A gruta é mais extensa do que a gruta

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    quarta-feira, agosto 24, 2011

    Regresso à "Volta"

    A 48ª edição da revista eletrônica "Zingu!" faz uma mais que merecida homenagem a um artista de primeira categoria, o ator, diretor, dramaturgo e escritor Ênio Gonçalves. Para minha alegria e honra, "A Volta do Regresso" foi incluído na filmografia selecionada e ganhou um texto analítico honesto (generoso, mas sem ser condescendente _ fiquei especialmente feliz com as observações sobre aspectos da fotografia, da decupagem, da cenografia, da música, etc.) de Cid Nader, do Cinequanon. O link está aí e eu recomendo o clique _ mas como não confio tanto na durabilidade neles, peço licença para reproduzir o texto aqui, para fins de arquivo:

    "Lançado no ano de 2007, A Volta do Regresso parece um estímulo à compreensão e observação de um gênero que tem ganhado seu justo reconhecimento a cada golfada de novos cinéfilos, e de um certo movimento crítico, mais propensa a entender melhor as nuances (e evidente riqueza) de nosso cinema “pré-acabamento à Globo Filmes”. Como não é possível deixar de lembrar do profícuo período da pornochanchada (algo que se estendeu mais fortemente do início dos 70 aos meados dos 80 – chutaria, para não querer enclausurar tal “escola” em períodos rígidos) como uma marca de nossos pendores à apreciação da beleza, não é justo deixar de lado uma das razões de sua maior fartura no período citado decorrendo das obstruções que o período da ditadura militar impôs aos trabalhos que ameaçassem abertamente citá-la com “intenções contra-revolucionárias”.

    Mas, talvez, a maior marca mesmo (para os conhecedores e para os que passearam superficialmente pelo estilo) esteja na figura de alguns atores que são reconhecidos em suas carreiras (para o bem e para o mal, já que muitos “sofreram” com a pecha de um estigma meio maldito) por serem presenças constantes nas produções mais conhecidas que brotaram dali. E Marcelo Valletta, reverente ao modelo, provável adorador do período, e, certamente, agindo como um arrogador das virtudes de figuras que considera mais importantes do que as “notáveis do brilho fácil”, fez esse seu curta-metragem amparado fortemente nas presenças pra lá de icônicas de Ênio Gonçalves e de Carlo Mossy – com uma leve e bem-vinda canja para a bela figura de Kate Hansen (sonho de consumo de muitos meninos).

    Ao contar a história de um diretor novato que vai à busca de um ator/ídolo/”incompreendido” (Mossy nos tempos atuais) para interpretar um papel numa nova produção, Valletta faz de Ênio Gonçalves uma espécie de guru/produtor e determina um trabalho que se nutre dos mais variados elementos que o cinema da época da pornochanchada utilizou. Além da escancarada homenagem a esses três atores – que é bela porque se faz a partir da devoção a eles ultrapassando as posições ante as câmeras, para se fixarem também na figura do personagem/diretor (uma representação evidente do fascínio do diretor real, que ganha corpo e voz no fictício) -, A Volta do Regresso tenta em outras instâncias similaridades nas excelências de então: os modelos de angulação das lentes em muitos instantes têm a mesma busca, por prismas dos mais repetidos, e limpidez das imagens (aí com obtenção auxiliada pelo modelo de iluminação e vigor nas cores) – há também ousadia bastante interessante num travelling pendular que se faz entre dois cenários, e um belo close de Mossy, tomado de cima, que consegue um resgate mais iluminado do rosto marcado pela idade com inteligência na captação do brilho de seus olhos azuis -; a música quase de elevador que retoma muito do que se fazia então; o humor meio “sacana”, sem ser escancarado, mais malandro; a pinga sendo bebida no lugar do whisky num típico bar urbano de então…

    Longe de ser revolucionário, sua força está totalmente na ideia de ser reverente e evocador de um modelo muito específico, com complementações evidentemente obtidas por aprendizado em escola de cinema. E não bastassem tais reverências em filme, ainda há uma outra logo no início dos créditos finais, com louvável citação em homenagem a Guará Rodrigues (que extrapolou as fronteiras, indo ao cinema marginal e ao trash, também)."

    Eu poderia escrever uma réplica, apontando alguns pontos com os quais não concordo, mas isso me parece infrutífero, porque não há falha nenhuma na recepção do crítico, mas sim na minha transmissão. Reconheço os defeitos desse filme que às vezes o fazem ser tomado por algo que não foi minha intenção original e guardo com cuidado as lições aprendidas no decorrer desse desejado e doloroso processo. Espero poder utilizá-las em projetos futuros. Afinal, não desisto nunca.

    ***

    Uma sessão lotada no fim de semana de estreia e uma folga muito adiada fizeram com que eu visse "A Árvore da Vida", o quinto longa de Terrence Malick, em condições não muito favoráveis: pessoas (incluindo crianças) abandonando a sala durante o tempo todo, conversas paralelas pipocando, muitas ofensas durante e ao final do filme (neste ponto, uma senhora exclamou um irônico "Graças a Deus!") e até um homem roncando atrás de mim. Fiquei devendo uma revisão a esta obra vista de maneira tão desconfortável, mas é verdade que parte desse desconforto veio também da tela: eu me incomodei bastante com o que já estão chamando de "descanso de tela do Windows" ("Só tem paisagem!", reclamou uma senhora para uma amiga, na saída) por ter achado a conjunção daquelas imagens e daquelas músicas um tanto convencional, o que nunca senti vendo outros trabalhos do diretor _ até mesmo aquele de que menos gostei, "Além da Linha Vermelha". Mas não me desagradam as relações que o filme faz com a Bíblia (em especial com o Livro de Jó, com o qual Malick parece se identificar, com o personagem de Jack O'Brien _ J.O.B. _ sendo testado por seu pai, ou seja, Deus) e com sua biografia (o diretor perdeu um irmão, violonista, que se suicidou ainda jovem). Enfim, neste primeiro contato, não saí achando que vi uma obra-prima, mas também não o considero uma bobagem "new age" (ainda se fala assim? Quantos anos tem esse termo, uns 20?). E como Malick fez apenas 5 longas, não é grande problema eu fazer um top 5 do diretor, que, até a revisão de seus filmes, fica assim:

    1 - Badlands
    2 - The New World
    3 - Days of Heaven
    4 - The Tree of Life
    5 - The Thin Red Line

    5 comentários:

    Fábio Valeta de Lima disse...

    Acho que o único dele que não cheguei a ver foi o "Days of Heaven". Dos outros, o meu preferido é "The New World"

    Marcelo V. disse...

    Eu preciso rever "Days of heaven", muitos dizem que é o melhor e é bem possível que estejam certos.

    ANTONIO NAHUD disse...

    Parabéns pelo blog.
    Cumprimentos cinéfilos.

    O Falcão Maltês

    Marcelo V. disse...

    Valeu, companheiro, volte sempre.

    Just Daniel disse...

    1-Dias de Paraíso
    2-Além da Linha Vermelha
    3-Badlands
    4-Three of Life
    5-Novo Mundo

    Na platéia