A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quinta-feira, fevereiro 16, 2006

    Filmes vistos entre 01/02 e 15/02

    Mês corrido, em plena pré-produção de curta-metragem (estou em fase de casting, caso alguém conheça bons atores em torno dos 60 anos, agradeço se me contatarem), então são menos filmes e menos atualizações. E a tendência é piorar. Melhorar, na verdade.

    Rou pu tuan zhi tou qing bao jian: Um nomão todo desses é traduzido para o inglês como "Sex and Zen", apresentado na Sessão Dupla do Comodoro de fevereiro. Como disse Carlos Reichenbach, a história do homem que se submete a um transplante de pênis com um cavalo é uma espécie de "O Bem-Dotado Homem de Itu" filmado pelo Zhang Yimou. Divertido, vale mesmo pelas criativas e incomuns cenas de sexo (o diretor parece ter um fetiche por seios, hmm), mas o final é deveras moralista. Também é meio confuso, mas nem tanto por causa da narrativa, mas porque as mulheres (todas lindas) são parecidas demais!

    3 Cortes: É a primeira vez que edito o conteúdo de um texto após publicação aqui, mas como normalmente me expresso de maneira contundente (e o texto escrito só potencializa isso, além de conferir perenidade a explosões passageiras), fui, num acesso momentâneo de revolta que não dizia respeito a um caso isolado (foi apenas um estopim para um desabafo), deselegante e ofensivo ao comentar um evento (criticado por outras pessoas, por sinal) ocorrido durante a sessão de exibição deste DVD com três curta-metragens banhados em sangue (um deles do colega André ZP, do blog Palace Hotel). Aconteceu o seguinte: Antes da sessão, um dos diretores (que apresentou ótimo trabalho de maquiagem/efeitos nos três curtas), a quem eu não conhecia, falou algo como "curta-metragem que não seja experimental não vale nada"; tal idéia, apesar de comum entre cineastas e aspirantes, eu considero radical, limitadora e dogmática. Além disso, considero que o discurso difere da prática, pois, como discutido nos comentários que me estimularam a publicar esta parcial "mea culpa" (no que tange ao termos agressivos que irresponsavelmente empreguei anteriormente, os quais obviamente me arrependo de ter usado; minhas convicções, no entanto, seguem as mesmas), este rótulo "experimental" é empregado de maneira errônea, já que, acredito, todo filme nasce de uma experiência, e não é a mera opção por forma e conteúdo mais "extremos" (adjetivo que o Carlão costuma usar) que vai conferir uma qualidade superior à uma determinada obra (a questão é polêmica, merece longa discussão e não será esgotada aqui). O que eu queria deixar claro é que não se tratou de um ataque pessoal ou uma tentativa de desestimular os leitores deste site a entrarem em contato com o DVD; pelo contrário, eu havia elogiado o curta "Coleção de Humanos Mortos", na minha opinião o que melhor desenvolveu suas personagens, seu aspecto visual e seu "clima" geral. Como também havia escrito anteriormente, os três filmes estão acima da média dos curtas brasileiros recentes de terror que tive a oportunidade de ver (normalmente, bem precários). Foi apenas o caso de um acontecimento infeliz seguido de uma reação exagerada e injusta, à qual todos estamos sujeitos; mas é claro que não me eximo de minha parcela de culpa, da qual espero me redimir com este texto escrito com mais calma. Agora, voltamos à programação normal.

    Tystnaden: Produção de 1963 batizada no Brasil como "O Silêncio", é o filme de maior carga erótica do Bergman que já vi. Faz jus ao título e traz de brinde a deliciosa Gunnel Lindblom, uma espécie de pré-Liv Ullmann.

    La Femme de l'Aviateur: Se não me engano, é apenas o segundo ou terceiro filme de Rohmer que vejo. Falsamente simples, prende a atenção do espectador durante cenas bem longas, após um começo meio desinteressante (a partir da cena no parque, o filme "decola").

    Desperado: Gosto bastante do Robert Rodriguez, embora suas qualidades e defeitos muitas vezes se confundam (por exemplo, filmar rapidamente e ser oportunista). Mas este filme (o único da trilogia do mariachi que ainda não tinha visto) decepcionou bastante, apesar da Salma Hayek pelada. Mas há cenas divertidas com Steve Buscemi e Tarantino. Já o curta "Bedhead" (1990), feito em família e que vem nos extras do DVD de "El Mariachi", é ótimo. E suas "10 Minute Shooting School" são indispensáveis.

