A gruta é mais extensa do que a gruta

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    domingo, janeiro 22, 2006

    Filmes vistos entre 11/01 e 20/01

    Calor infernal, tempo de expectativas, vamos ver no que vai dar. Enquanto isso...

    In a Lonely Place: Irrepreensível clássico hollywoodiano, desses que envelhecem sem perder o viço. Diálogos certeiros, coadjuvantes perfeitos e a melhor atuação de um grande ator, além da bela trilha sonora. Um dos finais mais tristes já filmados.

    Mission: Impossible: Fazia muito tempo que eu não via um filme dublado, na TV aberta, mas esta produção de Cruise dirigida pelo De Palma, que apesar de tudo consegue imprimir sua marca em certos momentos (além de fazer algumas homenagens cinéfilas), acabou me atraindo. Boa aventura, mas me entusiasmou menos na revisão.

    Deus e o Diabo na Terra do Sol: Vi este filme pela primeira vez quando tinha 12 anos, na TV Cultura, e adorei. Realmente é um filme repleto de momentos muito fortes, com atuações e caracterizações marcantes, belos enquadramentos, ótima trilha sonora. Mas não consigo deixar de achá-lo tremendamente irregular e tenho a impressão de que ele melhoraria muito se fosse mais curto e mais concentrado.

    Office Space: Sabadão, quase quatro da madruga e estou sem vontade de dormir. Começa um filme na Globo e sou fisgado pelo nome de Mike Judge, ninguém menos que o criador do saudoso "Beavis & Butt-Head", o que é motivo suficiente para conferir _eu nem sabia que ele não trabalhava somente com animação. Inspirado na sua série "Milton", aqui ele destrincha um assunto que diz respeito a todo mundo que já trabalhou em um escritório ou coisa parecida. Nada demais, se não fosse por uma criativa cena de vingança...

    Shaft: Assisti ao "Shaft" original (na verdade, acabei largando pela metade) quando morei na Califórnia, e achei um lixo. Aí confiro a refilmagem do John Singleton, que passa no "Domingo Maior", e consigo ver até o final. Sammy se sai melhor quando dá um ar mais cafa ao Shaft (o que mal acontece; o filme sai politicamente correto demais, cadê a safadeza do blaxpoitation?), mas quem rouba mesmo a cena é Jeffrey Wright, muito bom como o bandido latino.

    We Will Rock You: Fazia tempo que eu não via um DVD musical (este, claro, é do Queen, gravado em 1982), e os problemas geralmente são os mesmos: a iluminação é pensada para o show, não para o filme; a direção insiste em não acompanhar devidamente os músicos (exemplo: está rolando um solo de guitarra, mas vemos um close dos dentes do cantor durante dois minutos) etc. Para piorar, este aqui falha ao captar o som da platéia, perdemos a interação entre ela e a banda. Mas é óbvio que a performance do quarteto compensa: só tem fera no palco, e o clima é de uma grandiloqüência em miniatura (sacou?). Freddie Mercury tem uma expressão corporal única, mas é deprimente termos de ficar olhando para suas costas peludas.

    There's Something about Mary: Mais do que se reafirmar como grande comédia, ficam mais evidentes a cada revisão a sensibilidade e o romantismo deste filme. As questões relativas às diferenças entre amor e paixão são muitíssimo bem tratadas e transpiram ética. Muitas das piadas visuais são extremamente marcantes.

    Working Girl: Filme menor do Mike Nichols, mas que nem por isso deixa de ser interessante, não apenas por captar o tal do espírito yuppie dos anos 80 (não vi o "Wall Street" do Stone nem morro de vontades) ou por trazer um bom elenco no auge da forma, mas por conseguir transitar entre uma série de lugares-comuns sem desanimar o espectador. Foi a primeira vez que vi este filme com som original.

    About Schmidt: Após um início desanimadoramente metido a besta (enquadramentos a la Walter Salles, sabe?), o filme de Alexander Payne (que fez o piorzinho "Sideways") se rende a uma série de chavões, enquanto discorre sobre um tema abrangente, realmente universal. O final não traz nada de novo (é sub-Kiarostami), mas é bastante forte, sincero. Mesmo assim, não é tão bom quanto eu pensava. A trilha sonora é especialmente mal aplicada, parece Spielberg nos piores momentos.

