A gruta é mais extensa do que a gruta

    follow me on Twitter

    segunda-feira, janeiro 02, 2006

    Filmes vistos entre 16/12 e 31/12

    2005 já era; eis o relatório dos últimos filmes vistos no período _quase todos em Votuporanga, onde passo o período das festas tentando descansar mais e festejar menos (objetivo parcialmente conquistado). O lógico próximo passo seria tentar elencar os melhores do ano, o que apenas deverá ser feito graças ao Alfred, o prêmio anual da intrépida Liga dos Blogues Cinematográficos...

    Monter's Ball: A revisão não mudou as coisas: continua um drama razoável, simples, mais maduro do que a média do cinema americano. A cena de sexo entre Halle Berry e Billy Bob se destaca, obviamente.

    The Manchurian Candidate: Por mais que Jonathan Demme (um cara obviamente legal) e equipe tenham se esforçado para fazer um filme diferenciado do original de Frankenheimer e do livro, o resultado ficou estranho, datado. Mas o elenco está muito bom.

    The Fall of the Roman Empire: É impressionante como este filme de Anthony Mann (diretor de um dos meus faroestes preferidos, "Winchester '73") é, ao mesmo tempo, datado e atual. O grande destaque (além de Christopher Plummer, Alec Guinness e James Mason) é mesmo a lição moral que contém. Já não se pode dizer o mesmo de "Gladiador", o quase-remake meia-boca do Ridley Scott...

    The Nightmare Before Christmas: Na verdade, antes do título do filme tem um Tim Burton's, que assina produção, argumento e desenhou as personagens, mas roteiro e direção ficam a cargo de outrem. Danny Elfman manda bem. Fico me perguntando se as crianças gostam ou não, seria assustador demais para os pequenos?

    Frankenweenie: Média-metragem (29 minutos) que o Tim Burton fez em 1984, quando trabalhava para a Disney. Homenagem bela e sincera aos filmes de James Whale, mostra que Burton já tinha imaginação fertilíssima (carregada de humor negro), com noção das partes mais sombrias da psique infantil. E eu simpatizo horrores com a Shelley Duvall, ninguém mandou ser esquisita. Li no Imdb que a Sofia Coppola atua, não a reconheci...

    Il Gattopardo: Este é um desses filmes que só melhoram ao serem revistos. Que enquadramentos, que música, que elenco, que direção de arte, que Visconti!

    Aguirre, der Zorn Gottes: O que seria do progresso se não fosse a preguiça? Há algo de tão fascinante em Klaus Kinski... Mas eu ainda prefiro "Fitzcarraldo".

    Les Triplettes de Belleville: Claro que há méritos, como o da evidente personalidade (francesa, inclusive) no traço, a clara homenagem a Jacques Tati e à ousadia de fazer um longa em animação praticamente sem diálogos. Mas a verdade é que a história é tão chata que desperdiça personagens interessantes (quem rouba a cena é Bruno, o cão que adora latir para trens e tem ótimos sonhos em preto-e-branco). Tem Mozart na trilha sonora!

    Raiders of the Lost Ark: O grande trunfo deste filme (e da trilogia) é o seu senso de humor, o fato de o projeto não se levar muito a sério. Mas mesmo com algumas gags inesquecíveis, eu não consigo deixar de achar os filmes de Indiana Jones bem chatinhos (especialmente depois que fiz 12 anos)...

    Indiana Jones and the Temple of Doom: O pior e mais infantil (apesar de ser considerado "dark" por Spielby e Lucas) da trilogia mantém a fórmula do humor adicionado a ação rocambolesca, mas perde muito do contexto histórico (sinto falta dos nazistas como vilões) e, inclusive, geográfico. Mas os primeiros 20 minutos são antológicos (talvez o melhor momento da trilogia): Spielby não só mata um pouco sua vontade de dirigir um musical (Cole Porter rules totalis), como coloca Indy de terno branco a la James Bond, além de tornar Kate Capshaw, mesmo que momentaneamente, uma espécie de Rita Hayworth dos anos 80...

    Indiana Jones and the Last Cruzade: A verdadeira continuação de "Caçadores da Arca Perdida" adiciona à história o James Bond original (o que finalmente traz algo de mais interessante à série) e traz River Phoenix de bônus em mais um prólogo divertidinho, mas acaba enchendo o saco pelas incansáveis e cansativas cenas de ação (tem perseguição de moto, de cavalo, de tanque, de avião, de trem, de zeppelin, de lancha, meu deus, parem um pouco!)... Mas mesmo ficando no meio do caminho, ainda assim é o melhorzinho dos três.

