Mas vamos voltar para nossa linha do tempo, que está no início dos "revolucionários" anos 1960. À época ainda pipocavam obras que continuavam a seguir a linha dos filmes de gângsters que desembocaram no noir: é o caso de "Underworld U.S.A.", de Samuel Fuller, e de "The Rise and Fall of Legs Diamond", de Budd Boetticher. O primeiro, chamado por aqui de "A Lei dos Marginais", é uma história bastante simples de crime e vingança. O destaque é mesmo a crueza habitual de Fuller ao retratar a covardia e a violência: homens brutais não pensam duas vezes em ferir e matar _de preferência, mulheres e crianças primeiro. O segundo volta à Lei Seca e acaba parecendo uma homenagem a títulos como "Public Enemy", "Scarface" e, indo bem mais atrás no tempo, ao pioneiro "The Great Train Robbery", de Edwin S.Porter. Curiosamente, um texto no Imdb associa a interpretação de Ray Danton (que não me chamou muito a atenção, a não ser pelo fato de ele ser parecido com o David Schwimmer, o Ross de "Friends" _ele encerrou a carreira como diretor de TV, em séries como "O Incrível Hulk", "Mike Hammer" e "Magnum") ao padrão que logo seria adotado por Sean Connery como James Bond. É um dos primeiros filmes de Warren Oates, mas quem chama a atenção mesmo é Elaine Stewart, que parece até a encarnação da Jessica Rabbit, de tão gostosa _mas que não aparece pelada, para alívio de muitos atores.
Outros filmes me lembraram as notícias da atualidade no país do Tio Sam. Foi curioso ver "Advise & Consent" (1962), de Preminger, em um momento em que o legislativo norte-americano está em evidência, devido à quebradeira dos bancos e esse aprova-não-aprova de uma lambança para consertar outra maior. Mas o filme, chamado por aqui de "Tempestade sobre Washington", é a adaptação de um romance que por sua vez se inspirou em uma série de personalidades políticas dos EUA em anos bastante turbulentos (e quais não são?) de Guerra Fria e mccarthismo. E o que a princípio parece apenas um filme que mostra algumas intrigas ao redor da nomeação de um secretário de Estado acaba adentrando por caminhos inesperados e bastante ousados. É estranho que Henry Fonda abra os créditos, já que ele praticamente faz uma ponta; do grande elenco (que tem Walter Pidgeon, Gene Tierney, Franchot Tone e até o crédito para a voz de Frank Sinatra), quem se destaca são Burgess Meredith e, especialmente, Charles Laughton, incrível _foi seu último filme, infelizmente; ele morreu em dezembro daquele ano. E "The Intruder" (1962), um impressionante filme de Roger Corman, considerado por muitos o seu melhor (não é de estranhar que tenha sido um dos seus poucos fracassos de bilheteria), entra de sola na "América profunda" para futucar a questão do racismo _não só muita gente está duvidando da eleição de Obama, à frente nas pesquisas, como já surgiram piadinhas mil a respeito do tempo de sobrevida dele caso adentre a Casa Branca (sem trocadilho); já o comparam tanto a Kennedy... Mas, no filme, William Shatner está absolutamente fantástico como o incitador do preconceito em uma pequena cidade sulista _é um dos vilões mais sórdidos, covardes e desprezíveis já filmados. A câmera é bastante ousada.
