A gruta é mais extensa do que a gruta

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    domingo, abril 02, 2006

    Filmes vistos entre 16/03 e 31/03

    O mês do quarto aniversário deste endereço é também o mês em que filmo meu primeiro curta-metragem em película (sendo que, além do "makinf of", o projeto é assunto de um documentário, e parece que uma equipe do Canal Brasil também vai ao set fazer uma reportagem) na função de diretor e roteirista (como montador, já tive a experiência de pilotar uma moviola). Obviamente, verei menos filmes do que de costume; atualizar, então, lá pro fim do mês. Mesmo o texto de comemoração do 4º aniversário, a ser publicado, se possível, no dia 14, vai ter de ser escrito às pressas e com antecedência... Mas é claro que é mais legal fazer seu próprio filme, por menor que seja e com todas as muitas dores e delícias que isto acarreta, do que ficar escrevendo sobre os dos outros... Desejem-me sorte, se quiserem.

    Dragon: The Bruce Lee Story: Cinebiografia bem romantizada (não poderia ser de outra maneira, é uma adaptação do livro escrito pela viúva) dirigida pelo mesmo mané que cometeria "Velozes e Furiosos" e "Triplo X". Eu me lembro do jogo de videogame para Super Nintendo, que, apesar de não ser grande coisa, é de longe o que há de mais memorável relativo a este projeto.

    Igby Goes Down: Filme chatíssimo, embora apresente um elenco interessante (em especial, Bill Pullman e Susan Sarandon _muita gente não gosta do Jeff Goldblum, mas eu simpatizo bastante com ele). Claire Danes estava tão linda em "Romeo + Juliet", aqui está só esquisitinha. O irmão do Macaulay é praticamente um clone dele (OK, o pequenininho, aquele dos dois "The Ring", consegue ser ainda mais feio, nem o Michael Jackson pega).

    The Manchurian Candidate: O filme do Frankenheimer inevitavelmente envelheceu, mas é obviamente interessante, em especial por suas ferrenhas e nem um pouco sutis críticas ao macarthismo (o que fica mais evidente após o filme do Clooney. Muito mais linear e com menos reviravoltas no enredo do que o recente remake, traz como diferenciais o vilão asiático bem-humorado (contrastando com os russos mais rígidos) e uma fantástica cena no início, mostrando os soldados interpretando uma mesma realidade de modos diferentes (artifício bastante usado em outros filmes não tão bons, mas interessante mesmo assim).

    Pride & Prejudice: A expectativa era grande devido aos comentários dos colegas e à boa lembrança do "Sense and Sensibility" do Ang Lee (que gostaria muito de rever). E, realmente, o filme é bom e provavelmente faz justiça ao livro de Jane Austen, mas eu esperava por algo melhor (no final, deu vontade de apontar para a tela e ficar gritando "Mulherzi-nhá! Mulherzi-nhá!"). Keira, que tem apenas 17 anos a mais que este blog, tem um sorriso encantador e ilumina o filme. Falando em luz, há um plano muito interessante, uma subjetiva da protagonista com os olhos fechados, dormindo ao sol _não me lembro de já ter visto algo parecido no cinema, um pequeno momento brilhante numa obra que não deve ganhar destaque na posteridade.

    Kung Fu: Mais um ótimo e impressionante filme multigênero de Stephen Chow (que, em breve, ganhará continuação), é o sétimo do diretor, dos quais eu apenas tinha visto o "Shaolin Soccer". Por um lado, é um filme de artes marciais que deixa os do Zhang Yimou no chinelo (tem um duplo sentido aqui, hehehe); por outro, também é comédia, é melodrama, é musical, é quase desenho animado. A trilha sonora e o design de som são irrepreensíveis, e os enquadramentos e movimentos de câmera, notáveis. Uma delícia, dessas de rever muitas vezes.

    Aleksandr Nevskiy: Traduzir um livro sobre a Segunda Guerra Mundial, que narra em parte a invasão da União Soviética pela Alemanha, me deu uma vontade desgraçada de rever esta obra-prima do período sonoro de Eisenstein. O que dizer? É fenomenal! Mas, além dos aspectos cinematográficos, é interessantíssimo ver como o filme, de 1938, já antevia o novo conflito entre os dois países, que ocorreria dentro de três anos... Sem dúvida, é de elevar a moral de qualquer tropa. Stálin era um assassino, mas não era bobo...

