A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quarta-feira, janeiro 24, 2007

    "Maravilha, Marcelo! Meu amigo e diretor!
    Sou pouco dado às entradas netianas, mas, de repente, deparei-me comigo mesmo numa aparição filmada pela queridíssima e especial Ana Paul, durante nossa folga corporativa, de alvissareiras filmagens. Disse e falei coisas que me pareciam do âmago. Afloravam idéias a rodo. Estava feliz. Estava no meu habitat.
    Angustiamo-nos, querido Marcelo, acho, a troco de pouco ou nada. Mas ainda assim, vale a pena existir como cineasta tupiniquim: sem grana, mas com muita gana. Você e eu e os, que pela coragem ou pela inconsequência de uma paixão(?), participamos desse louquíssimo ritual celulóidico, a troco de sonhos. Honra-me, amigo, digo-lhe novamente, haver interpretado Costão à sua batuta de diretor criador. Acredito no teu filme como se fora um poema à intolerância humana. Acredito em cada fotograma por mais desfocado que seja.
    Sempre parabéns, e, no aguardo de premiações mil, beijo-te afetuosamente.
    Carlo Mossy "

    ***

    Eu nem estava sabendo, mas ontem saíram as indicações para o Oscar... E eu com isso?

    Quando posso, até assisto às transmissões das premiações, mais para ver se rola algum discurso fora dos padrões, se as atrizes vão ridiculamente empetecadas e se algum dos "perdedores" (eles não gostam do termo, mas Kirk Douglas, sim) faz cara de tacho. Mas meu interesse não vai muito além disso, principalmente porque acho que o prêmio tem muito pouco a ver com cinema e com tudo o que me faz gostar da sétima arte; é um evento corporativo, celebração caipira e breguíssima de realizações bastante duvidosas, com importância (grande, reconheço) relegada ao comércio dos produtos desta indústria.

    Outra coisa: eu detesto competições. Nos festivais (mais interessantes que eventos como Oscar, Globo de Ouro, Emmy, Grammy, Profissionais do Ano etc.), saber o resultado das premiações também não faz meu estilo; o que busco, na cobertura desses eventos, é justamente as reações aos lançamentos, os comentários das sessões, as entrevistas. Sempre achei e sempre acharei estranho colocar obras de arte de qualquer tipo em competição; é como disse o Nick Cave, ao recusar um prêmio da MTV européia: "Minha musa não é cavalo de corrida".

    Mesmo assim, não deixo de ler a cobertura caprichada e intensa do meu amigo Chico Fireman em seu oscarBUZZ (altamente recomendado para quem se liga no prêmio), embora estranhe imensamente este acompanhamento febril de resultados e estatísticas que me lembram muito os fãs de esporte, que dedicam parte de seu tempo a fazer cálculos das chances de seus times ganharem um campeonato. Cada louco com sua mania: sejamos tolerantes, embora críticos; ou, citando Peréio em "Bang Bang" (a obra-prima do Tonacci, não a novela), "eu não tenho nada a ver com isso".

    ***

    "O Espírito da Colméia", belíssima obra-prima de 1973 do bissexto diretor e roteirista basco Víctor Erice, veio recentemente à tona não apenas por ter entrado na lista das 60 obras internacionais que mais emocionaram o grande cineasta Carlos Reichenbach, mas principalmente por causa de "O Labirinto do Fauno", que contém algumas semelhanças bem pontuais. Apesar de eu ter gostado (mas não me entusiasmado) do filme de Del Toro (acima de tudo, por comportar de forma não-obscurantista o mundo de fantasia infantil, com os seus arquétipos mais poderosos, dentro de uma realidade política premente _algo que Shyamalan não conseguiu ou não quis fazer em seu também agradável "A Dama na Água", com seus adultos infantilizados), é muito diferente de seu antecessor, inclusive no quesito qualidade. O impacto de "El Espíritu de la Colmena" (um dos raros filmes realmente mágicos _e sem precisar da Industrial Light & Magic) é tão imenso que pede uma ou mais revisões antes de uma tentativa de análise; sobre a relação entre ambos os filmes, recomendo o excelente texto do meu colega Milton do Prado.

    ***

    Se bem me lembro, minha primeira matéria de capa para a Ilustrada, no início de 2000, foi sobre a estréia em São Paulo da montagem de "Closer" dirigida por Hector Babenco, em sua segunda investida nos palcos. Foi da boca dele que ouvi falar (mas não lembro se pela primeira vez) em "Cenas de um Casamento", a revolucionária série televisiva em seis episódios dirigida em 1973 por Ingmar Bergman (diretor cuja obra aprecio, mas que não figura no rol dos ídolos), que fez sucesso mundial e, segundo o diretor, impulsionou bastante o número de divórcios planeta afora... Graças ao lançamento em DVD pela Versátil, finalmente a vejo (inclusive após ter visto "Saraband", que retoma as mesmas personagens 30 anos depois) e me deparo com uma obra-prima: Liv Ullmann (menos embelezada do que de costume) e Erland Josephson estão fantásticos, assim como a fotografia de Sven Nykvist, solta dentro dos limites televisivos (abusa-se dos closes). A obra tem um clima bastante teatral, muito baseada nos diálogos, com planos muito longos, raras externas, e em pelo menos metade dos episódios apenas o casal protagonista aparece. Os cenários, progressivamente se tornam cada vez mais abstratos; a dramaturgia é de primeira.

    ***

    Apesar de 2007 prometer ser um ano de bastante trabalho (tomara), espero atualizar este espaço com mais assiduidade, com textos mais curtos (não é promessa, é desejo); fazia tempo que não rolavam dois textos no mesmo mês... Convido-os a continuarem acompanhando e, principalmente, comentando (porque quem visita e não comenta é como se não tivesse visitado, shame on you). Abraços!

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