E diante da sensacional história das boates de Buenos Aires que estavam sorteando próteses de silicone para suas freqüentadoras (por meio da qual fiquei sabendo que, lá, estas nobilíssimas partes do corpo feminino se chamam "lolas") me vem a lembrança de "Lola", o primeiro longa de Demy, dedicado a Max Öphuls (realmente, a câmera dança para lá e para cá, mas sem o mesmo rigor do homenageado). Anouk Aimée está exageradíssima, mas não tenho certeza se a culpa é dela ou se a sua personagem o exigia. O filme é todo luminoso (poucas vezes vi tanto branco, tanta luz estourando e tantos personagens na contra-luz como aqui), e o final agridoce em uma história sem vilões tem, ao mesmo tempo, um quê de crueldade e outro de alegria. Também da França veio uma grande e inesperada decepção: "Jules et Jim". O filme todo é, diferentemente do que eu esperava de Truffaut, muito gélido e distante de seus personagens: a primeira metade é frenética demais (dá a impressão de que o romance do qual o filme foi adaptado era tão ruim que ele correu com a história), e a segunda é morosa e repetitiva, sempre sem muita emoção. O melhor momento, de longe, é Moreau cantando "Le Tourbillion". Muito pouco para um filme tão comentado. Melhor é "Il Posto", de Ermanno Olmi, que mostra o percurso de um jovem que termina o ensino médio e, por necessidades familiares, tem de arranjar um emprego em Milão. Sua entrada no mundo corporativo, essa armadilha que até hoje captura muita gente (e não sai barato ser livre), é retratada com distância e sobriedade. Apesar de algum senso de humor, o filme é bastante deprimente _como tinha de ser. O destaque é a bela Loredana Detto, em seu único filme _ela acabou casando com o diretor, que deve tê-la guardado só para ele; vai que ele tinha medo de que ela acabasse trabalhando num filme do Ivan Cardoso ou do Selton Mello...Muitíssimo diferente de "Jules et Jim" nessa questão da emoção é "Too Late Blues", o segundo longa de Cassavetes (um filme "hollywoodiano", de estúdio, feito do outro lado do país _ou seja, uma porção de experiências novas para seu diretor. Impressionante a intensidade das personagens (o que certamente mina o naturalismo do filme _mas quem liga para o naturalismo no cinema? Para o naturismo, sabemos que o Pedro Cardoso liga) de Bobby Darin, Stella Stevens (que é incapaz de ficar feia, mesmo com o cabelo molhado ou a maquiagem borrada _além disso, é provavelmente sua melhor atuação), Everett Chambers (em seu único filme como ator _trabalhou principalmente como produtor) e até mesmo Cliff Carnell (que parece um Lee Marvin grandalhão e, assim como Seymour Cassel, trabalhava também na equipe de fotografia "da pesada"). E no Reino Unido temos outro filme de grande impacto: "The Innocents", de Jack Clayton.Considerada a melhor adaptação de "The Turn of the Screw", de Henry James (tenho o livro há mais de dez anos e só após ter visto este filme fiquei com vontade de lê-lo), é impressionante como a tensão é construída lentamente, até nos levar a um dos finais mais terríveis e desconcertantes. A fotografia de Freddie Francis em scope é primorosa, e Deborah Kerr está memorável _mas quem rouba a cena são as crianças, Pamela Franklin (em seu primeiro filme, de uma carreira que durou uns 20 anos _resolveu se aposentar) e Martin Stephens (em um de seus últimos trabalhos _ acabou se tornando arquiteto).