    Rois et Reine: Eu estava desconfiando de que isso ia acontecer: todo mundo falando muitíssimo bem do filme leva as expectativas lá para cima, o que eleva também as chances de decepção. Não que o este seja ruim, em absoluto; apenas não causou a impressão esperada. Mesmo "Clean", que também não me empolgou tanto, saiu-se melhor.

    LavourArcaica: Melhora na revisão, onde ficam mais evidentes as preocupações do cineasta com o tempo _o que o aproxima razoavelmente de Tarkovski. Impressionante como Selton Mello nunca mais ganhou um papel tão bom. E pensar que o Carvalho andou fazendo "Hoje É Dia de Maria"...

    To Kill a King: Drama histórico dos mais medíocres, sobre a Revolução Gloriosa de Oliver Cromwell na Inglaterra do século XVII. Nem para aprender história direito o filme serve, mas pelo menos traz uma atuação minimamente interessante de Rupert Everett, como o rei Charles I.

    Tora! Tora! Tora!: Tentativa de reconstituição histórica do início da guerra entre Japão e EUA, em 1941. Filme bastante sóbrio, embora tenha um mínimo de senso de humor e uma patriotadinha aqui e ali _mas obviamente distante do que o Michael Bay deve ter feito em "Pearl Harbor", assim como Spielby e seu "Private Ryan". Alguns planos do ataque, especialmente os que envolvem aviões, são impressionantes _e sem CGI.

    Kill Bill Vol. 2: Impressionante como cai na revisão, ficando bastante abaixo do Vol. 1 _que é uma delícia e é o segundo melhor filme do Taranta. Talvez seja pelo fato de que este guarde a maioria das surpresas (embora o final do primeiro seja digno de penúltimo capítulo de novela da Janete Clair)... As atuações e caracterizações também são bem menos marcantes do que no filme anterior _além do show de Daryl Hannah, salvam-se Michael Parks como o gigolô mexicano e Gordon Liu como Pai Mei (Michael Madsen vem bem mais atrás). A trilha sonora é o ponto forte.

    Jackie Brown: Não é difícil entender porque tanta gente não entendeu este filme _ou é? Nunca Tarantino foi tão maduro, tão sério, tão centrado. Isso deve espantar bastante gente... Ah, e Bridget Fonda mata a pau.

    P. S. O melhor: "In a Lonely Place"; o pior: "To Kill a King".

    quinta-feira, janeiro 12, 2006

    Filmes vistos entre 01/01 e 10/01

    Última parte da relação dos filmes vistos durante as férias, num ritmo muito maior do que o normal. Daqui para a frente, a tendência é reduzir a quantidade... Será?

    Robots: Criticaram bastante este filme, mas ele acaba saindo muito melhor do que a encomenda. Apesar do roteiro previsível, as piadas são espertíssimas, e o design, mesmo não sendo exatamente inovador, não deixa de ser impressionante, pelo capricho. Melhor do que "A Era do Gelo".

    King Kong: Decepcionante, decepcionante... Após um prólogo incrivelmente animador, o filme só decola por poucos momentos, durante a briga do macacão com três tiranossauros. Peter Jackson já tinha feito seu "Guerra nas Estrelas", agora inventou de fazer seu "Indiana Jones" e quebrou a cara. O final é bobo, bobo. Irrita essa mania de subestimar o espectador...

    El Mismo Amor, la Misma Lluvia: Este filme que Juan José Campanella fez em 1999 e que traz os dois principais atores de seu posterior (e muito superior) "O Filho da Noiva" é de lascar. Não apenas é bobo, com roteiro repleto dos clichês mais sem-vergonha, como também é absolutamente deprimente. Perda de tempo!

    The Upside of Anger: É vendido como comédia, mas está muito mais para o melodrama; dizem que o final é surpreendente, mas só não é mais óbvio do que o de "A Vila". Ou seja, ou o filme é desonesto ou é equivocado _estou mais para a segunda opção. Pelo menos o elenco é bom e cheio de mulher bonita (mas faltou nudez, que pudor todo é esse? E ainda se diz um filme adulto...).

    Mindhunters: Renny Harlin é um finlandês que dirigiu um dos filmes mais execrados dos últimos tempos (além de um filme com o Freddie Kruger, um com o Stallone e o "Die Hard 2"), "Exorcist: The Beginning", o qual ainda não tive o desprazer de ver. Este é seu projeto imediatamente anterior, um whodunit bem clichezento que não acrescenta nada a coisa alguma, só ocupa tempo... Mas dá pra sacar que o cara é ruim mesmo quando ele filma a bunda do Christian Slater durante um tempão, enquanto a gostosa que está com ele no chuveiro só é vista do pescoço pra cima... Pff!

