A gruta é mais extensa do que a gruta

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    sábado, setembro 20, 2008


    Milhem Cortaz e Vanessa Prieto em "Nas Duas Almas"

    Não posso deixar de comentar mais duas experiências recentes de exibição de trabalhos em que estou envolvido. O primeiro foi na Sessão do Comodoro passada, quando o segundo curta-metragem dirigido pelo Vebis que montei teve sua segunda exibição pública _mas agora na versão finalizada, mais curta (mas não tanto quanto eu gostaria _típico de montador). Eu tenho um nível extremo de autocrítica e é muito difícil eu gostar muito de algo que tenha feito, mas confesso que, apesar de alguma ou outra coisa no vídeo me incomodar (a não ser quando o incômodo é proposital, como na cena das meninas _ela realmente foi pensada pelo Vebis para ser irritante, e a montagem picotada foi feita para gerar este efeito), confesso que me emocionei com a cena no bar, na qual o Milhem Cortaz (excelente _e como disseram dois mestres, Carlos Reichenbach e Inácio Araújo, que muito nos honraram com suas visões, é a primeira vez em que ele aparece glamourizado, como herói romântico, e funciona) conclui que "amar deixa a gente velho" _talvez a grande fala do filme. Também fiquei muito feliz com os vários elogios à minha cena preferida, a da briga no carro, justamente a que mais desafios me apresentou na montagem. Parabéns ao Vebis, e espero que essa nossa parceria renda outros frutos _já temos projetos em vista, vamos nessa.

    (Update: Leandro Caraça também escreveu sobre "Nas Duas Almas". Perdôo ele ter errado meu nome por ele ter pedido aplausos para minha montagem, hehehe.)


    Gustavo Engracia com a camiseta que cita Humberto Mauro

    A outra foi a exibição de "A Volta do Regresso" no 6º Curta Santos, numa sala clássica da cidade, o Roxy Gonzaga _que também seguiu a onda e se tornou um multiplex. A maioria das projeções do filme tem apresentado problemas diversos _desta vez, o que me incomodou foi o estado da cópia, já bastante deteriorada. O filme agradou e recebi muitos elogios durante o debate, mas eu gostei bem menos dele. Faz dez meses que ele foi finalizado e, com a poeira baixando, fica mais claro para mim que eu gosto bastante do elenco e da trilha sonora, acho o roteiro bom (embora eu quisesse ter feito melhor e não tenha conseguido, está infinitamente acima da média do que se faz para curtas) e todo o resto deixa a desejar (talvez eu esteja sendo um tanto cruel, mas é o que sinto no momento). Mas também sinto um certo orgulho ao não conseguir negar que, apesar de todos os seus problemas, este filme realmente cumpre o papel que eu queria que ele cumprisse: o de ir na contramão de tudo que é considerado aceitável, de "bom gosto", "correto", "na moda". Enfim, ele se nega a perpetuar os dogmas do stablishment e a manter o status quo deste nicho _que, como tudo, apresenta uma série de vícios revoltantes, que induzem ao conformismo e ao pensamento único, duas pragas que atacam a arte. Mesmo assim, nos deram um prêmio, o de Melhor Som (o que é curioso, pois o som da cópia, toda arranhada, estava péssimo, com mais chiado do que vinil velho); achei estranho não existir o prêmio para roteiro, que certamente mereceríamos (o que não quer dizer que levaríamos, muito pelo contrário). Também fiquei feliz com a merecida premiação do colega Milton do Prado pela montagem do filme "Odeon" _aliás, ele também deveria ter ganhado este prêmio em Brasília, mas a atuação do júri ali foi simplesmente vergonhosa.