Outro trabalho impactante é "Khaneh Siah Ast" (que pode ser traduzido como "A Casa É Preta"), único filme da poeta iraniana Forugh Farrokhzad, que morreu poucos anos depois, em um acidente, ainda jovem). É um documentário de 20 minutos sobre uma casa de leprosos, ou seja, não é difícil imaginar que as imagens sejam impressionantes (lembrou-me como Pasolini foi feliz em retratar o leproso em sua obra-prima, "O Evangelho Segundo São Mateus"). A montagem, também da diretora, é incrível. E finalmente chegamos à obra-prima do período: "Madre Joana dos Anjos", talvez o filme mais conhecido de Jerzy Kawalerowicz (morto em dezembro do ano passado). É uma história de possessão demoníaca na Polônia do século XVII _mas não se trata de um filme de terror, embora alguém possa até dizer que é uma espécie de precursor de "O Exorcista" (é inspirado numa história real, que Ken Russell também adaptaria em seu "The Devils", de 1971, que ainda não vi). A belíssima fotografia em preto-e-branco e a simplicidade dos cenários remetem ao anterior "A Paixão de Joana D'Arc" e ao posterior "Andrei Rublev", além dos filmes de Bergman; a decupagem, os enquadramentos e a montagem são próximos da perfeição, e o casal de protagonistas, Mieczyslaw Voit (fantasticamente "duplicado" em uma cena, sem que seus duplos ocupem o mesmo plano _trocam-se subjetivas) e Lucyna Winnicka (a mulher do diretor, belíssima _e a exemplo de Ingrid Bergman em "The Bells of St. Mary's", sequer mostra os cabelos), está brilhante em todos os planos. Certas cenas com as freiras endiabradas lembram uma espécie de musical distorcido. Entusiasmado por este trabalho, fui atrás do filme imediatamente anterior do diretor, "Pociag" (que ganhou em inglês o título "Night Train"), por ter lido que seria o seu melhor. Não é. É um "thriller de trem", mas a história da busca pelo assassino fica em segundo plano, já que mostrar as personagens é mais importante para o diretor. O resultado é um filme que fica um tanto em cima do muro, perdendo a oportunidade de ir até os limites _com exceção da cena de captura do assassino, que é ótima.
E a série da vez foi a segunda temporada de "The Tudors", protagonizada por Henrique VIII (boa atuação de Jonathan Rhys Meyers). Esta é o inverso da anterior: se a primeira mostrava a ascensão de Ana Bolena, esta enfoca sua queda (com uma dignidade admirável). E com ela fecha-se um ciclo (embora uma terceira temporada esteja prevista para o ano que vem, que seria a última com Meyers). Como era de esperar, o clima fica mais pesado, há menos humor e muito menos sexo; a primeira metade é cansativa, porque o objetivo do protagonista é fixo, e sua obsessão torna-se difícil de suportar. Mas temos no esmero da produção e em um grande elenco de apoio (destaques para Natalie Dormer, Henry Cavill, Jeremy Northam e para a participação especial de Peter O'Toole, como o papa Paulo III) os grandes trunfos desta série _que, no entanto, fica distante de outra grande série de época, "Roma". Seria muito bom se a série, após a saída de Meyers, mantivesse a qualidade e enfocasse os reinados de "Bloody" Mary e Elisabeth _de preferência, com mais "pornografia", por que não?
P. S.: Foi só eu ler o discurso do Pedro Cardoso para eu ter uma idéia para um curta erótico, inspirado em uma foto e em duas pinturas.
P. P. S: Começou a Mostra! (...) E daí?
29 comentários:
Saiu entrevista com o Pedro Cardoso na Ilustrada de hoje em que ele, basicamente, diz não ter sido compreendido _mas também não explica uma série de declarações nem rebate o artigo de Inácio Araújo. A impressão que dá é a de que ele fez seu manifesto num momento de grande perturbação. Era previsível que uma polêmica se instalasse, mas será que esta ainda terá mais fôlego? Já deu, não?
Carlo Mossy me mandou um e-mail com um engraçadíssimo relato da sessão do filme de Domingos de Oliveira antecedida pelo discurso de Pedro Cardoso, que não reproduzirei na íntegra sem permissão _mas não resisto a dar uma palinha do seu preâmbulo: "Ninguém mais do que eu conhece tão a fundo o sublime teor da nudez fílmica e de cada um dos poros celulóidicos emoldurados em fotogramas pecadores, inclusive, por que não, a nudez romântica quando se faz necessário que ela seja romântica, pois o sexo, no seu mais absoluto contexto à ressurreição lasciva, sobretudo extra filme, por mais que tentemos glamourizá-lo beatificando seu sentido filosófico, religioso e seus afins simbólicos, o sexo, ah, o sexo, é bruto, egoísta e irresponsável em todas suas formas e dimensões, bem que filantrópico, tratando-se de jactância orgástica da mulher enfeitiçadamente apaixonada. Isso, no meu humilde entender existencialmente fecundo, nem sempre horizontalizado."
