A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quarta-feira, maio 19, 2010

    Apontamentos

    Sempre que um novo ano deste blog começa, eu penso em mudanças, e uma das que mais ensaio levar a cabo é voltar a dar um intervalo menor entre os textos, também de tamanho menor. Vamos ver se desta vez dá certo. Mas antes de começar, esta primeira entrada do nono ano de atividade registra alguns apontamentos recentes.

    ***

    Aconteceu algo curioso quando o amigo Ailton Monteiro, acompanhado do Michel e da Ana (o Vebis ainda não tinha chegado), foi à minha casa, no dia 11 de abril, e viu pela primeira vez "A Volta do Regresso", antes de irmos à casa do Comodoro. Começou a sessão privê e não demorou para acontecer o que sempre acontece: começo a ver vários defeitos. Mas, em pouco tempo, lá pela quarta cena, eu acabei me perdendo dentro dele, fui sugado pela narrativa, pelas personagens... Apesar de conhecê-lo de cor e salteado, acabei vendo-o como um espectador qualquer, talvez pela primeira vez.

    O encontro também gerou uma entrevista (não é o link exato, mas do arquivo do mês; nada que uns "page down" ou um Ctrl-F não resolvam) do Ailton comigo. Falamos mais das circunstâncias em que o filme foi feito e de aspectos conjunturais que do curta em particular _ pena que não foi possível debatê-lo em profundidade, mas a quem mais isso interessa? Mas agradeço a generosidade, o interesse e o tempo que o Ailton dispensou comigo e com o filme. Uma honra, sem dúvida.

    ***

    Ugo Giorgetti fala coisas parecidas com as que falei ao Ailton em entrevista para o UOL. Esta frase em especial reflete muito minha experiência de rodar com um filme em festivais: "Fico um pouco triste com o jeito de ser profissional dos jovens cineastas. Eles confundem profissionalismo com talento."

    ***

    Não sei exatamente o motivo, mas algumas das coisas que observei em Paris e que terminei por não comentar (e não tenho arranjado muito tempo para terminar de publicar, em outro site, algumas das fotos da viagem) me vieram à cabeça com a chegada do frio. Entre elas estão os mendigos da cidade, pouco óbvios porque sempre estão muito bem agasalhados (o que também me lembra de como eu, com as minhas melhores roupas de inverno, devia parecer mulambento naquele lugar, onde o povo é chique e rico). O que os identificava mesmo eram os cartazes, invariavelmente com a frase "J'ai faim", sempre sem erros gramaticais. Aqui no Brasil nem universitário sabe escrever...

    Outra história: estava visitando o Jardim das Tulherias pela primeira vez, numa tarde com neve, e, concentrado em fazer fotos (o que não te faz se destacar na multidão e gerar temor de ser assaltado, como ocorre em São Paulo, já que gente com câmeras penduradas no pescoço é muito comum por lá), mal percebo uma velhinha simpática se aproximar. Ela me mostra um anel dourado, dizendo que acabou de encontrá-lo no chão. "Que sorte a sua", disse eu. Ela tenta colocar o anel em seu dedo, mas ele é bem maior e não serve, então ela o põe na minha mão e, sorridente, diz para eu ficar com ele (não sem antes me mostrar uma gravação na parte interna do anel que dizia que ele era "de ouro", no que de cara não acreditei). Agradeço, ela se despede e eu volto a me concentrar em tirar fotos.

    Uns 30 segundos depois, ela volta toda chorosa, pedindo dinheiro para comer. Na hora, soube que era um golpe. Ia devolver o anel, dizendo algo como "mas, se a senhora precisa de dinheiro, venda este anel", mas achei o golpe tão bonitinho e a velhinha tão simpática que resolvi ficar com ele como lembrança. Mas, mesmo na Europa, mantive o costume de quase não carregar dinheiro (até para comprar bilhetes de metrô e ingressos para museus eu usei cartão de crédito) e dei apenas 1 euro que consegui juntar com moedinhas _ o que já dava para ela comprar pelo menos duas baguetes. Ela achou pouco, sua cara sorridente mudou para uma de raiva e ela saiu falando (certamente me xingando) em uma língua que não o francês, creio que o russo ou outra de procedência eslava.

    Durante o resto de minha estadia, pelo menos umas cinco ou seis pessoas (sempre homens e jovens) tentaram o mesmo truque comigo, ali mesmo nos arredores do Louvre ou na Torre Eiffel, mas aí eu já não achava a mesma graça e os dispensava logo de cara. Teve um deles que até me deu um tapinha amigável nas costas, cumprimentando-me por não ser trouxa...

    2 comentários:

    Pips disse...

    Esse golpe do anel ocorreu comigo na Champs de Mars, ouvi um barulho evidente atrás de mim e o sujeito veio falar que deixei cair a minha aliança. Mas deu para ver que vinha outra pessoa por trás, provavelmente para bater carteira. Infelizmente, nesse quesito, os franceses não são mais ageis que os trombadinhas de São Paulo.

    E fico cada vez mais curioso de ver A Volta do Regresso, ainda não pude conferir. Você fechou a exibição com o Canal Brasil?

    Marcelo V. disse...

    Pips, esses golpes que tentaram comigo em Paris não tinham nada a ver com bater carteira, as pessoas agiam sozinhas. E em nenhum momento me senti fisicamente ameaçado.

    Aliás, achei extremamente desagradável o excesso de avisos na Torre Eiffel contra batedores de carteira, acaba gerando paranoia. Instaurar clima de medo em locais turísticos me parece um grande tiro no pé.

    O Canal Brasil continua interessado no filme, o problema é que a Ancine não nos ajuda com o CPB... E eu nem tenho tempo nem ninguém para me ajudar. Maldita burocracia...

    Na platéia