    ***
    Vi menos filmes do que de costume no último mês, a falta de tempo anda apertando cada vez mais. Ainda assim, vou avançando devagar e sempre nessa constante luta pela formação de repertório, infelizmente desacompanhada de uma reflexão mais aprofundada, novamente por falta de tempo. Dentre as várias belezas que vi no período, talvez a que mais tenha me impressionado é "The Savage Innocents", de Nicholas Ray, visto pela primeira vez em sua janela original. O filme se equilibra entre o didatismo para tornar palatável ao civilizado a selvageria e o registro da natureza no que ela tem de bela e terrível, sem grandes arroubos moralizantes _vemos imagens que podem ou podiam ser tabu (justamente um dos temas do filme), como um urso sendo arpoado (que abre o filme) ou a nudez da atriz francesa (sim, parisiense) Yoko Tani (que, segundo o Imdb, trabalhou no primeiro filme de Juan Bajon!). Findo este primeiro ato, temos cenas maravilhosas, como as que mostram os choques de cultura entre os esquimós idealizados do filme (em grande comunhão com a natureza, com direito a narração explicando o ciclo alimentar) com o homem branco, claramente criticado ("suas leis se tornaram maiores do que eles" é uma das frases ditas no filme) _e um final previsível e sublime. Um dos primeiros papéis de Peter O'Toole, que pediu para ter seu nome retirado dos créditos, por ter sido dublado por outro ator. Outro filme que vai fundo na crueza é "Nobi" (aqui, se não me engano, é "Fogo na Planície"), de Kon Ichikawa (que trabalhou por mais de 70 anos e viveu quase 100 _morreu em fevereiro deste ano). É impressionante não apenas por retratar a miséria da guerra (a Segunda Guerra Mundial, no front das Filipinas) ou por ser belissimamente realizado: o que me chamou a atenção foi o retrato nada heróico dos japoneses _muito diferente do registrado recentemente por Clint Eastwood em seu "Cartas de Iwo Jima" (cujo DVD está aqui em casa, sei lá quando vou revê-lo). Aqui, o que importa é sobreviver a qualquer custo: as personagens não se furtam de matar, pilhar cadáveres e partir para o canibalismo. Eiji Funakoshi (que tem um semblante bastante ocidental) está absolutamente fantástico como o malfadado Tamura; a transformação física pela qual ele passa durante o filme é impressionante. E como já fomos para o Japão, vamos emendar direto com "Akibiyori", antepenúltimo filme de Ozu. Assim como "Bom Dia" era uma variação de "Meninos de Tóquio", "Dia de Outono" está obviamente relacionado a "Pai e Filha", feito 11 anos antes (até mesmo a tradução dos títulos para o inglês ressalta o parentesco: se o primeiro era "Late Spring", este é "Late Autumn"). Naquele, Setsuko Hara era a filha que não queria casar para não deixar o pai sozinho; desta vez, ela é a mãe cuja filha (Yôko Tsukasa) reluta em abandonar, apesar de estar na idade de casar. O estilo único e brilhante do diretor volta a se manifestar com clareza, em um de seus filmes mais simples (no qual o conflito se apresenta bem cedo); a maneira como ele dá vida a espaços vazios, que servem de transição de tempo e espaço, é única.

    Como, na cronologia que estou seguindo (da qual me desvio algumas vezes, como fiz também neste mês, ao ver dois curtas de Man Ray, "Emak-Bakia", de 1926, e "Les Mystères du Château de Dé", de 1929, sempre muito divertidos _também vi o "Orphée" do Cocteau, de1950, para finalizar a trilogia), estou no início dos anos 1960, a França está bombando. Os maiores destaques foram "Les Bonnes Femmes" (1960), de Chabrol, e "Cléo de 5 à 7" (1962), de Varda. O primeiro, um breve acompanhamento da vida de algumas garotas que trabalham em uma loja, é grandemente dedicado a registrar a boçalidade das pessoas, em algumas cenas longas (como a da piscina), outras desconcertantes de tão ridículas (a do restaurante), outras mais irônicas (a do zoológico). Há um personagem misterioso com o qual Chabrol vai do macabro ao bizarro. Há também alguns momentos simplesmente bonitos (mas com uma atmosfera kitsch), mas nada supera a beleza das atrizes, em especial de Bernadette Lafont (lançada por Truffaut em "Les Mistons" e na ativa até hoje, mais de 150 trabalhos depois), Stéphane Audran (mulher do diretor) e Clotilde Joano (ironicamente, a que morreu jovem). O segundo é famoso por mostrar a história em tempo real (na verdade, das 17h às 18h30 _mas com momentos em que a montagem brinca com o tempo, inclusive com uma série de planos que servem como um pequeno flashback) de uma cantora que aguarda um resultado de um exame médico que pode comprovar uma grave doença. O filme abrange uma gama variada de emoções, do desespero ao humor (com um ponto alto na seqüência que homenageia os filmes mudos), passando pelo romance, pelo erotismo, pelo elogio à arte e o comentário político _e, claro, dando um bom espaço às chansons. Corinne Marchand está absolutamente maravilhosa como a protagonista, e Jean-Luc Godard aparece numa ponta como ator (há muitas outras participações especiais). Godard (além de Chabrol e Demy, mas a estes não reconheci) também aparece em "Paris Nous Appartient", de Rivette, que arma uma trama razoavelmente complexa (que envolve, basicamente, arte, política e romance), mas não a "mastiga" nem a desenvolve de maneira convencional _o que não enfraquece necessariamente o filme, mas pode afastar quem se apega mais ao enredo do que às personagens. O menos memorável dentre estes contemporâneos é "Tirez sur le Pianiste", de Truffaut, que é rápido a ponto de ser vertiginoso, confuso e entediante (apesar de curto), mas tremendamente irônico, bem-feito e cheio de mulheres bonitas (com destaque para Michèle Mercier). Algumas cenas impagáveis tornaram-se clássicas, como aquela em que Boby Lapointe canta "Framboise" (uma canção sobre um nobre tema).