    Monsters, Inc.: É claro que o trabalho de animação é impressionante (especialmente quando as criaturas são peludas), mas como o que vale mesmo é a história, este aqui deixa a desejar. Engraçado que o Nemo (ou o pai dele, sei lá) faz uma participação especial...

    The Bourne Supremacy: Diversãozinha bem inofensiva e esquecível, bastante inferior ao primeiro filme (que ainda tinha algo de eletrizante). Pelo menos Damon parece um pouco mais à vontade no papel de astro de ação _para o qual, convenhamos, ele não tem o physique du rôle.

    Meet Joe Black: Filme folhetinesco, antiquadíssimo, apelativo (a trilha sonora é revoltante), mas que conta com um enredo muito bom (apesar dos clichês _o final é extremamente previsível, o que não é exatamente um problema, já que é muitíssimo satisfatório) e um elenco em grade forma. O resultado é um filme muito gostoso de assistir, apesar de suas (até que justificadas) três horas de duração. As cenas com a velhinha jamaicana (justamente as últimas a serem filmadas) são grandes. Curioso o fato de o diretor ser o mesmo de "Beverly Hills Cop"...

    Count the Hours: Produção da RKO, de 1953, dirigida por Don Siegel e batizada por aqui de "Medo Que Condena". O filme, com apenas 76 minutos de duração, é fraco especialmente por causa do roteiro, muito simplório e esquemático. Produção tipicamente "B" (a trilha sonora à base de theremin lembra Ed Wood), foi exibida numa mostra de "film noir" no CCBB, em cópia lamentável e... dublada (da época em que locutores de rádio, e não atores, faziam o serviço). O resultado são risos onde não deveriam existir, graças às gírias antigas (a mais absurda é quando um policial se surpreende com uma informação e exclama: "Barrabás!").

    Videodrome: Impressionante como eu me lembrava pouco do filme, que é mesmo a cara do Cronenberg, relacionando-se especialmente com "Scanners", "The Fly" (ambos superiores) e "Existenz" (praticamente uma reciclagem). Mas está longe de ser meu preferido dele. Pena que Debbie Harry aparece tão pouco...

    Barton Fink: A revisão confirma: trata-se de um grande filme. Joel Coen é "estetizante" (como gostam de dizer por aí), mas isto não interfere no retrato cruel do artista, exposto com uma sofisticação rara. O último plano, com a queda da gaivota, é genial. "I don't know."

    Good Night, and Good Luck: Filme sério, ético e relevante no contexto atual. Classudo, com senso de humor, ótimo elenco, bom roteiro e direção discreta de Clooney. Um tapa de pelica na mídia e uma reafirmação dos verdadeiros valores democráticos. Ah, e tem uma trilha sonora... Mas não é nada que vá mudar a sua vida.

    Before Sunset: Não tenho uma lembrança muito boa do "Before Sunrise" (que vi na Globo), que, apesar de minimamente agradável, me irritou devido a um pedantismo excessivo, mas talvez condizente com aquelas personagens chatíssimas. E, realmente, o início deste é bem desanimador, mas depois a conversa (incrivelmente natural) vai se tornando interessante justamente por deixar de ser excessivamente pessoal e chegar perto de ganhar uma qualidade de uma canção dos Beatles. O fato de o filme ser praticamente em tempo real ajuda muito no ritmo, a canção de Julie Delpy é maravilhosa (felizmente, não é lido um techo do livro do Hawke) e terminar com Nina Simone é um tremendo de um golpe baixo...

    Brokeback Mountain: Estava contando com um final poderoso para que o filme não fosse uma decepção. Felizmente, a obra (bom melodrama folhetinesco) vai crescendo bastante e traz, além de uma bela trilha sonora, uma atuação magistral de Heath Ledger. Muito triste e muito bonito, é o meu preferido do Ang Lee até o momento.

    The Adventures of Sharkboy and Lavagirl: Estritamente infantil, baseado na imaginação do filho de Robert Rodriguez, Racer Max, que criou as personagens aos 7 anos. É bem clichê, mas está em sintonia com seu tempo e não idiotiza seu público-alvo.

