A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quarta-feira, fevereiro 09, 2011

    Cinema para sentir pena

    Eu nem ia escrever sobre "Cisne Negro", mas o filme está sendo tão comentado e dividindo opiniões de forma tão radical que fica irresistível _ e como tenho buscado que este blog volte à sua proposta inicial, a de comentar filmes que estão em cartaz (tem sido raro vê-los, então as publicações também o serão, ufa)...

    Tenho lido muita gente que gostou do filme novo do Darren Aronofsky dizer que se sentiu impactada por ele. Entendo, mas isso me dá a impressão de que se trata de gente que não viu muitos filmes _ em especial, filmes dignos de passar na Sessão do Comodoro (onde vi há pouco "Born of Fire", fantasia mística de inspiração muçulmana). Não é um filme aterrador, longe disso; faz alguma menção a "Carrie" por causa das figuras da mãe castradora e da filha sexualmente reprimida, mas o sobrenatural dá lugar a um psicologismo raso, óbvio.

    Como resultado, o filme se torna muito previsível _ e mesmo que essa previsibilidade não existisse, ainda assim o clímax da narrativa não é muito poderoso. Chega a ser banal dizer que fica a milhas de distância de "Os Sapatinhos Vermelhos", mas não posso deixar de aproveitar a oportunidade de recomendar o filme de Powell & Pressburger (não vi aquele do Altman com a Neve Campbell, mas seria interessante compará-los). E também achei muito pertinente a recomendação (não me lembro se de Marcelo Miranda ou de Sérgio Alpendre) de "Showgirls", maravilhoso e injustiçado filme de Paul Verhoeven, como contraponto ao flébil filme do seu Arô (por outro lado, não pesquei muito bem as referências do Ailton a "Clube da Luta", mais surpreendente ainda, e "A Mosca".

    Mas como eu disse que entendo quem se diz impactado por ele, ao final da exibição eu tinha sentido que tinha visto o "menos pior" do diretor. Isso porque dias antes eu tinha visto "O Lutador", defendido por muitos como o ponto alto de sua carreira (curiosamente, deve ser seu filme menos pretensioso e mais despojado), mas que não me impressionou. Vá lá, Mickey Rourke entrega mais uma grande atuação e carrega o projeto nas omoplatas, mas o desleixo da câmera, a obviedade de certas tramas (a relação com a filha é extremamente insatisfatória e, novamente, óbvia, assim como o retrato da stripper/mãe de Marisa Tomei) e o final meio covarde são alguns problemas graves. Há, sim, cenas muito boas, como a de The Ram trabalhando como atendente simpático de supermercado, a que ele mostra o videogame inspirado nele feito para o velho Nintendinho (e o menino que joga com ele fica falando de "Call of Duty") e a que o filho da stripper se diverte com o boneco do protagonista, mas são apenas bons momentos em um filme que também não vai fundo.

    Basicamente, dois defeitos fundamentais do Arô: falta de sutileza e falta de profundidade. Mas, convenhamos, são duas qualidades bastante difíceis de alcançar, em especial no cinema. Quem sabe um dia...

    Curiosamente, pouco depois eu vi o primeiro filme de um diretor da mesma geração que também divide opiniões de maneira radical, o Christopher Nolan. Seu primeiro longa (na verdade, quase isso: tem 69 minutos apenas), "Following", já foi comparado ao "Pi" do Arô (não vi nem tenho vontade), mas não sei se a comparação procede ou é apenas por causa do preto e branco ou porque são longas de estreia. Pareceu-me mais influenciado pelo Tarantino dos dois primeiros longas, anunciando a mistura temporal que voltaria em "Memento", o filme que o consagrou, mas que também é considerado uma bobagem por muitos (se não me engano, o Inácio Araújo o chama de "Desejo de Matar de trás para a frente").

    A obra segue a cartilha do noir ao pé da letra, levando a ação para a Londres contemporânea. Estão lá o golpista (que se chama Cobb, nome que reaparecerá em um filme pior, mas mais famoso), a femme fatale, o bandidão, o ingênuo, o policial. A história é contada em três tempos e aos poucos vamos vendo, também como esperado, que "ninguém é o que parece". É um filme esperto, sabiamente curto, e há que se dar o crédito a Nolan por tê-lo escrito, fotografado e dirigido antes de completar 30 anos. Se ele descer das tamancas, pode entregar coisa boa.

    ***

    Last, but not least: teaserzinho para o "Rarefactum" (não chega perto de dizer o que é o filme, mas adianta algumas imagens).

    8 comentários:

    LEOH disse...

    Fiquei cansado só em pensar em assistir este filme, não vou não...

    Marcelo V. disse...

    Compreendo perfeitamente esse sentimento.

    Marcelo V. disse...

    Estou saindo de férias e durante as próximas três semanas devo ficar um tanto afastado da internet. Mas no dia 14 de abril, 9º aniversário desta bodega, deve entrar no éter a tradicional lista dos melhores filmes vistos no ano. Não deixem de perder.

    Anônimo disse...

    Vi o seu blog.

    www.cimonanilla.blogspot.com

    Marcelo V. disse...

    Obrigado pela visita!

    A Turma da Lulu disse...

    Cara... finalmente alguém que não vai me bater por dizer que não gostei de Cisne Negro. Não tenho essa eloquencia toda em discorrer sobre tantas "praias" cinamatigráficas, mas até Natalie Portman que tinha me ganhado em Closer me pareceu enfadonha. Na boa... tem filme beeeeemmmm melhor! E bem mais impactante. Adorei as dicas e as críticas.

    Lu

    E a propósito... eu sempre tenho modos, mocinho! rsrsrs

    A Turma da Lulu disse...

    cinematográficas*! É a pressa, mas vc entendeu, né?

    Marcelo V. disse...

    Lu, seja benvinda e volte sempre. Eu acho a versão de "Closer" para o teatro muito melhor que a do cinema (o autor da peça deixou tudo muito mais leve para Hollywood e piorou seu trabalho; vendeu-se, uma pena).

    Na platéia