A gruta é mais extensa do que a gruta

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    segunda-feira, maio 01, 2006

    Filmes vistos em abril de 2006

    Mês do quarto aniversário deste endereço também foi mês de filmagem. Uma semana muito difícil, cansativa, mas, espero, recompensadora (o filme é despretensioso, orçamento baixíssimo, equipe amadora _com exceção do elenco, só feras_, mas estou confiante de que vai sair acima da média da produção atual de curtas no Brasil _o que, infelizmente, não é proeza difícil). Mesmo com tanta coisa acontecendo (estudos, leituras e outras atividades), deu tempo de ver alguns filmes, comentados brevemente (uns quase telegráficos, devido ao pouco tempo) a seguir. Dentro de alguns dias, como prometido, publico aqui algumas fotos tiradas no set de filmagem de "A Volta do Regresso".

    Cidade Baixa: Bom filme do Sérgio Machado, embora em um ou outro momento ele nos lembre dos defeitos do Walter Salles. O final é bastante interessante, me agrada demais a estrutura do triângulo (que, de certa forma, guia "A Volta do Regresso", embora exista uma eminência parda pairando por ali), estou prestes a rever "Três Homens em Conflito"...

    Mario Puzo's The Godfather: Não faço idéia de quantas vezes vi este filme, mas foi a primeira vez que o fiz prestando atenção à sua forma _que é extremamente simples: câmera estática durante quase todo o tempo (quando se mexe, é uma panzinha aqui ou ali), corte seco (alguns fades), uma enorme preocupação em deixar o enredo muitíssimo claro (engraçado, conheço muitos desafetos do cinema narrativo que, no entanto, pagam pau para o Coppola _vá lá, eles devem gostar mais de "One from the Heart" e "Rumble Fish"), enfim, um "clássico moderno" (se é que isso faz algum sentido). Eu nunca tinha me tocado de que o velho policial McCluskey era interpretado pelo Sterling Hayden, irreconhecível. Na cena do enterro da personagem de Marlon Brando (que faria aniversário no dia em que escrevo este texto), um reflexo de uma mulher fica especialmente evidente quando o terno escuro vestido por Al Pacino preenche a tela.

    Mario Puzo's The Godfather Part II: A segunda parte da série é menos rigorosa (poderia facilmente ser mais curta, sem prejuízo da narrativa) e mais folhetinesca que sua antecessora, que considero superior (contrariando muita gente por aí). Brando faz uma falta tremenda (Coppola chegou a pensar em chamá-lo para interpretar também o jovem Vito, mas ficou impressionado com De Niro ao vê-lo em "Mean Streets"), obviamente não é a mesma coisa sem ele. Acredito que o resultado teria sido melhor se o estúdio tivesse deixado Martin Scorsese dirigi-lo, como era a vontade do Coppola, que queria apenas produzir. O filme traz uma das raras aparições em cinema do Lee Strasberg, famoso por ter sido diretor do Actor's Studio.

    Mario Puzo's The Godfather Part III: A terceira parte da série é a de atmosfera bem mais leve (até a fotografia do Gordon "Prince of Darkness" Willis reflete isso) e sentimental que as anteriores. Michael Corleone se dá ao luxo de sorrir, declarar e demonstrar amor e até fazer brincadeiras (no anterior, sua frieza é assustadora), mas não só isso; Coppola parece fazer questão de trazer para esta terceira parte o máximo de coadjuvantes que apareciam nos antecessores (e que, obviamente, não foram assassinados); até o padeiro Enzo aparece. Também chama a atenção a memorabilia em volta da Apollonia. O coadjuvante veterano e de luxo da vez é o grande Eli Wallach, como Don Altobello.

    Faces: Gena Rowlands está linda!

    Equilíbrio e Graça: O curta-metragem que vem no DVD de "Garotas do ABC" é melhor do que o longa. Belíssimo!

    9 Songs: O enredo é um fiapo, e as personagens têm a profundidade do cuspe de um piolho, mas não é este o problema do filme; é que Winterbottom (diretor do lixo "24 Hour Party People") parece que não sabe filmar, que não sabe enquadrar, que não sabe mover a câmera, que não faz idéia do que seja narrar cinematograficamente. Como pode um filme com este título não ter o menor ritmo? Para que mostrar duas pessoas feias, desinteressantes e que trepam mal? Qualquer pornô vale mais do que esta total perda de tempo.

    Mat: A célebre adaptação para o cinema do ainda mais célebre romance de Gorki é talvez o caminho mais claro para entender as teorias do Pudovkin sobre a montagem. Além disso, a história é mostrada de forma realmente emocionante (a trilha composta em 1968 ajuda neste sentido, mas são as imagens de Vera Baranovskaya as mais pungentes).

    V for Vendetta: A versão de um trabalho menor, mas ainda assim muito bom, de Alan Moore para o cinema não impressiona muito, embora também não revolte os admiradores do escritor (entre os quais me incluo há mais de 15 anos). O que realmente chama mais a atenção é o momento político em que este filme é lançado (algo impensável há meros quatro anos...). Perde-se algo de muito importante quando, mesmo sem ser visto (ou melhor, visto obscurecido e disfarçado), V ganha um rosto e um nome _o de Hugo Weaving, bom ator.

