A gruta é mais extensa do que a gruta

    follow me on Twitter

    quinta-feira, março 16, 2006

    Filmes vistos entre 01/03 e 15/03

    Falta um mês para o início das filmagens... As coisas estão correndo bem.

    Janghwa, Hongryeon: "A Tale of Two Sisters", filme coreano exibido na Sessão Dupla do Comodoro de março. Minhas expectativas eram altas devidos aos elogios, o que geralmente prejudica o filme; para piorar, estava muito gripado, o que certamente atrapalhou também (fiquei torcendo para acabar logo). Os clichês abundam, mas está longe de ser um filme ruim.

    Fausto 5.0: O segundo filme da Sessão Dupla do Comodoro foi esta versão espanhola (infelizmente exibida dublada em inglês) e contemporânea de "Fausto". Filme razoavelmente simples, considerando que dois de seus três diretores são do grupo teatral La Fura del Baus, famoso por suas performances radicais. Mas é uma delícia de ver, envolvente, com um belo de um elenco (e bota belo nisso quando se fala de Najwa Nimri, uma das musas do grande Julio Medém).

    The Great Race: Épico cômico de Blake Edwards (com direito a abertura, intervalo e música de saída) que eu havia visto há muitos anos na Globo e agora revi na janela correta. O óbvio destaque é Jack Lemmon como Professor Fate (uma espécie de Dick Vigarista, com direito a um assecla, Max, com o também ótimo Peter Falk) e como o risonho príncipe Hapnick. Mas é um tanto longo, Blake quis satirizar ao mesmo tempo os westerns, os capa-e-espada e muito mais...

    The Outlaw Josey Wales: Belíssimo filme de Eastwood, certamente um de seus melhores. É tão bom que nem dá vontade de falar muita coisa, apenas que Sondra Locke está linda como nunca.

    Vanilla Sky: Filme bem fraquinho do Cameron Crowe (que, apesar de simpático, não é lá essas coisas, mesmo), provavelmente bem inferior ao original de Alejandro Amenábar. O único momento realmente bom de todo o filme é uma seqüência que mostra Cruise e Cruz na cama ao som de Bob Dylan, para depois eles recriarem a capa de "Freewheelin'" (a referência não era nada sutil, mas infelizmente cometeram a besteira de deixarem tudo mastigadinho no final). Creio que o cinema de Crowe seria um tanto melhor se ele não fosse tão aficcionado por música _é uma atrás da outra, sem descanso (e aparentemente, sem muito critério que não seja puramente emotivo, mas a ponto de atrapalhar).

    Family Plot: O título brasileiro, "Trama Macabra", não chega nem perto de abarcar os múltiplos significados do original que batiza este último filme do meu herói Alfred Hitchcock, que eu nunca havia visto. O filme é brilhante, tremendamente inteligente, rocambolescamente divertido e com um subtexto erótico muito do safado (característica básica do diretor, que com o passar dos anos e o afrouxamento da censura tornou-se bem menos sutil). A trilha sonora de John Williams é curiosa, flerta com a eletrônica. Fico imaginando o que Hitch estaria fazendo se pudesse ter vivido e trabalhado até uns 150 anos...

    Ódio: Tido como o melhor filme dirigido por Carlo Mossy (que, curiosamente, acabou de me ligar do Rio, no momento em que publico este texto), revelado como ator em "Copacabana me Engana" e que posteriormente se dedicou às "pornochanchadas" (não sendo o caso deste aqui, de 1977), grosso modo é uma interessante mistura brazuca de "Straw Dogs" com "Death Wish", emoldurado por Villa-Lobos. Átila Iório se encaixa perfeitamente no papel de bandidão, e é impossível não sorrir quando Wilson Grey aparece numa pontinha.

    Crimes and Misdemeanors: Ter visto "Match Point" me levou a conferir este trabalho anterior de Allen, um dos pouquíssimos que ainda não tinha visto (apenas faltam "Manhattan Murder Mystery", "Deconstructing Harry" e "Melinda and Melinda"). Realmente é superior, com duas histórias diferentes, uma trágica e outra tragicômica, que, como esperado, se tocam bem no finalzinho. Há cenas hilárias, outras afetuosas, algumas de partir o coração... Mas aqui ele vai mais fundo numa série de questionamentos éticos, morais, religiosos, sem ser tão óbvio ou mais raso como em seu filme mais recente. E há pelo menos uma grande fala, digna de antologia: "A strange man defecated on my sister".

    Marnie: Finalmente vi esta obra menos popular de Alfred Hitchcock _o que não é de estranhar, já que não merece mesmo entrar no panteão de suas obras-primas (embora muita gente tenha cismado com este filme nos últimos tempos). Mesmo assim, é claramente um filme de mestre, repleto das características do diretor (alinhando-se com seus filmes mais "freudianos", digamos _ "Spellbound" em especial) e com vários momentos brilhantes.

