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    sexta-feira, agosto 11, 2006

    Gustavo Engracia em "A Volta do Regresso"

    "A Volta do Regresso" é o nome de uma canção de Onildo Almeida e Irandir Costa, gravada por volta de 1970 por Coronel Ludugero, personagem do humorista pernambucano Luiz Jacinto Silva. Sátira ao ufanismo tricampeão do governo militar da época, não será mais usada no humilde curta-metragem homônimo que fiz com um grupo de amigos porque a editora responsável pela obra de um dos autores cobrou uma fortuna pelos direitos de uso. Mas há males que vêm para o bem: o filme demora mais para ficar pronto, mas ganha trilha sonora original, composta por Vinicius Calvitti, um cara muito legal e incrivelmente talentoso.

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    Não consigo ser um grande admirador de Richard Donner. Alguns de seus projetos mais lembrados, como "A Profecia" e "Super-Homem", eu considero apenas medianos, com alguns bons momentos. Vendo, pela primeira vez, os dois primeiros filmes da série "Lethal Weapon" (que tem uma multidão de fãs), fica evidente que o único componente que não ficou datado é o famigerado discurso de que a polícia deve se colocar acima das leis e executar criminosos (o famoso "bandido bom é bandido morto", cada vez mais em voga por aqui, graças ao governo que ajudou o PCC a nascer). A melhor parte de ambos os filmes são os créditos finais, graças à trilha sonora escolhida (uma antiga canção natalina gravada por Elvis Presley nos anos 50, no primeiro, e um lançamento de George Harrison, "Cheer Down", no segundo). Curiosas, no segundo filme (aquele que introduz Joe Pesci no papel de chato; Rene Russo no papel de gostosa é no terceiro), são as várias referências aos Três Patetas. Quem gosta destes filmes deveria experimentar "To Live and to Die in L.A.", do Friedkin.

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    Um filme dos anos 80 que não ficou nem um pouco datado (e olha que este tem a desvantagem de se apoiar bastante em efeitos especiais) é "Who Framed Roger Rabbit?", da época em que Robert Zemeckis não errava; não parece que ele se esqueceu de seus filmes mais "simples" e espertos? Aqui, o roteiro é inteligente, os diálogos são ótimos, certas personagens são inesquecíveis. Bela homenagem aos estúdios Disney e Warner, capitaneada pelo Spielberg e sua sócia, Kathleen Turner, que faz a voz da maior femme fatale animada de todos os tempos, Jessica Rabbit (coitada da Betty Boop). E os curtas animados que vêm no DVD também são ótimos.

    Bem menos interessante, mas não desprezível, é o recente "Looney Tunes: Back in Action", outro que mistura animação e "live action". É um filme menor do Joe Dante, cineasta respeitabilíssimo, aqui limitado por o projeto ser estritamente infantil. O elenco ilustre (Brendan Fraser, Steve Martin e Joan Cusack, em especial) fica eclipsado pelos personagens animados.

    Ainda falando em animação: finalmente vi "Toy Story". É um grande filme, ponto. O fato de a animação em 3D ter sido revolucionária não é o que lhe sustenta; trata-se de um primor de direção e de roteiro. O filme não tem vilão!

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    Sou pródigo em não ter visto filmes "que todo mundo viu". Outro sucesso que finalmente passou em frente aos meus olhos foi o "Friday the 13th" original (sim, eu consegui passar os anos 80 sem ter visto nenhum filme da série _eu gostava do Freddy Krugger e do Stallone). Trata-se de um arremedo vagabundo do ótimo "Halloween", do John Carpenter. O roteirista é tão débil mental que se limitou a copiar tudo quanto é filme de suspense e horror (há ecos de "Psicose" e "Carrie"), inclusive certos aspectos repugnantes, como o moralismo puritano aparentemente tão caro a uma boa parcela da humanidade. Como rendeu uma fortuna...

    Já "Phenomena" (1984), de Dario Argento, é divertidíssimo. Começa meio esquisito (as personagens falam e se explicam demais), mas depois engrena que é uma beleza. E é sempre bom ver Jennifer "Chora Que Eu Gosto" Connelly, aqui ainda ninfeta, acompanhada de Donald Pleasance. Fazem participações especiais o Michele Soavi (que também é assistente de direção) e a belezinha Federica Mastroianni, sobrinha do meu xará. Mas quem rouba o filme é a chimpanzé Tanga, no fabuloso papel de Inga! A trilha sonora é uma bizarrice à parte, tem até Iron Maiden (e o curioso é que funciona)!

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    Ainda nos anos 80: não sei por que gostei de "Sex, Lies, and Videotape", que revelou o Soderbergh, quando o vi pela primeira vez, em um jurássico VHS, há muitos anos. Tirando as atuações de James Spader e da interessantíssima e sumida Laura San Giacomo, não sobra muita coisa: a dramaturgia é fraquíssima, a trilha do Cliff Martinez é um saco (como de praxe) e não há nada de mais na mise-en-scène do diretor. Fogo-de-palha, envelheceu bem mal.

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    "Os Deuses e os Mortos" é o melhor dentre os filmes do Ruy Guerra que vi. Sua consagrada mise-en-scène, aliada à câmera de Dib Lufti, está próxima da perfeição, e o texto tem força inédita em sua obra. O elenco todo é espetacular, com destaque para Nelson Xavier, Ítala Nandi mais bela do que nunca e os monstruosos Othon Bastos e Dina Sfat, impressionantes. A trilha sonora de Milton Nascimento (que, muitíssimo jovem e com cara de Madame Satã, faz uma ponta) e Som Imaginário é sublime. Tive arrepios durante todo o filme e volta e meia eu percebia que estava boquiaberto...

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    Falando em boquiaberto... Há quaquilhões de motivos racionais para abominar "Check On It", o novo videoclipe da Beyoncé (que, aparentemente, não cansou de ser sexy): ela vem embrulhada como uma Mariah Carey negra, fazendo caras e bocas de boneca, ensinando as menininhas da "América" a dar mole para a cachorrada, mas sendo moralista ao mesmo tempo etc. etc. O problema é que basta o desgraçado começar a passar que sou obrigado a parar tudo o que estou fazendo e ficar assistindo, até o final, a este pequeno "pesadelo" cor-de-rosa. É impossível derrotar Beyoncé.

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