    The Producers: Caiu bastante na revisão, com exceção das performances de Zero Mostel, da bichinha grega e do tal de L.S.D., além de Lee Meredith e das garotas com pretzels e espumas de cerveja nos peitos. Mesmo assim, só o fato de o filme ser tão politicamente incorreto já o torna minimamente interessante. It's springtime for Hitler and Germany, winter for Poland and France!

    Oldboy: Apesar de cair na revisão (sendo que eu nem tinha gostado tanto da primeira vez), não consigo achar "Oldboy" ruim. É o típico filme que obviamente perde impacto ao ser revisto, mas tem potencial de causá-lo à primeira vista, o que talvez explique sua condição de obra superestimada. Se bem que eu acho mais um problema de falta de exigência do espectador em geral, que gosta de se impressionar com pouco...

    The Exorcism of Emily Rose: Para um filme com este título esdrúxulo (obviamente, só vou ver este tipo de coisa no pardieiro imundo conhecido como Cine Votuporanga, devidamente acompanhado de minha mama), até que não está mal. Mas não deixa de ficar na gangorra entre a tolerância e o obscurantismo... Pelo menos não ofende, e a atriz que faz a Emily é bem bonitinha.

    Modern Times: Se por um lado o canto (literalmente) de cisne do Vagabundo é um retrato de seu tempo (e Chaplin era bom nisso), por outro é um filme atualíssimo, além de continuar sendo um marco quase insuperável de qualidade cinematográfica. Só os dois primeiros planos já anunciam uma das maiores obras-primas da sétima arte. E o que é a Paulette Goddard descalça? Ah...

    The Graduate: Estava devendo uma revisão para o filme de Mike Nichols desde a morte da Anne Bancroft, mas a revisão de "The Producers" (que tem o mesmo produtor) acabou dando uma forcinha... É uma obra muito feliz, que acerta no casting (Katharine Ross é tão linda...), no diretor, na trilha sonora, enfim, merece o status de clássico. E para mim é sempre bom rever minha querida Berkeley, onde fui tão feliz...

    Limelight: A lembrança que tinha do último filme norte-americano do Chaplin era a de um sentimentalismo excessivo. Bem, ou minha memória é ruim ou eu ando cada vez mais sensível (provavelmente, ambos), mas a história do palhaço Calvero e da bailarina Terry não só não me pareceu exagerada ou simplória, mas essencial. A canção das pulgas me arrancou gargalhadas.

    Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver: Impressionante a superioridade desta seqüência em comparação com o original. Zé do Caixão é um personagem de uma riqueza absolutamente fenomenal, perfeito na interpretação de Mojica, nos figurinos, nas falas, na caixinha de música que toca "Tico-tico no Fubá"! Muitíssimo bem filmado e com elenco e trilha sonora exemplares, é motivo de orgulho para o cinema brasileiro. Obra-prima!

    O Estranho Mundo de Zé do Caixão: A revisão deste filme reforça bastante o fato de José Mojica Marins ser um cineasta por excelência: parece que ele nasceu para se comunicar por imagens. O episódio "Tara" (que, apesar do nome e da necrofilia, é muito bonito) é exemplar. A curiosidade maior é ver Luís Sérgio Person como ator, no episódio "O Fabricante de Bonecas" _por sinal, uma espécie de "Os Olhos Sem Rosto" (do Franju, comentado há pouco por aqui) ao contrário...

    Manhattan: É perigoso quando você se identifica tanto com alguém, cuja personalidade lhe parece tão familiar? Bem, é o que acontece comigo e com o Woody... "Manhattan" não é exatamente um dos filmes dele de que mais gosto (não entraria num top 3, creio) e é claramente um filme pequeno, mas, ao mesmo tempo, é razoavelmente abrangente (fatalmente, Allen se repetiria, o que pode prejudicar o filme como unidade, não sei se sou claro). O mais interessante é que, ao vê-lo pela primeira vez, ele simplesmente me partiu o coração; agora, revendo-o, ele me soa muitíssimo mais otimista. Por sinal, o último diálogo do filme, um plano-contraplano entre ele e Mariel Hemingway, deve ser a maior interpretação de toda a carreira de Allen: ele não consegue fixar o olhar nela por muito tempo, e quando ela diz "you have to have a little faith in people" (para mim uma das frases mais marcantes do cinema), ele dá uma série de variações de um sorriso de Mona Lisa sobre as quais daria para escrever uma tese...