    Vision of Light: Documentário sobre diretores de fotografia, obviamente interessantíssimo para todos aqueles que têm envolvimento com o cinema (assim seria se o assunto fosse montagem, trilha sonora, direção de arte etc.), mas não espetacular como obra em si. Básico, limita-se a entrevistas vários figurões que trabalharam nos EUA, como Vittorio Storaro, Gordon Willis, Sven Nykvist, Conrad Hall etc. Alguns planos (nem todos tão manjados) selecionados e comentados realmente são impressionantes...

    Snow White and the Seven Dwarfs: É muito curioso rever algo que me marcou tanto na infância, como as animações de Walt Disney (no cinema, inclusive, cheguei a ver "Pinocchio" e "Mowgli", quando não tinha mais que 6, 7 anos). Pela primeira vez com som original, fica evidente como o filme é datado não por causa da animação (já tão avançada e tão bem-feita neste caso que mal notamos alguma precariedade), mas pelo seu aspecto de musical dos anos 30. Mesmo assim, as músicas são excelentes, e o filme não é apenas um clássico, mas um marco da arte e da cultura do século XX.

    M*A*S*H: Certamente um dos melhores filmes de Altman, ganhador do Oscar pelo conjunto da obra deste ano, cresce muito na revisão. A sensação de comédia amalucada fica para segundo plano, já que, olhando de fora (de dentro a sensação deve se intensificar), a vida militar não parece mesmo muito normal...

    Le Chiavi di Casa: Melodrama bom e simples do veterano roteirista e diretor Gianni Amelio, que retrata a relação de pais com filhos com paralisia cerebral, sem grandes arroubos sentimentalóides e tratando os deficientes com muito respeito, como Browning e Cassavetes também fizeram. A surpresa fica por conta de Virgínia Rodrigues na trilha sonora. Visto após uma tentativa frustrada de pegar "Orgulho e Preconceito" (está difícil ver este filme, a distribuição em São Paulo foi porca...).

    Four Brothers: John Singleton, de quem não vi muita coisa (e, pelo visto, não estou perdendo tanto assim), foi convidado para dirigir esta espécie de faroeste moderno, que dá tom semi-épico a uma questão bastante localizada (um entre os muitíssimos clichês do filme). Longe de ser brilhante, serve para passar o tempo e esquecer no dia seguinte _mas também não é um atentado contra a ética ou a moral, considerá-lo como tal é levá-lo a sério demais. O filme serve para mostrar que o André 3000, do Outkast (é o do megahit "Hey Ya", caso alguém não saiba), é capaz de atuar (falando nisso, que medo desse filme do 50 Cent...).

    Robinson Crusoe: O primeiro filme em inglês de Buñuel deve ter sido um desses projetos de encomenda, que ele fez apenas para ganhar uma grana. É a única explicação para um filme tão preguiçoso e pouco imaginativo, indigno do grande diretor. O único momento minimamente interessante é uma cena na qual Sexta-Feira questiona o catolicismo, deixando Crusoe, pessimamente interpretado por Dan O'Herlihy (que ao final usa uma barba ridiculamente falsa), sem respostas. As cores no DVD brasileiro (como de praxe, vagabundo) estão deploráveis.

    Les Quatre Cents Coups: Tinha visto a estréia em longas de Truffaut há mais de dez anos, numa sessão no MIS sem legendas. A revisão confirma que se trata de um belo filme, mas que perde bastante em DVD. Engraçado que os extras do DVD informam que o título original é uma expressão francesa que significa algo como "fazendo travessuras", mas que foi traduzido ao pé da letra na maioria dos países (o Brasil safou-se da gafe batizando-o com o forte "Os Incompreendidos"). Perde feio para "Acossado", se é que a comparação é pertinente.

    P. S. O melhor: "Family Plot" (com menção honrosa para "The Outlaw Josey Wales"); o pior: "Vanilla Sky".

    P. P. S. O IMDB informa que hoje o meu ídolo da infância (junto a Monteiro Lobato, Chaplin e os Trapalhões), Jerry Lewis, faz 80 anos. Parabéns para o nosso aloprado favorito.

    P. P. P. S. Estava devendo aqui uma nota de pesar pela morte de Guaracy Rodrigues, o Guará. É assustador por eu justamente tê-lo considerado para interpretar um papel-chave em "A Volta do Regresso" (idéia da qual só desisti por ficar sabendo que ele estava radicado em Porto Seguro; de repente, no final do mês passado, ele aparece morto no Rio... Uma pena).

    Nenhum comentário:

    Na platéia