    The New World: Wagner! Mozart!

    Il Buono, il Brutto, il Cattivo: "Era uma Vez no Oeste" foi um imenso avanço em relação a este, que já mostra um grande cuidado do Leone (mestre ao contrapor closes e planos gerais) ao retratar uma história bem simples em meio à Guerra de Secessão dos EUA. Algumas (na verdade, muitas) cenas são jóias, pessoalmente destaco a do o encontro de Tuco (Eli Wallach rouba o filme o tempo inteiro) com seu irmão Pablo e a do capitão bêbado. A trilha, que conheço desde pequenininho e ouvi na abertura de um show dos Ramones, vale ouro.

    Peau D'Âne: Duas supresas desagradáveis: o filme tinha, sem aviso prévio, sido remanejado da sala 2 para a sala 4 do Espaço Unibanco (sinal de que não está fazendo público); a projeção era digital, o que o jornal não informava. Mesmo assim, é óbvio que ver a Deneuve absolutamente deslumbrante neste encantador filme do meu amigo Demy (fotografia e direção de arte fantásticas, efeitos todos na câmera, um cuidado extremo e raro) foi um deleite. Delphine Seyrig está maravilhosa como a fada madrinha bastante suspeita...

    The Damned Don't Cry: Filme de gângsters da Warner razoavelmente ordinário, inspirado em Bugsy Malone, que só gera algum interesse por causa de sua estrela, Joan Crawford. O filme todo é baseado em seu magnetismo, e é a única razão para vê-lo.

    Garotas do ABC: Gostei mais do filme ao revê-lo em DVD: a força do texto se sobressai (uma mescla de honestidade _a ponto de soar ingênuo, às vezes_ e nostalgia dão o tom), certas personagens (como o jornalista, o matador, a velha do Genebra e os neo-integralistas _as operárias, justamente as personagens-título, são as menos interessantes, talvez prejudicadas pela má atuação de algumas delas) são ótimas e o painel formado é como um mosaico um tanto impressionista: dá vontade de ficar olhando... A trilha sonora é ótima, e a nudez da Aurélia é um colírio.

    Cape Fear: J. Lee Thompson pegou o bonde andando nesta produção de Gregory Peck, baseada num romance chamado "The Executioners", e tudo o que conseguiu foi fazer um sub-sub-sub-Hitchcock (nas mão de quem, provavelmente, sairia mais uma obra-prima). O óbvio destaque é a inesquecível trilha sonora de Bernard Herrmann. O remake de Scorsese é muito melhor (vi ontem por R$ 20 nas Lojas Americanas), embora não seja um dos meus favoritos do diretor.

    The Comancheros: O último filme de Michael Curtiz é um desses westerns antiquados e chatinhos, com aquela indiarada cavalgando pra lá e pra cá, caindo de seus cavalos ao serem alvejados por dois ou três gatos pingados, que deixavam o Marlon Brando puto. Apesar do carisma de John Wayne, o filme só se torna interessante quando Lee Marvin está na tela (a química entre ambos é perfeita).

    Goodfellas: No DVD de extras, o Richard Linklater diz que este filme só se revela como obra-prima lá pela terceira ou quarta vez que você o vê. Como se trata apenas da minha segunda vez (sendo que a primeira havia sido há mais de dez anos), ainda gosto mais de "Casino" e "Mean Streets". Mas momentos fortes não faltam, e não há dúvida de que se trata de um grande filme.

    Le Million: Filme do René Clair bem do início da fase sonora. Comédia musical que envelheceu muito mal.

    Brasília 18%: Não sabia o que esperar do filme, mas, ao fim, me decepcionou, embora não seja ruim. Achei morno, mal-escrito, e Othon Bastos está atuando mal. A Malu Mader está tão feia... Já Bruna Lombardi ainda bate uma bola, e Karine Carvalho é um colírio. A tal da Mônica Keiko é bonitinha, mas sequer pode ser chamada de atriz... Mesmo assim, um filme a não perder.

    Corpse Bride: Mais um belo projeto do Tim Burton. Divertido, caprichado, repleto de personagens interessantíssimos, defendidos por um elenco de primeira. Emocionante.

    Il Sorpasso: Filme de Dino Risi que fez a fama de Vittorio Gassman (eu prefiro "...Brancaleone"). Road-movie que, além de divertido, funciona bem como documento da época (comportamental, acima de tudo). É uma delícia quando a personagem de Gassman diz que tirou um bom cochilo ao ver "O Eclipse" do Antonioni...

    The Three Burials of Melquiades Estrada: O tex-mex de Tommy Lee Jones funciona tanto como drama localizado como retrato de um problema político secular. O roteiro do Arriaga supera "Amores Perros" e "21 Gramas". Quem rouba o filme é Melissa Leo, séria candidata a melhor atriz coadjuvante do ano (destaques também para Dwight Yoakam _que também colabora na trilha sonora_ e o velhinho cego de Levon Helm, ex-baterista da The Band). A cena ao som de um Chopin claudicantemente executado por uma criança mexicana num piano desafinadíssimo é um achado. Antes da sessão passou o trailer de "Árido Movie", deu vontade de ver.

    O melhor: "Mario Puzo's The Godfather"; o pior: "9 Songs".

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