    Ainda fora da língua inglesa, parei para ver, com certa tristeza, o último filme de Fritz Lang, "Die 1000 Augen des Dr. Mabuse": apesar de dar sinais de ser antiquado, é um avanço em relação a seu díptico indiano. Em ritmo muito rápido, traz uma série de clichês de filmes de espionagem (da qual Lang é mesmo pioneiro) e, novamente, um mestre do crime com uma trama maligna (cortesia do falecido Dr. Mabuse _mas é uma pena que Rudolf Klein-Rogge também já estivesse morto). E novamente voltei à Índia, para mais um filme de Satyajit Ray, "Devi": a vida de uma família se transforma após um homem sonhar que sua nora é a reencarnação da deusa Kali. Sharmila Tagore, linda, encarna divinamente a personagem. Ray registra imagens e sons (a música parece ser muito importante na cultura indiana) com invulgar beleza, é um desses grandes estetas do cinema.

    De volta aos EUA, o grande destaque mesmo é "The Hustler, o penúltimo e mais conhecido dos dez filmes que Robert Rossen dirigiu. É incrivelmente "cool" quando Paul Newman está em evidência (e sua personagem faz o que faz melhor ou pelo menos fala sobre o assunto) e fica mais pesado e desequilibrado quando Piper Laurie ganha mais destaque. Longo e desigual, ainda assim é um belo filme, com boas montagem e trilha sonora e um elenco espetacular: George C. Scott e Jackie Gleason arrebentam _a curiosidade é Jake LaMotta, o "Touro Indomável", fazendo uma ponta como bartender. Quanto a "Imitation of Life", eu queria antes ter visto a versão anterior, de Stahl, mas na falta desta fui de Sirk (seu último filme nos EUA). Embora não seja seu melhor, novamente é um poderoso melodrama focado em personagens femininas _os homens quase sempre aparecem como meros acessórios, o que não chega a incomodar, já que o oposto acontece bastante em filmes "de macho". Além do óbvio tema da maternidade, estão também colocados aqui a questão da carreira (no caso da personagem de Lana Turner) e do racismo (com uma bela atuação de Juanita Moore). Sandra Dee e Susan Kohner (outro destaque; pena que não teve longa carreira) completam o elenco principal.