    Hotel Rwanda: Diferentemente de Spielby e seu "A Lista de Schindler", o diretor deste aqui se preocupou apenas em contar a história (que realmente precisava ser contada), e não na forma de contá-la. Parece um telefilme bem-intencionado. Don Cheadle está bom, mas isto não basta...

    Metoroporisu: Baseado num mangá do Walt Disney (ou Maurício de Souza, se quiserem sacanear) japonês, Ozamu Tezuka, com roteiro de Katsuhiro "Akira" Otomo e direção de Rintaro, "Metropolis" traz toda a clichezada desse universo (robôs versus humanos, um cientista maluco, um plano de dominação mundial, um amor impossível etc.), mas mesmo assim se sobressai. O uso da trilha sonora (muito jazz e um Ray Charles impressionantemente bem colocado) é o que há de melhor.

    Jui Kuen: Clássico filme de kung fu de Hong Kong lançado em 1978, internacionalmente conhecido como "Drunken Master", traz Jackie Chan (então Jacky Chan) fazendo sua popular injeção de humor físico no mundo da pancadaria. É também o segundo filme dirigido por Woo-ping Yuen (ou Yuen Wo Ping), que ganhou o mundo ao coreografar as lutas na trilogia "Matrix" e nos dois "Kill Bill" _ou seja, vale mesmo pelos (incontáveis e excessivos _o filme ganharia se fosse mais curto) duelos do aprendiz dos Oito Deuses Bêbados contra inimigos patéticos como o Cabeça de Ferro e o Rei do Bambu. História zero, ação dez.

    8 Mile: Mais um belo filme do Curtis Hanson, abrilhantado por Kim Basinger e pelo evidente talento do Eminem, talvez o maior e mais relevante popstar dos últimos tempos. Oscar de melhor canção merecido para ele, que surpreendeu como bom ator (e quem disser que ele não atua neste filme ou é bobo ou está mal-intencionado).

    Clean: Até onde me lembro, é o primeiro filme de Olivier Assayas que vejo. É simples, plácido, muito bonito. Nick Nolte rouba o filme. Maggie Cheung não precisava cantar.

    The Blair Witch Project: Simplesmente genial. Deixa qualquer coisa do Dogma no chinelo, no quesito do uso do vídeo. Corajoso, inteligente, ousado, inventivo, revolucionário, impressionante _ainda mais por ter feito muito sucesso. Estranhamente, parece ter sido precocemente esquecido, embora seja inevitavelmente um clássico. É provavelmente o filme mais importante dos anos 90. Escandaloso ele não ter entrado na lista da Liga...

    Stachka: O segundo filme de Eisenstein (seu primeiro longa, de 1924), além do óbvio engajamento na revolução leninista, já traz características básicas do diretor, como enquadramentos fantásticos e estabelecimento de metáforas por meio da montagem. Mas surpreende, principalmente, pelas altas doses de senso de humor e de ironia.

    Planet of the Apes: Nem dá para saber se, quando lançado, este filme era uma superprodução ou era "B" assumido (como parece ser o caso de todas as quatro seqüências _na última delas, ninguém menos que John Huston interpreta um dos macacões!). Ingênuo, pelo menos é bem-intencionado, pacifista, e tem um plano final realmente impactante, desses difíceis de esquecer. Mas ainda é pouco... Não lembro muito da versão do Burton, mas provavelmente é melhor.

    Finis Hominis: Mais um filme incrível, surpreendente e impressionante de José Mojica Marins. Aqui ele se liberta completamente de Zé do Caixão (o que ele não havia conseguido fazer por completo em "Ritual dos Sádicos") e de qualquer traço do cinema de horror, embora o sexo e a morte continuem a rondar praticamente todas as cenas, acrescidos de um senso de humor maravilhoso (recriando inclusive algumas passagens dos Evangelhos, como o apedrejamento de Madalena e a ressurreição de Lázaro) e excelente uso da trilha sonora (característica do cineasta _por sinal, qual a obsessão dele com "Tico-tico no Fubá"?). A cena em que ele joga dinheiro para os hippies faz Mojica merecer as comparações com Buñuel. Gênio!