Mossy também avisa que gravou cenas para a "Malhação", da Globo, e para a segunda temporada de "Os Filhos do Carnaval", da HBO.
Cinematerapia
Já que "2001: Uma Odisséia no Espaço", provavelmente, vai ser taxado de "chato" por uma criança de 10 anos, vamos para um com temática parecida. Esse vai causar um efeito interessante: pensemos o seguinte: uma criança de 10 anos aluga, sem autorização dos pais, o filme (ela conhece o dono da locadora, que é um porraloca e ele não fala nada, nem impede a locação). Ela chega em casa, espera os pais sairem para o trabalho e rapidamente fecha as cortinas da sala e cria o ambiente escuro certo para a assistida. Então, como num passe de mágica, descobrimos o real motivo que levou o pequeno ser vivo a alugar o filme: numa pesquisa pela internet, a criança (vamos chamá-la de Leonel Vicente), descobre a existência de uma cena de sexo, mais precisamente um ESTUPRO. Mas, como a informação havia sido mal escrita, pobre Leonel Vicente não sabe a verdadeira potência da cena. Como criança pentelha-pré-adolescente-que-quer-ser-grande-e-falar-pros-amigos-de-10-anos-que-já-viu-um-filme-"proibido", uma cena de sexo é uma grande pedida. Então começa o filme, e logo de cara vem a famosa cena de esmagamento de crânio. Lágrimas caem dos olhinhos ingênuos de Leonel Vicente. Ele não acredita nos seus olhos, "oh, meu Deus, e o pessoal gosta do filme?". Ele começa a avançar capítulo por capítulo, até que se depara com Monica Bellucci entrando em um corredor vermelho, "é agora!". Ele prontamente começa a imaginá-la nua, com a capacidade que uma criança de 10 anos vivendo num mundo sujo e desregrado, onde valores morais estão completamente deturpados e a sociedade parece suportar uma criança pentelha-pré-adolescente-que-quer-ser-grande-e-falar-pros-amigos-de-10-anos-que-já-viu-um-filme-"proíbido", tem. Mas, para a surpresa do pobre garotinho, a coisa não inicia a caminhada da maneira que ele imaginava. O homem agride a pobre mulher. "É sexo selvagem!", o bom espírito de Leonel Vicente avisa. Então começa o ato: cinco contra um, uma batalha injusta. O garoto parece se animar, mas a cena fica cada vez mais repugnante. A câmera para no chão, e olha Bellucci agonizando. O garoto começa a ficar com MEDO. A batalha é terminada, ele desliga o dvd, vai para o banheiro e...chora.
Moral da história: A obscenidade, ou vouyerismo (como queira) é sempre bem-vinda, seja numa cena de nudez explícita ou num tratamento de cena claustrofóbico tão obsceno quanto.
E olha o que eu achei no meu trabalho de faculdade sobre isso, trecho escrito por Jean Baudrillard: "o universo inteiro passa a se mostrar arbitrariamente na sua tela doméstica (toda a informação inútil que chega a você do mundo inteiro, como uma pornografia microscópica do universo, inútil, excessiva, exatamente como o close sexual em um filme pornô): tudo isto explode a cena outrora preservada pela separação mínima do público e do privado, a cena que era desempenhada em um espaço reservado, conforme um ritual secreto conhecido apenas pelos atores." (The Ecstasy of Communication por Baudrillard).
Que se dane. Pedro Cardoso é um não-ator e um (semi)humorista simplório.
>Começou a Mostra! (...) E daí?
Exatamente.
