apareça antes nos créditos), o que obviamente cria alguma expectativa (ainda mais ao sabermos que o argumento é de Budd Boetticher, e a fotografia, de Gabriel Figueroa). Infelizmente, não é tão bom quanto eu pensava, embora seja razoavelmente divertido. Mas eles fizeram melhor.

    The Deadly Companions: Apesar de a edição da Aurora deixar a desejar (a qualidade da imagem não é das melhores, e dá a impressão de que o formato original não é fullscreen, como diz a capa), o filme de estréia de Sam Peckinpah é fantástico. Brian Keith (aqui como um sub-John Wayne, o que não é exatamente ruim) está ótimo, assim como Maureen O'Hara. O filme cai um pouco quando os coadjuvantes somem, mas tanto o início quanto o final são antológicos.

    Revenge of the Sith: A revisão do Episódio 3 me deixou mais ou menos na mesma: adoro algumas coisas de "Star Wars", enquanto outras me entalam na garganta. No final das contas, é um bom novelão e uma obra de vulto, George Lucas é legal e vai para o inferno.

    Willard: Que filme esquisito! Não é terror, não é comédia, não é nada: apenas uma deprimente história sobre um loser (Crispin Glover) cujos únicos amigos são ratos que surgem em sua casa e, sem razão nenhuma, começam a obedecer suas ordens, visando se vingar de seu chefe repressor. Sem pé nem cabeça, não chega a ser insuportável (até porque traz Laura Harring, a morena de "Mulholland Dr."), apenas estimula a pergunta: "Por que este filme existe?".

    Les Yeaux Sans Visage: Graças à srta. Ana Paul, fui apresentado à interessantíssima obra de Georges Franju, de quem ninguém fala. Vejam, para crer. O DVD da Magnus Opus está recheado de extras interessantes, incluindo duas ótimas (porém curtas) entrevistas com o diretor e seu segundo filme, o documentário em média-metragem "Le Sang des Bêtes".

    P. S. O melhor: "The Public Enemy"; o pior: "Harry Potter and the Goblet of Fire".

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