    P. S. O melhor: "The Blair Witch Project"; o pior: "El Mismo Amor, la Misma Lluvia".

    segunda-feira, janeiro 02, 2006

    Filmes vistos entre 16/12 e 31/12

    2005 já era; eis o relatório dos últimos filmes vistos no período _quase todos em Votuporanga, onde passo o período das festas tentando descansar mais e festejar menos (objetivo parcialmente conquistado). O lógico próximo passo seria tentar elencar os melhores do ano, o que apenas deverá ser feito graças ao Alfred, o prêmio anual da intrépida Liga dos Blogues Cinematográficos...

    Monter's Ball: A revisão não mudou as coisas: continua um drama razoável, simples, mais maduro do que a média do cinema americano. A cena de sexo entre Halle Berry e Billy Bob se destaca, obviamente.

    The Manchurian Candidate: Por mais que Jonathan Demme (um cara obviamente legal) e equipe tenham se esforçado para fazer um filme diferenciado do original de Frankenheimer e do livro, o resultado ficou estranho, datado. Mas o elenco está muito bom.

    The Fall of the Roman Empire: É impressionante como este filme de Anthony Mann (diretor de um dos meus faroestes preferidos, "Winchester '73") é, ao mesmo tempo, datado e atual. O grande destaque (além de Christopher Plummer, Alec Guinness e James Mason) é mesmo a lição moral que contém. Já não se pode dizer o mesmo de "Gladiador", o quase-remake meia-boca do Ridley Scott...

    The Nightmare Before Christmas: Na verdade, antes do título do filme tem um Tim Burton's, que assina produção, argumento e desenhou as personagens, mas roteiro e direção ficam a cargo de outrem. Danny Elfman manda bem. Fico me perguntando se as crianças gostam ou não, seria assustador demais para os pequenos?

    Frankenweenie: Média-metragem (29 minutos) que o Tim Burton fez em 1984, quando trabalhava para a Disney. Homenagem bela e sincera aos filmes de James Whale, mostra que Burton já tinha imaginação fertilíssima (carregada de humor negro), com noção das partes mais sombrias da psique infantil. E eu simpatizo horrores com a Shelley Duvall, ninguém mandou ser esquisita. Li no Imdb que a Sofia Coppola atua, não a reconheci...

    Il Gattopardo: Este é um desses filmes que só melhoram ao serem revistos. Que enquadramentos, que música, que elenco, que direção de arte, que Visconti!

    Aguirre, der Zorn Gottes: O que seria do progresso se não fosse a preguiça? Há algo de tão fascinante em Klaus Kinski... Mas eu ainda prefiro "Fitzcarraldo".

    Les Triplettes de Belleville: Claro que há méritos, como o da evidente personalidade (francesa, inclusive) no traço, a clara homenagem a Jacques Tati e à ousadia de fazer um longa em animação praticamente sem diálogos. Mas a verdade é que a história é tão chata que desperdiça personagens interessantes (quem rouba a cena é Bruno, o cão que adora latir para trens e tem ótimos sonhos em preto-e-branco). Tem Mozart na trilha sonora!

    Raiders of the Lost Ark: O grande trunfo deste filme (e da trilogia) é o seu senso de humor, o fato de o projeto não se levar muito a sério. Mas mesmo com algumas gags inesquecíveis, eu não consigo deixar de achar os filmes de Indiana Jones bem chatinhos (especialmente depois que fiz 12 anos)...

    Indiana Jones and the Temple of Doom: O pior e mais infantil (apesar de ser considerado "dark" por Spielby e Lucas) da trilogia mantém a fórmula do humor adicionado a ação rocambolesca, mas perde muito do contexto histórico (sinto falta dos nazistas como vilões) e, inclusive, geográfico. Mas os primeiros 20 minutos são antológicos (talvez o melhor momento da trilogia): Spielby não só mata um pouco sua vontade de dirigir um musical (Cole Porter rules totalis), como coloca Indy de terno branco a la James Bond, além de tornar Kate Capshaw, mesmo que momentaneamente, uma espécie de Rita Hayworth dos anos 80...

    Indiana Jones and the Last Cruzade: A verdadeira continuação de "Caçadores da Arca Perdida" adiciona à história o James Bond original (o que finalmente traz algo de mais interessante à série) e traz River Phoenix de bônus em mais um prólogo divertidinho, mas acaba enchendo o saco pelas incansáveis e cansativas cenas de ação (tem perseguição de moto, de cavalo, de tanque, de avião, de trem, de zeppelin, de lancha, meu deus, parem um pouco!)... Mas mesmo ficando no meio do caminho, ainda assim é o melhorzinho dos três.