Pips, para resumir a história: não dá para embarcar nessa de "toda nudez será castigada" (ah, como eu queria ler um texto de Nelson Rodrigues sobre essa polêmica _lembrando que ele dizia que a parte mais obcena do corpo é a cara); é claro que uma obra de arte pode ser consumida como pornografia (o site que o protagonista de "Ligeiramente Grávidos" sonha em botar de pé é um irônico exemplo), mas isso não é de controle do diretor (e não é por esta falta de controle que deve-se restringir a liberdade de se mostrar gente nua se o roteiro assim exige); no caso de obras com o nobre intento de provocar a excitação sexual tão criticada pelo Pedro Cardoso, os atores maiores de idade devem saber direitinho onde estão entrando (sem trocadilho). E pronto, não é tão difícil ser adulto.
Leandro, eu me diverti à beça com essa história. E não devo mesmo ver nenhuma sessão da Mostra deste ano, porque a programação está pouquíssimo atraente.
Aliás, outra idéia que tive é a de um filme qualquer (qualquer gênero _por exemplo, um drama de tribunal_, menos erótico) no qual absolutamente todos atuassem nus, como se numa colônia naturista _mas numa grande cidade como São Paulo. Seria uma experiência interessante o mundo vestido e cheio de pudores bíblicos ser confrontado com a naturalidade da nudez em um universo paralelo; e se o filme fosse mesmo bom, depois de alguns minutos de choque ou de risinhos, não tenho muitas dúvidas de que o público acabaria mergulhando na história, à revelia dos peladões todos.
Ae, até que enfim alguém que concorda comigo e também não gosta de JULES E JIM. Eu ponho parte da culpa em Jeanne Moreau, mas vai ver o problema é do filme em si mesmo. Mas curiosamente, eu também não gosto de A NOIVA ESTAVA DE PRETO, que aliás acho, de longe, o pior trabalho do cineasta.
E preciso ver esse MADRE JOANA DOS ANJOS!!
Ailton, pode até ser que "Jules et Jim" tenha sua importância histórica por ter colaborado para inovar parte do cinema francês (e mundial, por conseqüência?), mas hoje ele parece não se sustentar muito. É mais ou menos o que eu penso de Antonioni e, em escala bem menor, de Fellini.
"Madre..." saiu em DVD. Pode ver sem medo.
Penso o mesmo do Antonioni e Fellini (salvo Noites de Cabiria), porém discordo na parte de Jules et Jim, estou longe para criticar esse filme e pior, tenho uma quase relação materna com ele.
Achei o filme mais gelado de Truffaut.
Do Fellini, acho que A DOCE VIDA ainda é uma obra que imortal e que se sustenta com força até hoje. E quem fala isso é alguém que não é muito fã do diretor. Já Antonioni, é questão de ter paciência mesmo. hehehe..
Eu gosto muito de "A Doce Vida" e de vários outros do Fellini. Do Antonioni, "Blow Up" é o que mais se destaca para mim. Mas penso que ambos foram muito superestimados em suas épocas. Na Itália, eu acabo fechando mesmo com Rossellini e Visconti, com alguns outros entre estes.
Estava lendo o teu texto com mais calma agora e fiquei interessado no curta indiano sobre os leprosos. Onde vc conseguiu? Será que tem no KG?
O Martin aí de cima sou eu.. É que eu tinha entrado com outra conta. :/
Eu baixei do e-mule, não deve ser difícil de achar. Mas não é indiano, e sim iraniano.
"Nas Duas Almas" vai passar no Festival do Rio (http://www.curtacinema.com.br/filmes_programa.php?id_prog=53) na sexta-feira, 07 de novembro, às 21h30, no Odeon. Vai fechar uma sessão com curadoria do Carlos Reichenbach que também traz trabalhos dele e de Inácio Araújo, João Callegaro e Daniel Chaia. Se alguém for, conte pra gente como foi. Valeu!
Fiquei um tempo sem passar por aqui... Mas me chama a atenção como Jules e Jim pode ser visto como um filme frio. Nossa, pelo contrário, me parece um filme tão abarrotado de emoção que chega a ofegar naquela montagem, como se o filme fosse uma pessoa tomada de algum arrebatamento e não conseguisse falar direito, mas, ao mesmo tempo conseguisse comover (quase) todo mundo ao redor. Lindíssimo filme, vi num VHS da Alpha Filmes e depois no cinema, no esplendor do scope, e saí da sala tonto, e de cara lavada.