    Fun with Dick and Jane: Entrei num shopping para fugir da chuva forte. Como ela aparentemente duraria um bom tempo e faltavam apenas dez minutos para o início deste, não tive outra escolha. Felizmente, não sou uma dessas pessoas esquisitas que odeiam o Jim Carrey (pelo contrário, acho que ele é um dos melhores do mundo), então deu para o gasto. E, apesar de cômico, o filme lida apenas com assuntos bem sérios e é um retrato interessante dos EUA à beira do século XXI. Vai ser interessante revê-lo daqui uns 20 anos...

    Blood Simple: Primeiro e pior filme dos Coen. Claro que há aqui uma semente do que eles fariam bem melhor depois (como o maneirismo com a câmera), mas faz falta, principalmente, o senso de humor.

    Shine: Não tinha dúvidas de que este filme seria bem chatinho; a surpresa (não de todo desagradável) é que a incensada presença de Geoffrey Rush está em menos da metade do filme. O óbvio destaque são as seqüências em que o piano é tocado.

    The War of the Roses: Tenho uma simpatia enorme pelo Danny de Vito, e o humor negro presente em seus filmes costuma ser bastante agradável. O que me chamou mais a atenção na revisão deste aqui é a misoginia (pensando bem, uma certa constante nos seus filmes): apesar do talento natural de Michael Douglas em interpretar babacas, fica para a ótima e sumida (coitada, não se segurou bem depois de envelhecer) Kathleen Turner o papel da mal-amada... A cena mais cruel é a da zombaria com o cachorro, coitado.

    Du Rififi Chez les Hommes: Engraçado como este filme de Jules Dassin não ganhou um título diferente em português... Seco e violento, traz um ótimo Jean Servais como um Bogart mais lacônico e casca grossa. A ausência de som em certas partes do filme contrasta com a nada sutil trilha sonora (as músicas com a banda são melhores). A decupagem é fantástica. Mesmo assim, não me empolgou tanto quanto outros filmes do gênero, acho que vai crescer numa revisão.

    Syriana: Realmente lembra "Traffic" (cujo roteirista agora é diretor), com a diferença de que aquele era mais estilizado e se debruçava mais sobre as personagens. Também lembra o superior "O Jardineiro Fiel" na relativa (e, em última instância, falsa) complexidade e na abordagem de um problema global envolvendo grandes corporações (os Estados realmente foram subjugados pelo mercado), mas a verdade é que o filme é até ingênuo. Está na moda...

    On Connait la Chanson: O filme de Resnais, batizado por aqui como "Amores Parisienses", é um tanto longo demais, mas a brincadeira com as bem-humoradas canções francesas antigas (na linha "estou apaixonado, foda-se o mundo") e com a bregaiada tecnopop dos anos 80 são hilariantes. E aquelas águas-vivas, hein?

    Dona Flor e Seus Dois Maridos: Foi a primeira vez que vi este filme de uma tacada só (sempre pegava trechos na TV), mas, infelizmente, numa lamentável edição em DVD com a maldita tela cheia. Mesmo assim, dá para ver que o filme é muito feliz, mesmo com problemas técnicos (especialmente o som, as partes dubladas ficaram límpidas demais, os ambientes causam estranheza excessiva). O elenco está ótimo, e o filme é repleto de boas cenas e imagens marcantes. Quem diria, Bruno Barreto...

    Cabra-Cega: Inferior a "Latitude Zero", traz alguns poucos bons momentos (como parte da cena ao som de Sérgio Sampaio e o final), mas a verdade é que filme de baixo orçamento não deveria querer significar filme precário. Dá a impressão de um trabalho preguiçoso ou malfeito de propósito (câmera e montagem são lamentáveis), mas isso seria superestimar os criadores. Mas não é excruciante, e o destaque vai mesmo para as atuações de Leonardo Medeiros, Michel Bercovitch e a ponta de Milhem Cortaz.

    Ópera do Malandro: Gosto muito do Ruy Guerra (só copiei o DVD porque há um documentário fantástico sobre ele), mas este não é um de seus melhores filmes. Também gosto bastante do Edson Celulari, bom ator e raro galã de verdade, um Carlos Zara contemporâneo. Apesar de alguns truquezinhos de câmera (a praia de Guerra é sempre essa brincadeira com espaço e tempo, coisa de cineasta de tutano), o filme não decola por causa do enredo, mal amarrado às músicas de Chico Buarque (o disco é mil vezes melhor). A piadinha final é muito vagabunda.

    P. S.O melhor: "Barton Fink"; o pior: "Shine".

    P. P. S. Para quem se liga nessas efemérides, esta é a 200ª entrada neste caro diário cinematográfico, em quase quatro anos.

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