    The Producers: Caiu bastante na revisão, com exceção das performances de Zero Mostel, da bichinha grega e do tal de L.S.D., além de Lee Meredith e das garotas com pretzels e espumas de cerveja nos peitos. Mesmo assim, só o fato de o filme ser tão politicamente incorreto já o torna minimamente interessante. It's springtime for Hitler and Germany, winter for Poland and France!

    Oldboy: Apesar de cair na revisão (sendo que eu nem tinha gostado tanto da primeira vez), não consigo achar "Oldboy" ruim. É o típico filme que obviamente perde impacto ao ser revisto, mas tem potencial de causá-lo à primeira vista, o que talvez explique sua condição de obra superestimada. Se bem que eu acho mais um problema de falta de exigência do espectador em geral, que gosta de se impressionar com pouco...

    The Exorcism of Emily Rose: Para um filme com este título esdrúxulo (obviamente, só vou ver este tipo de coisa no pardieiro imundo conhecido como Cine Votuporanga, devidamente acompanhado de minha mama), até que não está mal. Mas não deixa de ficar na gangorra entre a tolerância e o obscurantismo... Pelo menos não ofende, e a atriz que faz a Emily é bem bonitinha.

    Modern Times: Se por um lado o canto (literalmente) de cisne do Vagabundo é um retrato de seu tempo (e Chaplin era bom nisso), por outro é um filme atualíssimo, além de continuar sendo um marco quase insuperável de qualidade cinematográfica. Só os dois primeiros planos já anunciam uma das maiores obras-primas da sétima arte. E o que é a Paulette Goddard descalça? Ah...

    The Graduate: Estava devendo uma revisão para o filme de Mike Nichols desde a morte da Anne Bancroft, mas a revisão de "The Producers" (que tem o mesmo produtor) acabou dando uma forcinha... É uma obra muito feliz, que acerta no casting (Katharine Ross é tão linda...), no diretor, na trilha sonora, enfim, merece o status de clássico. E para mim é sempre bom rever minha querida Berkeley, onde fui tão feliz...

    Limelight: A lembrança que tinha do último filme norte-americano do Chaplin era a de um sentimentalismo excessivo. Bem, ou minha memória é ruim ou eu ando cada vez mais sensível (provavelmente, ambos), mas a história do palhaço Calvero e da bailarina Terry não só não me pareceu exagerada ou simplória, mas essencial. A canção das pulgas me arrancou gargalhadas.

    Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver: Impressionante a superioridade desta seqüência em comparação com o original. Zé do Caixão é um personagem de uma riqueza absolutamente fenomenal, perfeito na interpretação de Mojica, nos figurinos, nas falas, na caixinha de música que toca "Tico-tico no Fubá"! Muitíssimo bem filmado e com elenco e trilha sonora exemplares, é motivo de orgulho para o cinema brasileiro. Obra-prima!

    O Estranho Mundo de Zé do Caixão: A revisão deste filme reforça bastante o fato de José Mojica Marins ser um cineasta por excelência: parece que ele nasceu para se comunicar por imagens. O episódio "Tara" (que, apesar do nome e da necrofilia, é muito bonito) é exemplar. A curiosidade maior é ver Luís Sérgio Person como ator, no episódio "O Fabricante de Bonecas" _por sinal, uma espécie de "Os Olhos Sem Rosto" (do Franju, comentado há pouco por aqui) ao contrário...

    Manhattan: É perigoso quando você se identifica tanto com alguém, cuja personalidade lhe parece tão familiar? Bem, é o que acontece comigo e com o Woody... "Manhattan" não é exatamente um dos filmes dele de que mais gosto (não entraria num top 3, creio) e é claramente um filme pequeno, mas, ao mesmo tempo, é razoavelmente abrangente (fatalmente, Allen se repetiria, o que pode prejudicar o filme como unidade, não sei se sou claro). O mais interessante é que, ao vê-lo pela primeira vez, ele simplesmente me partiu o coração; agora, revendo-o, ele me soa muitíssimo mais otimista. Por sinal, o último diálogo do filme, um plano-contraplano entre ele e Mariel Hemingway, deve ser a maior interpretação de toda a carreira de Allen: ele não consegue fixar o olhar nela por muito tempo, e quando ela diz "you have to have a little faith in people" (para mim uma das frases mais marcantes do cinema), ele dá uma série de variações de um sorriso de Mona Lisa sobre as quais daria para escrever uma tese...