    Quem também pintou de novo por aqui foi John Ford, com "The Horse Soldiers" e "Sergeant Rutledge", ambos enfocando mais uma vez o exército norte-americano no final do século XIX. O primeiro retrata ao mesmo tempo uma missão ousada do exército do Norte na Guerra de Secessão, uma discórdia entre um coronel durão (John Wayne, claro) e um médico (William Holden) e os naturais problemas causados pela presença de uma mulher (sulista) em meio à tropa. O segundo, mais cruel e político, mistura o western de cavalaria (com direito a matança de índios apaches) e o drama de tribunal, acrescido da discussão racial: Woody Strode é o sargento acusado de estupro e assassinato, e Jeffrey Hunter (o Jesus de "Reis dos Reis") é o seu defensor na corte marcial. A música e o senso de humor um tanto machista voltam a dar as caras.E também fui de Cukor, com "Let's Make Love", o penúltimo filme completo de Marilyn Monroe. O início dá a entender que vem por aí uma grande comédia, mas as coisas esfriam muito quando Yves Montand assume o papel principal. Marilyn, ótima em seu registro habitual, é a co-estrela, mas aparece bem menos do que ele e faz muita falta (parece que houve uma briga do Arthur Miller para aumentar o papel dela _não foi o suficiente). O enredo é uma bobagem completa e só vale para que vejamos alguns números musicais _mais uma vez, ambientados no teatro_ e tenhamos algumas participações especiais de estrelas como Milton Berle, Bing Crosby e Gene Kelly, interpretando a si mesmos. Mesmo assim, temos um momento antológico: a primeira cena de Marilyn, "My Heart Belongs to Daddy". E, finalmente, visto na mesma Sessão do Comodoro que apresentou o "Nas Duas Almas", "The Thief", o segundo filme de Russel Rouse, que trabalhou mais como roteirista. A proposta dele aqui é fazer um filme completamente desprovido de diálogos _ou seja, é diferente do que fazer simplesmente um filme "mudo". Inspirando-se em Fritz Lang e Hitchcock para filmar uma história de espionagem estrelada por Ray Milland (que está a cara do Gary Cooper), acaba cometendo alguns pecados, como o de ter de apelar para atuações exageradas (ou seja, voltando mesmo no tempo) e de ser um tanto desgastante _o final meio besta, mas talvez típico de uma produção já em plena paranóia da Guerra Fria, também joga um balde de água... fria. Vale destacar a belíssima Rita Gam, em seu primeiro filme, e a maravilhosa trilha sonora de Herschel Burke Gilbert.

    As séries da vez são a segunda temporada de "That '70s Show" (na qual os grandes desenvolvimentos são a perda da virgindade de Eric e Donna e o rompimento de Jackie e Kelso) e a terceira de "Prison Break", a mais curta, por causa da greve dos roteiristas. Não é de surpreender que seja a pior (até porque o plano de fuga _que já não é mais o original_ é obviamente muito menos complexo do que o primeiro). A verdade é que a série já esgotou seu potencial, e fica difícil se reinventar. O curioso é que a prisão panamenha onde a temporada se passa foi claramente inspirada no Carandiru.

    10 comentários:

    Marcelo V. disse...

    Aproveito para emendar mais um parabéns ao Milton, já que o "Ainda Orangotangos" ganhou o prêmio de melhor longa em Milão.

    Marcelo V. disse...

    Aliás, preciso registrar a dantesca visão que tive ao adentrar o trabalho: um carro veio puxando um busto gigantesco (no estilo "bonecão de Olinda") da Dra. Havanir, cria do Enéas que está se candidatando a vereadora em São Paulo. Como se isso não bastasse, os alto-falantes tocavam uma versão da trilha sonora de "Rocky", com a candideata vociferando como de costume. The horror, the horror.

    Aproveito para pedir desculpas pelos vários erros contidos no texto deste mês. Não tive o menor saco de revisá-lo.

    Anônimo disse...

    Olha Marcelo


    Realmente eu amaria muit ver meu curta nos festivais e que olhassem quem produziu e vissem que foi um band of brothers!

    Queria que olhassem ao montador e dissessem: olha eh o mesmo daquele curta lah.

    Poxa....saiu resultado do cineesquema novo e tb nao entrei....vou comecar a doar meu filme em puteiro, bar noturno, pelo menos assim alcanco gente pra ver filme....triste desanimar.

    Mas o curta da mosca me animou...

    Obrigado, e se Nas Duas Almas prestou apenas pra que nossa parceria se firmasse, agora sei o porque Nas Duas Almas serviu...
    Valeu Marcelo

    Marcelo V. disse...

    Vebis, não dá para desanimar por causa de algo tão tosco e irrelevante como os festivais de curtas. Estamos carecas de saber que os melhores filmes muitas vezes não são premiados nem selecionados; o triste mesmo é ver que um pensamento único está entranhado nas cabeças ocas dos pseudointelectuais e nas panelinhas que governam o cinema brasileiro, e quem não reza de acordo com a sua cartilha sempre será marginalizado; bem, melhor ser marginal e passar os filmes nos puteiros do que ser um vendido safado e passá-lo nesses podres bordéis de luxo.

    Daniel disse...