    Constantine: Revisão da adaptação pouco fiel, mas longe de revoltante, da célebre HQ "Hellblazer", que eu tive a oportunidade de traduzir para o português durante um tempo. Vale, principalmente, pelas participações especiais de Tilda Swinton e Peter Stormare (este, hilário como um Lúcifer cheio de senso de humor).

    Giordano Bruno: Vale pelo caráter educativo _não só historicamente, mas eticamente. Ah, e pela Charlotte Rampling, jovem e pelada. A câmera de Vittorio Storaro e a interpretação do Gian Maria Volonté também não fazem feio. O dono da Versátil é espírita?

    Zatoichi: Eu adoro filmes de samurais, e este aqui não deixa de empolgar durante as cenas de carnificina (estilizadas, cheias de sangue); mas senti falta de personagens mais carismáticos, profundos (neste quesito, o "Brother" dá de mil a zero). Surpreende o senso de humor e a bizarrice da trilha sonora _especialmente no final, com aquele número de dança aparentemente despropositado. Uma pequena decepção.

    Ritual dos Sádicos (O Despertar da Besta): Revisão do fantástico e censuradíssimo filme de José Mojica Marins, sobre os efeitos das drogas na juventude dos anos 60. Psicodelia (novamente, a alternância entre p&b e cor), ousadia, invenção: apesar de inevitavelmente datado, é um trabalho memorável, quase milagroso. Todo mundo assobiando com o dedo pra cima!

    Assault on Precint 13: Filminho de ação que aparentemente quer homenagear o filme de John Carpenter (que ainda não consegui ver), que, por sua vez, homenageava "Rio Bravo" e "The Birds". Mas fica somente como um "Supercine" divertido, valendo justamente pelas cenas de ação (que falham ao criar tensão, por sinal) e pela gostosa ninfomaníaca (faltou nudez, tsc, tsc). Os personagens (interpretados por elenco famosinho) estão tão mal construídos...

    Comedian: Documentário produzido pelo Jerry Seinfeld em 2002, quatro anos após sua famosa série de TV chegar ao fim, mostra sua volta às raízes, os tais clubes de comédia que pululam nas grandes cidades dos EUA e do Canadá e que não existem por aqui. O mais interessante é mesmo mostrar a tradição desses comediantes que fazem stand-up, com o Seinfeld expressando sua admiração por figuras como Lenny Bruce e Bill Cosby e sendo conselheiro dos mais novos, que tentam chegar ao sucesso... A tensão é grande, impressionante.

    Anchorman: The Legend of Ron Burgundy: Filme visto graças à indicação do Vebis. Comédia maluca que serviu para lançar Will Ferrell como protagonista. Christina Applegate, a lendária Kelly de "Married with Children", passa meio despercebida num personagem mais sem sal. Além de Tim Robbins, ótimo em uma ponta, quem se destaca mesmo é o homem do tempo, o personagem mais engraçado. Loud noises!

    Fantastic Four: O Quarteto Fantástico tinha potencial de dar origem a uma série tão boa quanto a dos "X-Men", mas infelizmente não capricharam no roteiro, no elenco e no resto, e o que saiu foi mais um filminho para adolescentes descerebrados. É muito triste nivelar por baixo, não tinha como não ser um fracasso. Estes personagens ainda merecem ser revisitados, desta vez com o devido respeito.

    The Ice Storm: Após a revisão deste filme do Ang Lee, fico na mesma: é mais um draminha repleto de clichês, mas com um grande elenco (destaque para Kevin Kline, além de Christina Ricci e Sigourney Weaver). Algumas boas piadas dão umas breves levantadas no filme, que, no final das contas, acaba se destacando mais por compreender um tanto melhor a essência do Quarteto Fantástico do que o próprio filme do tal de Tim Story...

    Catwoman: Apenas ligeiramente inspirado na personagem da HQ, este filme alcança píncaros de incompetência realmente fabulosos. Como é que o tal de Pitof e seus asseclas conseguiram? Que falta de vergonha!

    The Island: O que é aquela fotografia escabrosa, ainda pior que a do padrão Conspiração? Pelo menos tem a Scarlett Johansson e uma cena em que muitos carros são destruídos (esse Michael Bay...).

    P. S. O melhor: "Modern Times" (menções honrosas para "Il Gattopardo" e "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver"); o pior: "Catwoman" (detesto concordar com o Framboesa de Ouro, mas desta vez não deu para evitar).

    Nenhum comentário:

    Na platéia