    O Primeiro Dia: O filme de Walter Salles e Daniela Thomas, sobre a virada para o ano 2000, se revelou uma decepção, embora eu também não tenha conseguido achar uma droga (felizmente, é bem curtinho, quase um média). Mas a maldita mania do Salles de criar planos "bonitos" e desnecessários, com aquela música apelativa, é de doer... Entretanto, o DVD vem com um curta, documentário, "Somos Todos Filhos da Terra", que é muito simples e muito bom.

    The Fisher King: Não sei por que, sempre tive preconceito contra este filme do Terry Gilliam _achei que era meloso, cheio dessas redençõezinhas e lições valiosas para a vida, pff. Mas a história do radialista meio cuzão traz alguns momentos engraçados (embora o timing não seja dos melhores), além do elenco, no geral muito bom. Robin Williams pode render muito, quando ganha um bom papel (o que raramente acontece).

    The Guns of Navarone: Tinha encasquetado que este filme era do David Lean (depois percebi que estava confundindo com "A Ponte do Rio Kwai") e levei um susto quando vi o nome do J. Lee Thompson (que é muito criticado por aí, mas que tem pelo menos um filme muito bom, "Return from the Ashes", com a "bergmaniana" Ingrid Thulin) na tela. Apesar do elenco estelar e do famoso tema do Tiomkin (a versão ska dos Specials é clássica), o filme é bem antiquado, frouxo e longo demais. Mas ele se priva de espancar nossos testículos, então dá para assistir.

    Com as Calças na Mão: O primeiro longa de Carlo Mossy, também estrelado por ele, é uma surpreendente comédia baseada numa série de esquetes (alguns paródicos, como o que ele faz um exorcista) com humor muitas vezes chulo, repleto de frases de duplo sentido (por exemplo, Mossy está comendo uma mulher no carro, chega o Tião Macalé e diz "Aí, malandro, é um assalto, nojento!", e a mulher responde "Ô, seu ladrão, o moço tá duro!"), mas também enriquecido por uns posicionamentos de câmera que o Walter Salles daria um braço para conseguir fazer. E o Wilson Grey está antológico como um taxista que manda os passageiros dirigirem, enquanto ele fica lendo as manchetes de um jornal "espreme-que-sai-sangue". Fantástico, quase inacreditável exemplo de comédia popular de qualidade (supera "Cassy Jones", por exemplo).

    C'était un Rendez-vous: Curta-metragem do Claude Lelouch, de quem não conheço muita coisa (pelo que dizem por aí, não estou perdendo nada). Lembra os games "Need for Speed", "Grand Theft Auto" e congêneres. O legal é que não se mete a mão na buzina (fiquei curioso para saber o modelo do carro)... Lembra também um motorista da Folha que me levava da Cidade do Rock, em Jacarepaguá, até o centro do Rio em menos de vinte minutos, na hora do rush, costurando nos túneis a 160 km/h. Mas o negócio mesmo é Monte Hellman, "Corrida sem Fim".

    Gokudô kyôfu dai-gekijô: Gozu: Mais um filme de Takashi Miike, visto por indicação do colega Ailton Monteiro. É ótimo, divertidissimamente bizarro, no final lembra um "Jules et Jim" japonês, mas eu gostei mais de "Ôdishon". "A mulher voltou ao normal depois que a colocamos na água quente."

    Fallo!: Filme bem decepcionante do meu querido Tinto Brass, lançado aqui num DVD bem porco, dublado em inglês. O erotismo alegre e despreocupado do diretor está ali, mas as histórias (são seis curtas em 80 minutos) são mal escritas, mal montadas, mal resolvidas _e o que é pior, só duas mulheres bonitas no filme inteiro (as européias não são muito chegadas numa depilação, deduz-se)!

    Yume: Irregular como em geral são os filmes em episódios, "Sonhos" começa muito bem (as duas primeiras histórias, estreladas por crianças, são as melhores) e realmente dá a impressão de serem baseadas em sonhos do Kurosawa, impressão que se enfraquece no decorrer da obra (em especial, as preocupações cada vez menos sutis sobre a devastação da natureza _a questão do pacifismo é melhor abordada em outro ponto alto, a história do túnel, que traz o melhor ator do filme, um cachorro). Um ponto bastante interessante é a recorrente contraposição entre o individual e o coletivo. A música é excelente, e ver Martin Scorsese interpretando Vincent van Gogh é obviamente um atrativo para cinéfilos.