    Constantine: Revisão da adaptação pouco fiel, mas longe de revoltante, da célebre HQ "Hellblazer", que eu tive a oportunidade de traduzir para o português durante um tempo. Vale, principalmente, pelas participações especiais de Tilda Swinton e Peter Stormare (este, hilário como um Lúcifer cheio de senso de humor).

    Giordano Bruno: Vale pelo caráter educativo _não só historicamente, mas eticamente. Ah, e pela Charlotte Rampling, jovem e pelada. A câmera de Vittorio Storaro e a interpretação do Gian Maria Volonté também não fazem feio. O dono da Versátil é espírita?

    Zatoichi: Eu adoro filmes de samurais, e este aqui não deixa de empolgar durante as cenas de carnificina (estilizadas, cheias de sangue); mas senti falta de personagens mais carismáticos, profundos (neste quesito, o "Brother" dá de mil a zero). Surpreende o senso de humor e a bizarrice da trilha sonora _especialmente no final, com aquele número de dança aparentemente despropositado. Uma pequena decepção.

    Ritual dos Sádicos (O Despertar da Besta): Revisão do fantástico e censuradíssimo filme de José Mojica Marins, sobre os efeitos das drogas na juventude dos anos 60. Psicodelia (novamente, a alternância entre p&b e cor), ousadia, invenção: apesar de inevitavelmente datado, é um trabalho memorável, quase milagroso. Todo mundo assobiando com o dedo pra cima!

    Assault on Precint 13: Filminho de ação que aparentemente quer homenagear o filme de John Carpenter (que ainda não consegui ver), que, por sua vez, homenageava "Rio Bravo" e "The Birds". Mas fica somente como um "Supercine" divertido, valendo justamente pelas cenas de ação (que falham ao criar tensão, por sinal) e pela gostosa ninfomaníaca (faltou nudez, tsc, tsc). Os personagens (interpretados por elenco famosinho) estão tão mal construídos...

    Comedian: Documentário produzido pelo Jerry Seinfeld em 2002, quatro anos após sua famosa série de TV chegar ao fim, mostra sua volta às raízes, os tais clubes de comédia que pululam nas grandes cidades dos EUA e do Canadá e que não existem por aqui. O mais interessante é mesmo mostrar a tradição desses comediantes que fazem stand-up, com o Seinfeld expressando sua admiração por figuras como Lenny Bruce e Bill Cosby e sendo conselheiro dos mais novos, que tentam chegar ao sucesso... A tensão é grande, impressionante.

    Anchorman: The Legend of Ron Burgundy: Filme visto graças à indicação do Vebis. Comédia maluca que serviu para lançar Will Ferrell como protagonista. Christina Applegate, a lendária Kelly de "Married with Children", passa meio despercebida num personagem mais sem sal. Além de Tim Robbins, ótimo em uma ponta, quem se destaca mesmo é o homem do tempo, o personagem mais engraçado. Loud noises!

    Fantastic Four: O Quarteto Fantástico tinha potencial de dar origem a uma série tão boa quanto a dos "X-Men", mas infelizmente não capricharam no roteiro, no elenco e no resto, e o que saiu foi mais um filminho para adolescentes descerebrados. É muito triste nivelar por baixo, não tinha como não ser um fracasso. Estes personagens ainda merecem ser revisitados, desta vez com o devido respeito.

    The Ice Storm: Após a revisão deste filme do Ang Lee, fico na mesma: é mais um draminha repleto de clichês, mas com um grande elenco (destaque para Kevin Kline, além de Christina Ricci e Sigourney Weaver). Algumas boas piadas dão umas breves levantadas no filme, que, no final das contas, acaba se destacando mais por compreender um tanto melhor a essência do Quarteto Fantástico do que o próprio filme do tal de Tim Story...

    Catwoman: Apenas ligeiramente inspirado na personagem da HQ, este filme alcança píncaros de incompetência realmente fabulosos. Como é que o tal de Pitof e seus asseclas conseguiram? Que falta de vergonha!

    The Island: O que é aquela fotografia escabrosa, ainda pior que a do padrão Conspiração? Pelo menos tem a Scarlett Johansson e uma cena em que muitos carros são destruídos (esse Michael Bay...).

    P. S. O melhor: "Modern Times" (menções honrosas para "Il Gattopardo" e "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver"); o pior: "Catwoman" (detesto concordar com o Framboesa de Ouro, mas desta vez não deu para evitar).

    Na platéia