    Oi, Marcelo, tudo bem? Queria te pedir um favor. Meu nome é Daniel Cordova. Eu trabalhei na montagem da ópera "Dido e Enéas", em que conheci o Gabriel Madeira e combinamos um trabalho, mas o telefone que ele me passou não funciona. Vi q ele trabalhou com vc em "A volta do regresso". Será que vc poderia me passar o e-mail dele? Meu e-mail é danielcordova@uol.com.br.

    Marcelo V. disse...

    Daniel, tente o gabriel_madeira@hotmail.com. Boa sorte!

    Apesar das minhas críticas não exatamente aos festivais, mas aos dogmas seguidos cegamente por uma parcela dos "especialistas" que neles trabalham, não dá, de jeito nenhum, para apoiar o chilique do Barretão contra a proliferação das mostras. Reclamar que o dinheiro neles investido daria pra fazer sei lá quantos filmes é uma bobagem, já que o gargalo cinematográfico nem está na produção, mas na disbribuição/exibição. "Temos que acabar com essa farra. Não podemos apoiar qualquer biboca por aí", disse ele à coluna da Mônica Bergamo. Também acho que muitos projetos tranqueiras não merecem um tostão furado (ou mesmo prêmio em festival)...

    Marcelo V. disse...

    Paul Newman é citado neste texto, por eu ter visto "The Hustler" há menos de duas semanas de sua morte. Foi um gigante. Falando em gigantes, morreu também o Gigante Brazil, grande batera _da última vez que o vi, ele estava tocando em um dos meus bares preferidos, o Drake's (ali no prédio do Consulado Britânico, onde também está a sala de cinema da Cultura Inglesa), no qual foram filmadas duas cenas de "A Volta do Regresso".

    Marcelo V. disse...

    Ganhei um ingresso para ver "O Nevoeiro". Claro que o filme já tinha saído de cartaz.

    Saymon Nascimento disse...

    Marcelo, como sempre, muito bom ler vc. Em tópicos:

    1 - Eu amo o fato de que Clèo das 5 às 7 é tão leve a apaixonante como o resto da nouvelle vague, mas claramente marcado por uma visão feminina. Parece bobagem, mas destaca na hora: mesmo linda Corinne não é amada pela câmera como Moreu, ou Anna Karina; ela conquista a imagem porque o filme tá preocupado com ela por dentro. Engraçado esse conceito do filme de mulher: eu vejo Lost In Translation de Sofia Coppola e não deixo de ver a semelhança entre o jeito que Scarlett e Corinne são filmadas. Muito bom.
    2 - Eu adoro The Hustler, que para mim é gêmeo de outro filme que amo muito, Punhos de Campeão, de Robert Wise. Às vezes confundo cenas dos dois. Não é apenas por causa da surra, mas por uma sensaçãop estranha de redenção, perda e pessimismo - tudo junto - que há nos dois filmes. Eu vejo e sinto a falta de alento.
    3 - Muito boa Constance Towwers em The Horse Soldiers. William Holden é dos meus atores favoritos, e ele é forte contraponto pro valente Wayne. A idéia de civilização vs bravura se inverte em Liberty Valance, logo depois: se antes o médico "perdia" na balança do filme, o político vai passar a predominar no filme seguinte. Isso, claro, com todos os cinzas de que Ford é capaz.
    4 - Montand é afetado e estranhamente efeminado em Let's Make Love. Que estranho. As canções são todas boas.
    5 - Eu gosto muito da filha de Juanita Moore em Imitação da Vida. Dia desses soube que ela é mãe dos irmãos Weitz.

    Marcelo V. disse...

    Saymon, obrigado pelos comentários. Não tenho dúvidas de que há diferenças quando há uma mulher por trás da câmera, mas já vi mulheres retratarem outras mulheres de uma maneira cruel e vulgar que nem o mais misógino dos homens conseguiria...

    "Punhos de Campeão" me impressionou bastante da primeira vez que o vi (quando nem sabia quem era Robert Ryan) e caiu um pouco no meu conceito quando o revi, no ano passado (provavelmente uma nova revisão deve me fazer gostar mais do filme, eu vivo nessa gangorra), mas todos esses filmes me lembram de que, assim como "Rocky", eles não são sobre esportes e não teriam razão de ser sem as personagens femininas (emboras elas possam parecer, à primeira vista, um empecilho ou um comprometimento). O desafio do cinema narrativo é muitas vezes conseguir abarcar algo ao mesmo tempo são simples e complexo.

    Na platéia