    Janaína - A Virgem Proibida: Engraçado, enquanto o Roberto Carlos fazia aqueles filmes bem populares com o Roberto Farias (novamente em cartaz aqui em São Paulo, por sinal), o nosso amigo Ronaldo Lindenberg Von Schilgem Cintra Nogueira (também responsável por discos ótimos, mas anticomerciais, como "A Máquina Voadora") fez esta maluquice, dirigida por um tal de Olivier Perroy (de quem eu nunca tinha ouvido falar, mas que dirigiu a adaptação para o cinema da novela "Beto Rockfeller"), montada por Sylvio Renoldi e com música de Egberto Gismonti. O filme começa muitíssimo bem, com Ronnie, interpretando seu alter-ego Ricky, mandando ver a sua fantástica "Minha Gente Amiga", e segue assim até suas perambulações por uma Salvador estranhamente deserta após o Carnaval (as grande-angulares praticamente dominam), mas cai muito após o encontro com a personagem que dá título ao filme. Quem faz o irmão mais velho de Ricky é o Raul Cortez (de peruca? Ele não foi sempre careca?). Doideira total que deve ser mais divertida se assistida sob o efeito de "alteradores de consciência".

    L'Eclisse: Engraçado 2: Godard tem a fama de ser chato (até agora, apenas "Alphaville" entra na categoria), mas a pecha cabe muito mais a Antonioni. Que é chato, porém honesto: este filme, que fecha a tal da "trilogia da incomunicabilidade", realmente comunica pouca coisa. As cenas com casais deprimidos envelheceram mal e hoje soariam melhores se fossem irônicas, mas o filme melhora muito após Alain Delon entrar em cena. Engraçado 3: os planos finais lembram muito um documentário que gravei no ano passado, brr. E todo o cinema do mundo não vale um sorriso da Monica Vitti (especialmente quando está está caracterizada de africana, de longe o momento mais inesquecível do filme). O twist de Mina também é muito bom, lógico que dura pouco.

    Inside Man: O título original tem mais de um significado, que a tradução brasileira não abarca. Já o filme, é um belo exemplo de como um produto "hollywoodiano" pode ser uma obra de arte interessante. Além de se segurar como thriller (muito bem-humorado), traz grande quantidade de detalhes, referências, comentários, que o aproximam bastante de "A Última Noite" (talvez o supere) e que mostram que Lee ampliou bastante o escopo de suas preocupações. Adorei o clima noir no final. Falando em final, após o filme houve uma confusão na sala, parece que um homem esmurrou um rapaz que havia pedido para ele parar de ficar falando com a esposa durante a projeção. Acho que o caso acabou na delegacia...

    The 40 Year Old Virgin: Apesar de ter gostado muito de Steve Carell em "O Âncora" (outros dois astros do filme também pintam aqui _mas não o mais famoso, Will Ferrell), aqui ele é desperdiçado num filme indigente, excessivamente longo e mal estruturado, que não se decide entre comédia escrachada e comédia romântica moralista e que ignora a realidade. Arranca algumas risadas, traz umas peladas, mas no fundo este filme é um desserviço a seus espectadores. Os extras do DVD são melhores.

    Whisky: Belíssimo pequeno filme, talvez o único proveniente do Uruguai (tão perto e tão desconhecido) que já vi. Demora um pouco para decolar (o "prólogo", antes de o irmão chegar de Porto Alegre, é importante para estabelecer a rotina e a convivência das duas personagens centrais, mas só ganha maior sentido no excelente final), no entanto voa longe. Interessantes as citações ao Brasil _a mais pitoresca de todas, sobre o Tony Ramos, mostra o alcance das novelas da Globo. A menina cantando "Bicho Bicho" é encantadoramente o cúmulo do kitsch.

    Les Enfants du Paradis: Le Boulevard du Crime - L'Homme Blanc: Considerado "a resposta francesa a 'Gone with the Wind'" (coisa de marqueteiro), o filme do Marcel Carné com roteiro do Jacques Prévert é tão bem mais do que isso que obviamente não dá para expressar nestas poucas linhas. Então só vou destacar o brilhante elenco, em especial não apenas o Jean-Louis Barrault, famoso por seu Baptiste Debureau (que existiu de verdade), mas o Marcel Herrand, que faz um Lacenaire especialmente diabólico. As referências ao arquétipo do Pierrot têm e sempre terão ressonâncias fortíssimas (é um filme cujo viço nunca vai se esvanecer, um veidadeiro clássico), e de lambujem ainda temos "Othello" e mais, muito mais...

    P. S. O melhor: "Aleksandr Nevskiy" (meio em dúvida, porque há concorrência forte); o pior: "Dragon: The Bruce Lee Story".

    P. P. S. Escutando o "Also Sprach Zarathrustra", do Richard Strauss, não fica evidente onde o John Williams se baseou para criar o seu tema do "Superman"? Considerando que a personagem foi inspirada neste livro, fica mais óbvio ainda _mas eu só fui reparar agora...

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