A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quinta-feira, julho 20, 2006

    Ênio Gonçalves em "A Volta do Regresso"

    Money makes the world go round...

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    É impressionante como a parte mais emocionante de "Superman Returns" são os créditos iniciais, com o tema do John Williams (chupado do "Also Sprach Zarathustra" do Richard Strauss _o filme do Kubrick foi homenageado em mais de um plano) e as letras que "voam" (daí pra frente, lamento dizer que é ladeira abaixo). Há alguns bons momentos, basicamente um apanhado de alguns belos planos, de forte significado simbólico (citações às HQs, a outros filmes, a pinturas, ao imaginário cristão _ou seja, Singer se saiu melhor homenageando do que criando, o que me parece um pecado), mas a ligação entre eles funciona pouco, o conjunto é decepcionante. No geral, o filme é muito morno, carece de charme e fantasia (destaque negativo em especial para o vôo da Lois com o herói, horrível) que existiam nos três primeiros filmes da série antecessora (que já não era nenhuma maravilha). Seu grande destaque, sem dúvida, é o Brandon Routh, perfeito como o protagonista (colado na interpretação de Christopher Reeve, a quem o filme é dedicado, mas sem chegar a superá-lo); já a Lois de Kate "bonitinha-mas-ordinária" Bosworth é um desastre total (heroína sem um pingo de sal não dá, até a Teri Hatcher conseguiu lhe imprimir mais personalidade...). Spacey não compromete como Luthor, Sam Huntington, o Jimmy Olsen, está bem, e o James Marsden, muito bom, consegue se destacar muito mais aqui do que nos três filmes dos X-Men juntos. Lamento muito que o Bryan Singer não tenha tido a mesma sacada que o Peter Jackson em "King Kong" e levado o Super-Homem (Superman é o cacete) para seu habitat natural, os anos 1930, deixando para trás esta idéia infeliz de ficar ligado à série iniciada pelo Donner. Faltou ambição, faltou coragem, e deu no que deu, uma "sessão da tarde" efêmera, em vez de um blockbuster memorável como "X-2" ou "Homem-Aranha 2".

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    Ainda no espaço aéreo: sempre desconfio de que os infames filmes-paródia têm fôlego curto, mas "Airplane!" (aqui no Brasil, "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu") é um dos raros que se seguram ao serem revistos (com mais de 25 anos de idade, este já pode ser considerado um clássico). Nem todas as piadas são engraçadas, mas várias são antológicas (e boa comédia é aquela sobre a qual se comenta após vê-la, para gargalhar novamente). Mas o melhor do filme é a sua ousadia: não faltam drogas, sexo, blasfêmias, violência e infâmia, em doses que Abrahams e os Zucker nunca mais repetiriam (e que nunca foram exibidas na Globo; quem não viu a versão sem censura não sabe o que está perdendo)...

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    Quando "As Good as It Gets" ("Melhor É Impossível", aqui no bananal) estreou, em 1997, o TOC ainda não estava "na moda"; como ninguém sabia o que era, todos achavam o que a personagem do Jack Nicholson (numa atuação muito aquém de seus melhores momentos) era um excêntrico, e não doente _portanto, mais simpático e menos sofrido. O que há de realmente interessante aqui é o jogo que se desenvolve entre o trio de protagonistas (no qual o imenso destaque é Greg Kinnear, revelado aqui, praticamente perfeito), que experimentam revoluções em suas vidas e se contaminam. Uma pena que o filme tenha ficado tão aquém de seu roteiro. É verdade que o "Espanglês" é bom? Sei não...

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    Enquanto o filme do James L. Brook foi superestimado, outro que mistura drama e comédia, "Melinda and Melinda", do nosso amigo Woody Allen, é uma delícia que apanhou injustamente. O roteiro é inteligentíssimo, o elenco está ótimo, o ritmo é uma beleza, há momentos engraçadíssimos e outros de partir o coração, decupagem, fotografia e direção de arte são adequadas, e a personalidade do diretor está evidente em cada frame. Uma delícia para quem é fã do quatro-olhos.

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    Uma decepção tremenda é o "Hostel" ("O Albergue"), do Eli Roth, corroborado pelo Tarantino (com quem deveriam aprender como se filma uma cena de mutilação). Esperava ver algo próximo de um Takashi Miike (que faz uma ponta), mas fica a milhas de distância. Vale minimamente a pena por nos apresentar Barbora Nedeljáková, bela e boa atriz, que, curiosamente, é especialista em marionetes. Dizem que "Saw" ("Jogos Mortais") é melhor, mas não consegui passar dos primeiros 10 minutos nas duas vezes em que tentei ver o DVD...

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    Já o grande êxtase cinematográfico do período foi finalmente ver por inteiro "Francesco, Giullare di Dio" ("Francisco, Arauto de Deus"), mais uma amostra do porquê de Rossellini ser um dos maiores cineastas de todos os tempos. Seu recorte da vida de São Francisco de Assis e de seus discípulos (com destaque para o atrapalhado Ginepro), narrado em pequenos episódios à moda da literatura da época, é desses filmes para assistir de joelhos.

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    A morte do Syd Barrett me pegou de jeito (agora eu entendo as pessoas que choraram quando o Ayrton Senna morreu, dizendo que parecia que tinham perdido alguém da família). Fiz uma pequena homenagem ao músico maluco aqui.

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