Eu acho que Tempestado Sobre Washington é o melhor filme sobre política que já vi. Acho os caminhos "ousados" do filme, mesmo surpreendentes, ainda secundários diante da questão dos limites da política. O filme começa assim, e vai até o fim, mesmo que sua ousadia nos distraia. Grande Laughton.
Lola é outro filme que adoro, e, na boa, melhor que o de Ophuls? Mais livre, mais leve, mais solto. Claro que Ophuls queria ser barroco, e não leve, mas seu peso romântico e sentimental é melhor nos Estados Unidos. Demy, não, faz esses filmes-pluma que sempre amargam no final.
Estou ficando fanático pela carreira de Deborah Kerr. lembrava de só ter visto, há alguns anos, O Rei e Eu e A Um Passo da Eternidade, filmes de que não gosto., Kerr me parecia uma boneca inglesa, com sotaque. Mas ela me convenceu totalmente do contrário,principalmente com esse Os Inocentes, Narciso Negro, O Céu é Testemunha, e, principalmente, Pelo Amor do Meu Amor, em que faz a Sarah Miles do Fim de Caso de Graham Greene com tanta perfeição que Julianne Moore jamais deveria ter aceitado participar de um remake, por melhor que seja.
(off-topic) Não sei se você já está sabendo dessa notícia:
http://kiminda.wordpress.com/2008/11/09/morre-a-jornalista-dulce-damasceno-de-brito/
Morreu Dulce Damasceno de Brito
Saymon, o filme de Truffaut não conseguiu me envolver. Talvez melhore numa revisão, assim espero. Eu não disse que "Lola" é "melhor que o de Ophuls", pelo contrário. Deborah Kerr teve grandes momentos, será sempre lembrada pelos cinéfilos.
Rodney, triste notícia. Valeu pela visita, abraços.
Tb lembro com muito carinho de Jules e Jim, a relação dos três era algo assim que só eles mesmos p/ compreenderem, não gosto é de A Sereira do Mississipi...
Também não me entusiasmei com "A Sereia do Mississipi", mas a qualidade da imagem, no Telecine, estava péssima e certamente atrapalhou. Tem sido raro eu ver filmes com boas condições de imagem _ao cinema, então, não tenho como ir atualmente.
Oiê.
Seu email mudou? Não estou conseguindo falar contigo. Os emails voltam.
Beijo.
Oi, Alê, há quanto tempo! Estou usando o Gmail, é só trocar a parte que vem depois da arroba. Beijos!
Não gosto de A Sereia do Mississipi, mas a idéia é linda. Não tem coisa mais hitchcockiana do que Catherine Deneuve sendo pega no golpe do veneno e dizendo que está "aprendendo a amar, e isso é muito doloroso". É Marnie puro.
Hitchcock certamente faria um filme no mínimo interessante com o mesmo roteiro, mas provavelmente não seria uma obra-prima. Vi antes o remake com Angelina Jolie e Antonio Banderas e a única coisa da qual me lembro era da cena de sexo, bem mais realista do que a média em Hollywood.
Olá Marcelo V.,
Sou leitor do Cinema Cuspido e Escarrado e sou cinéfilo de carteirinha. Eu estou mandando esse email porque estou trabalhando numa empresa que desenvolveu um portal sobre cinema - o Cinema Total (www.cinematotal.com). Um dos atrativos do site é que você cria uma página dentro do site, podendo escrever textos de blog e críticas de filmes. Então, gostaria de sugerir que você também passasse a publicar seus textos no Cinema Total - assim você também atinge o público que acessa o Cinema Total e não conhece o Cinema Cuspido e Escarrado.
Se você quiser, me mande um email quando criar sua conta que eu verifico se está tudo ok.
Um abraço,
Marcos
lindo esse teu olho.
Obrigado, Gabriela. Este é o esquerdo.
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